Clipping Banco Central (2020-08-03)

(Antfer) #1

Banco Central do Brasil


Valor Econômico/Nacional - Finanças
segunda-feira, 3 de agosto de 2020
Banco Central - Perfil 1 - Banco Central

e a carga tributária. Mas a projeção de curto
prazo é muito parecida com a do governo, que
tem feito estimativas muito realistas. Déficit
primário de 11% ou 12% do PIB neste ano,
com a dívida chegando a 95% ou 96% do PIB.
Essa questão tem trazido menos apreensão no
mercado, a questão principal é saber o que vai
acontecer no ano que vem. Será que a
atividade econômica vai conseguir sustentar
uma recuperação em ‘V’ se tiver uma contração
fiscal de 5 ou 6 pontos do PIB? Por isso, eu
acho que, apesar da sequência de notícias
positivas de curto prazo em várias frentes nas
últimas semanas, as incertezas no médio prazo
são muito grandes. Ou porque é difícil
sustentar o crescimento sem suporte fiscal, ou
porque a continuidade da expansão fiscal
coloca em risco os ativos financeiros.


Valor: Por que a curva de juros brasileira está
tão inclinada?


Akira: Existe uma inclinação natural da curva
de juros pela percepção de que a política
monetária está extraordinariamente
estimulativa. Os juros de curto prazo estão
abaixo do nível estrutural e, assim, a estrutura
da curva de juros reflete a visão de que deveria
acontecer alguma correção. É uma inclinação
que embute algum risco fiscal, mas que não
contempla um risco de quebra do teto de
gastos ou de uma mudança estrutural mais
forte. Entre os emergentes, talvez uma
comparação interessante seja com o México. O
presidente mexicano é considerado um
populista de esquerda, mas a expansão fiscal
dele foi bem mais tímida do que governos
liberais e o ritmo de cortes de juros tem sido
bem menos agressivo do que em outros
países. Por isso a inclinação menor da curva
de juros. No caso do Brasil, o que pesa mais é
a questão fiscal. Se o BC tivesse sido menos
agressivo no corte de juros, certamente a curva
estaria menos inclinada, mas, ainda assim,


haveria uma inclinação significativa diante dos
riscos fiscais.

Valor: O cenário permite ao Comitê de Política
Monetária [Copom] do Banco Central efetuar
novos cortes na Selic?

Akira: Os indicadores de atividade de curto
prazo são bons. A percepção de que os
estímulos estão sendo eficazes para conter a
queda da demanda já aparece tanto em
indicadores de confiança quanto nos efetivos,
como arrecadação de impostos e vendas no
varejo, mas acho que ainda há muita incerteza
de médio prazo. A questão da sustentabilidade
do crescimento no médio prazo, aliada ao fato
de que a aceleração inflacionária prevista pelo
Copom no curto prazo não está acontecendo,
abriria espaço para a entrega de um corte
residual mencionado no último comunicado.
Acho que esse espaço residual está se
mostrando factível, principalmente pela
frustração com alguma retomada das pressões
inflacionárias. O IPCA- 15 mostrou isso. Acho
que há espaço para o Copom cortar a Selic
em 0,25 ponto percentual agora. Mas,
realmente, no médio e no longo prazo, a
questão fiscal é predominante. Assumindo que
o teto será preservado ou que, se houver uma
flexibilização, será algo contido, o Copom pode
manter o juro em 2% por um período longo e
talvez começar um ajuste no fim do ano que
vem, já visando o cumprimento da meta de
2022.

Valor: Aos poucos, o Tesouro tem tentado
ofertar mais papéis prefixados de longo prazo.
Ele deve conseguir alongar o perfil da dívida?

Akira: De março até junho, houve uma
deterioração importante no perfil da dívida tanto
do ponto de vista de prazo médio quanto no
volume de compromissadas. Acho que é
natural, no momento em que o mercado
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