Valor Econômico (2020-08-01, 02 e 03)

(Antfer) #1

JornalValor--- Página 4 da edição"03/08/20201a CADB" ---- Impressa por LGerardi às 02/08/2020@20:21:


B4|Valor|Sábado,domingoe segunda-feira, 1, 2 e 3 de agosto de 2020

EnergiaRosatomestudacooperação com companhias


brasileiras para apresentarpropostaao EPC da usina


Grupo russo quer

parceiro na disputa

por obra de Angra 3

Ivan Dybov: decisão serátomadaquando BNDESdefinir empresa que fará a auditoria e tivermos conhecimento do projeto

LEO PINHEIRO/VALOR

RodrigoPolito
Do Rio

A giganterussada indústria
nuclear Rosatomestuda costu-
rar parceriacom empresas brasi-
leirase, eventualmente, com ou-
tros gruposinternacionaispara
disputar o contratode EPC (sigla
em inglêspara o pacotede enge-
nharia,compraseconstrução)
paraaconclusão da usinanu-
clearde Angra3. Acompanhia
também acompanhade pertoo
plano do governobrasileirode
expansãoda geraçãode energia
nuclear no país no futuro.
O modelo de conclusãode
Angra3 por meioda contrata-
ção de um “epecista” estava con-
tido em relatório do comitêin-
terministerial sobre a usina,
aprovadoem junho pelo Conse-
lho do Programa de Parceriade
Investimentos (PPI). O próximo

passoagoraenvolveacontrata-
ção peloBNDESde consultorias
especializadasparafazera“due
diligence” (auditoria técnicae
contábil)doprojetoedefiniro
montante de recursos necessá-
rios paraconcluiro empreendi-
mento.Estima-se que o valorne-
cessárioparaterminarAngra 3
seja da ordemde R$ 15 bilhões.
“Estoumuitoimpressionado
de comoo ministrode Minase
Energia [BentoAlbuquerque], a
EletronucleareaEletrobrases-
tão avançandoparaconcluires-
se projeto. Apesarda covid,mui-
tas coisasforam feitas”, afirmou
aoValoro presidente da Rosa-
tom paraa América Latina,Ivan
Dybov. “O próximopassoserá o
BNDES escolher a companhia
parafazer adue dilligence. Va-
mos tomar nossadecisão [de
disputar o contrato de EPC]
quandotivermosessa informa-

ção etivermosum entendimen-
to completosobreo projeto”.
Dybov, porém, está certode
que,seogrupodecidirdisputaro
contrato,issoenvolveráumapar-
ceriacom empresas locais.“Cada
fornecedortemquepensarsobre
todososriscoseanalisarasinfor-
mações paratomaradecisão.
Mas estamoscertosde que é im-
possívelfazeresse projetosem
grande cooperaçãocom compa-
nhias brasileiras”,afirmou. A
companhia russajá possuium
acordo assinado com a Camargo
Corrêa Infra(CCI),empresa con-
trolada da MoverParticipações
(ex-CamargoCorrêaS.A.)
O grupo também não descarta
a formação de um consórcio com
outras companhias internacio-
nais.Umexemplodessemodeloé
a sociedade estabelecida coma
francesa Framatome e com a
americanaGEparaconstruçãode

umausinanuclearnaBulgária.
O executivo tambémelogioua
formacomoogoverno incluiua
energia nuclear na versão prelimi-
nar do Plano Nacional de Energia
(PNE)2050, que está em consulta
pública peloMinistério de Minas e
Energia. Em vez de determinar
quantas novas usinasnucleares de-
verão ser construídas nos próximos
30 anos,o documento estabeleceu

apenas o total da capacidade insta-
lada prevista para aumentarno pe-
ríodo,algoentre 8e10gigawatts
(GW), oequivalente aquatro ou
cincovezes o parquegeradornu-
clear atualdo país.Segundo ele,
nesse montante, épossívelcons-
truir grandes usinas nucleares e
plantas modularesde menorporte,
os “small modular reactors”(SMR).
Na área de medicina nuclear,a

companhia tambémfornece isó-
toposparao Brasil. Segundo Dy-
bov,osproblemaslogísticosparaa
entrega de isótoposocorridos no
inícioda pandemia edas medidas
de distanciamento social já foram
solucionados. Neste ano, ele assu-
miu a vice-presidência para medi-
cinanuclear da AssociaçãoBrasi-
leira para oDesenvolvimento de
AtividadesNucleares(Abdan).

