POR UMA OUTRA GLOBALIZAÇÃO (do pensamento único à consciência universal) Milton Santos

(mariadeathaydes) #1

sua operação? Para encontrar um começo de resposta, o primeiro passo é regressar às noções de
nação, solidariedade nacional, Estado nacional. De um ponto de vista prático, voltaríamos à idéia, já
expressa por nós em outra ocasião, da constituição de uma federação de lugares, com a reconstrução
da federação brasileira a partir da célula local, feita de forma a que o território nacional venha a
conhecer uma compartimentação que não seja também uma fragmentação. Desse modo, a federação
seria refeita de baixo para cima, ao contrário da tendência a que agora está sendo arrastada pela
subordinação aos processos de globalização.


16.O território do dinheiro


A queda-de-braço entre governos municipais e estaduais e o governo federal é mais que
uma discussão técnica para saber quem deve arcar com o ônus das dificuldades financeiras dos 27
estados e dos mais de 5.500 municípios. A questão é a federação e sua inadequação aos tempos da
nova história com a emergência da globalização. O que está em jogo é o próprio sistema de relações
constituído, de um lado, pelos novos conteúdos demográfico, econômico, social de estados e
municípios e a manutenção do conteúdo normativo do território, agora que face à globalização se
produz um embate entre um dinheiro globalizado e as instâncias político-administrativas do Estado
brasileiro.


Definições

O território não é apenas o resultado da superposição de um conjunto de sistemas
naturais e um conjunto de sistemas de coisas criadas pelo homem. O território é o chão e mais a
população, isto é, uma identidade, o fato e o sentimento de pertencer àquilo que nos pertence. O
território é a base do trabalho, da residência, das trocas materiais e espirituais e da vida, sobre os
quais ele influi. Quando se fala em território deve-se, pois, de logo, entender que se está falando em
território usado, utilizado por uma dada população. Um faz o outro, à maneira da célebre frase de
Churchill: primeiro fazemos nossas casas, depois elas nos fazem... A idéia de tribo, povo, nação e,
depois, de Estado nacional decorre dessa relação tornada profunda.
O dinheiro é uma invenção da vida de relações e aparece como decorrência de uma
atividade econômica para cujo intercâmbio o simples escambo já não basta. Quando a complexidade
é um fruto de especializações produtivas e a vida econômica se torna complexa, o dinheiro acaba
sendo indispensável e termina se impondo como um equivalente geral de todas as coisas que são
objeto de comércio. Na verdade, o dinheiro constitui, também, um dado do processo, facilitando seu
aprofundamento, já que ele se torna representativo do valor atribuído à produção e ao trabalho e aos
respectivos resultados.


O dinheiro e o território: situações históricas

Num primeiro momento trata-se do dinheiro local, expressivo de um horizonte comercial
elementar, abrangente de contextos geográficos limitados ou para atender às necessidades de um
comércio e de uma circulação longínquos, nas mãos de comerciantes itinerantes, avalistas do valor
das mercadorias. Tal mundo é caracterizado por compartimentações muito numerosas, mas um

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