National Geographic - Portugal - Edição 233 (2020-08)

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No entanto, o embalsamamento e o sepulta-
mento não assinalavam o fim da viagem da mú-
mia. Além de exercerem funções como sacerdotes
e agentes funerários, os antigos embalsamadores
egípcios também eram agentes imobiliários.


ENQUANTO OS FARAÓS e os membros da elite eram
mumificados e sepultados em caixões ornamentados
e túmulos espaçosos repletos de artigos funerários,
a investigação de Ramadan Hussein mostra que os
antigos agentes funerários ofereciam pacotes com
desconto adequados a todas as bolsas. Utilizando a
gíria empresarial da actualidade, o negócio era ver-
ticalmente integrado, oferecendo todo o tipo de
serviços, desde evisceração de cadáveres e seu sepul-
tamento ao cuidado e manutenção das almas dos
falecidos. Tudo por um preço, evidentemente.
A poucos passos da oficina de mumificação de
Sakara, os arqueólogos descobriram um segundo


poço, com acesso a seis túmulos. No interior des-
sas câmaras, encontraram mais de cinquenta mú-
mias. No fundo do poço, os sepultamentos eram
mais sofisticados. Uma das sepulturas incluía
uma mulher dentro de um sarcófago que pesava
quase sete toneladas. Na câmara vizinha, outra
mulher tinha o rosto revestido com uma máscara
de ouro e prata: foi a primeira máscara do género
descoberta no Egipto em mais de meio século.
No entanto, o complexo também acolhia egíp-
cios de classe média ou operária, enterrados em
caixões de madeira simples ou envoltos em teci-
do e depositados em caixas de areia.
Recorrendo a ferramentas de mapeamento
tridimensional, Ramadan Hussein reconstituiu
a disposição das sepulturas. As suas conclusões
confirmam a informação sugerida por papiros re-
cuperados em Sakara há mais de um século que
davam conta de embalsamadores intrépidos que
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