Itaú garante consumo de eletricidade


100% renovável com compra de RECs


Letícia Fucuchima
De São Paulo

Na buscapor políticasmais
sustentáveis, o Itaú Unibancoga-
rantiu a origemlimpa e renová-
vel de 100%da energiaelétrica
consumidaem seus prédios ad-
ministrativos, agências e data
centers no ano passado.Ameta
foi alcançada coma comprade
547 mil RECsBrazil, certificados
que rastreiamos megawatts-ho-
ra consumidose garantemque
eles provêmde umafontereno-
vável. A transação,cujo valornão
foi revelado, foi fechadacomo
grupoVoltalia,apartirda ener-
gia geradapor sete usinaseólicas
noRioGrandedoNorte.
Alémdachancelarenovável,os
documentosadquiridospeloItaú
carregam outro selo, de sustenta-
bilidade, já que as usinas da Vol-
taliaatendemapelomenoscinco
dos 17 objetivos de desenvolvi-
mentosustentáveldaONU.
AoValor,odiretordePatrimô-
nio eComprasdo Itaú Unibanco,

ClaudioArromatte, disseque o
bancopretenderealizar novas
comprasde RECspara continuar
garantindo um consumo de
energiaelétrica100%renovável.
“Essa éuma estratégia que está
alinhadaaos nossos‘Compro-
missos de Impacto Positivo’,
agendalançada em 2019,ejáte-
mos contrato paraos próximos
anos”. Oexecutivo acrescenta
que o bancotem aindaoutras
iniciativas de ecoeficiência,co-
mo a compensação das emissões
de gasesde efeitoestufa,eno se-
tordeenergia,aexemplodasusi-
nas de geraçãodistribuídafoto-
voltaicaqueabastecem arede de
agênciasemMinasGerais.
O presidente da Voltalia no Bra-
sil, RobertKlein, afirmouque as
usinas do grupo já emitirammais
de 1milhãode RECspara correto-
ras internacionais egrandesem-
presas brasileiras. Recentemente,
outrosparquesdo clustereólico
SerraBranca (RN)foramautoriza-
dosaemitircertificados.
Coma agenda“ESG”ganhando

força, o volume de RECstransacio-
nados disparou. No primeiro se-
mestre, foram negociados1,9 mi-
lhãodecertificadosnopaís,contra
2,5 milhões em todo2019. A ex-
pectativa é que o ano encerre com
5milhões de emissões, segundo
Fernando Lopes, presidente do
Instituto Totum, órgãoresponsá-
velpelosdocumentosnopaís.
A mesma tendência pode ser
observada nos outros 33 países
quetambémusamosistemaado-
tado no Brasil, oI-REC Standard.
FazempartedessegrupoChina—
maioremissora,seguidadoBrasil
—, Índia,Rússia enações latino-
americanas. “O mercado pratica-
mente triplicou desde 2018. Em
2020, esperamos que sejam emi-
tidos20 milhõesde I-RECs no
mundo”,afirmaLopes.
A quantidade aindaé muito
inferiorao comercializadonos
Estados Unidos e na Europa:
nesses mercados, que adotam
sistemas própriosde certifica-
ção,as transações oscilam de
500 a 600 milhõesde certifica-

dos por ano. No entanto, o volu-
me émais expressivopor causa
de imposiçõeslegaisàs empre-
sas. “Lá existemexigênciasregu-
latórias,as empresassão obriga-
das a gerarou consumirenergia
renovável. Já nos paísesde siste-
ma I-REC,maisde 90% [das tran-
sações]étotalmente voluntária”,
observa o presidentedo Totum.
Acompradoscertificadostende
a atrair sobretudo empresas que
não conseguemrastrear seu pró-
prio consumo de energia, diferen-
temente do que acontececom
aquelas que investem na própria
geração ou que fazemacordosbi-
laterais com geradoras no merca-
do livre (ACL). No Brasil, os com-
pradores vêmde três grupos: com-
panhias que aderiram à iniciativa
RE100, as que reportam emissões
de gases de efeito estufa no Proto-
colo GHGeas que estãonos índi-
ces de sustentabilidade da B3 e da
NYSE. “O mercado de RECs deve
crescerbastantecomaaberturado
ACL, que permite a escolhada
Fonte:InstitutoTotum energiaconsumida”, dizLopes.

Selorenovável
Procurapor certificadode energiarenovável disparouno 1° semestre

0

600

1.

1.

2.

3.

Quantidadede RECsemitidosno Brasil- em mil

0,244 13,463 107,

229,5^338

2.531,

1.841,

2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020
(até14/07)

Das 123 usinas:

0

30

60

90

120

150

Nº de usinashabilitadasa emitirRECs

4

18

32

50

106

123

2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020
(até14/07)

75
Fonteeólica

75
Fonteeólica

25
Outras
(hidríca,solar
e biomassa)

7575
caca

que usamo sistema
I-RECStandard,
Brasilé o que temmais
usinasautorizadasa
emitircertificados

Dos
34 países

.

Divisão de saúdeda Siemens compraVarian por US$ 16 bi


GuyChazan
FinancialTimes,de Berlim

O grupoalemão de serviços de
tecnologia na área de saúdeSie-
mensHealthineersanunciou que
vai comprar a Varian Medical Sys-
temsem uma transação em quea
fabricante americana de dispositi-
vosesoftwareparatratamentosde
câncer é avaliada em US$ 16,4 bi-
lhões. Pelos termos do acerto feito
ontem, vai adquirir todas ações da
Varian aUS$ 177,50 cada, em di-
nheiro, que representa prêmio de
24% sobreo preço no fechamento

da Bolsa de Valores sexta-feira. A
transação, que seráfinanciada por
meio de emissão de dívida e venda
de ações, deve ser concretizada no
primeirosemestrede2021.
ASiemens Healthineersavaliou
queaaquisiçãoteráumefeitoposi-
tivo no lucro poração já nos pri-
meiros12 meses depois de o negó-
cio ser fechado.Ogrupoalemão
criou aHealthineerscomoempre-
saseparadaem2018,masmantém
uma participaçãode 85% epreten-
de continuarcomosua acionista
majoritária no longo prazo.A
Healthineers é especializadaem

serviçosdeimagemparaaáreamé-
dicaediagnósticoslaboratoriais.
A Varian é a lídermundial no
campodo tratamento de câncer,
em particular na radioterapia on-
cológica, eusa inteligênciaartifi-
cial, aprendizado de máquina e
análisede dadospara melhorar o
tratamentodocâncer.Elastêmtra-
balhado juntas desde2012 em
umaparceriadestinadaa aperfei-
çoaraterapiacontraocâncer.
A Siemensfará um empréstimo
pontede€15,2 bilhõesà Healthi-
neerspara financiara aquisição.A
Healthineers cobrirácerca da me-

tade dissocom aemissão de novas
ações, e o restante será refinancia-
do com emissão de dívidaforneci-
da pela Siemensoupor umade
suas subsidiárias.ASiemensinfor-
mouque sua participaçãona em-
presaseráreduzidaacercade72%.
O executivo-chefeda Healthine-
ers, BerndMontag, disseque o
acordoconquista“dois saltosde
umapassada”.“[É]umsaltonaluta
contraocâncereumsaltononosso
impacto geralna área de serviços
de saúde.”Acombinação“significa
maisesperança e menosincerteza
para pacientes, um parceiro ainda

maisforte paranossos clientese,
para asociedade,um serviço médi-
comaisefetivoeeficiente”,disse.
Dow Wilson,executivo-chefe da
Varian, disseque a transação“nos
deixacadavez maispertode reali-
zar nossa visão transformadora de
ummundosemmedodocâncer”.
No ano passado,aVarian,com
sedeemPaloAlto,naCalifórnia,re-
gistroureceitas de US$ 3,2 bilhões,
com uma margem operacional
ajustadadecercade17%.Temcerca
de10milpessoasnomundo.
Ao justificar a negociaçãocom a
Varian,aSiemens argumentouem

um comunicado que a prevalência
de câncer deve quasedobrar entre
2010e2030, com maisde 50% de
todosospacientestratadoscomra-
dioterapia, conformea AgênciaIn-
ternacionaldePesquisadoCâncer.
A Siemens informouque,como
resultadodo acordo,prevêsinergias
de ao menos€300 milhões anuais
noanofiscalde2025.AVarianconti-
nuaráa operarsob seu nome atual
(serámarcadaHealthineers).

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Eletrobras prevê dobrar investimentos, se privatizada


AndréRamalho
Do Rio

AEletrobrasprevê investir cerca
de R$ 6bilhões por ano até2035,
mas acredita que podedobraresse
montante,se for privatizada. A es-
tatal elétrica anunciou um novo
planoestratégicoparaospróxi-
mos quinze anos comdiferentes
cenários de negóciosecompers-
pectivas de investimentos de
R$ 12,6 bilhões anuais,caso a capi-
talizaçãodaempresaavance.
A expectativa do governo é
aprovar, no segundo semestre, o

projetodelei que autoriza adeses-
tatização da Eletrobras. O Ministé-
rio de MinaseEnergia mantém
conversas com oCongresso sobre
alguns pontos do PL. Essencial-
mente,aproposta éque seja feita
uma chamada de capital, com
aporte somente de acionistas pri-
vados. Assim, a participação esta-
tal na companhia cairia dos atuais
60%paraalgopróximode40%.
Oplano 2020-2035 da Eletro-
bras, divulgado no sábado, prevê
investimentosde R$ 95,3bilhões
emgeraçãoetransmissão,numce-
nário em que a empresa não é ca-

pitalizada. Num segundocenário,
em que a estatal é privatizada e ela
consegue fechar novoscontratos
paravendada energia de suas hi-
drelétricas em condições melho-
res, peloprocesso de “descotiza-
ção”, a previsão é investir R$ 201,
bilhões. Em ambasprojeções,a
companhiadestaca queadiscipli-
nafinanceiraseriamantidaeaala-
vancagem, medida pela relação
entre a dívida líquida e o Ebitda
(lucros antesde juros, impostos,
depreciação e amortização),per-
maneceriaabaixode2,5vezes.
Até 2024,aprevisãoé investir

R$ 32,5 bilhões,incluindoacon-
clusãoda construção da usinade
Angra3, em Angrados Reis (RJ).
Semcontaroprojetonuclear,são
esperadosR$18,5bilhões.
Dentre as diretrizes previstas no
plano estratégico, a Eletrobras
querconsolidarasualiderançaem
geração etransmissão. No caso do
setor de geração, ofoco está em
energias limpas, mas também em
oportunidades em térmicasagás.
Alémdisso, a empresa buscaráal-
cançaraliderançatambémnoseg-
mentodecomercialização.
A Eletrobrasdestaca, no plano,

que odesafio, no momento, éele-
varacapacidadedeinvestimentoe
criar maisvalor paraos acionistas.
A empresa lembraque, na década
de 2010, viu asua saúde financeira
ser abaladapelos impactos da MP
579/2012—queprorrogouascon-
cessões,àépoca,sob novas condi-
ções de remuneração. Comisso, a
companhia perdeu participação
de mercado, com poucas partici-
pações em leilões, e gerou menos
resultadosparaosseusacionistas.
O plano da Eletrobras também
faz considerações sobre os impac-
tos da pandemiada covid-19,den-

tre os quaisa reduçãode “magni-
tude ainda incerta”da demanda
de energia —oque pode levarao
adiamento de novos leilões eatra-
sosnosinvestimentosatuais.AEle-
trobras tambémcita umapoten-
cial postergação da discussão so-
bre o projeto de lei de moderniza-
ção do setor elétrico edo processo
de capitalização da estatal. “Po-
rém,acapitalização podeserum
caminhopara recuperação pós-
crise, tendo em vista a necessidade
de investimento em infraestrutura
para retomada do crescimento
econômiconopaís”, defende.

Empresas|Infraestrutura

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