das barreiras alfandegárias. Cabe perguntar, nessas circunstâncias, o que pode acontecer a uma
área agrícola que, mediante um desses processos, seja esvaziada do seu conteúdo econômico. Que
acontecerá, por exemplo, às novas áreas de agricultura globalizada do estado de São Paulo no caso
da mudança internacional da conjuntura da economia da laranja, do açúcar ou o álcool? E como,
diante de tal mudança, poderão reagir a região, o estado de São Paulo e a nação?
A apreciação das perspectivas abertas a essas áreas modernizadas, com tendência a
particularizações extremas, deve levar em conta o fato de que o sentido que é impresso à vida, em
todas as suas dimensões, baseia-se, em maior ou menor grau, em fatores exógenos. De um ponto de
vista nacional, redefine-se uma diversidade regional que agora não é controlada nem controlável, seja
pela sociedade local, seja pela sociedade nacional. É uma diversidade regional de novo tipo, em que
se agravam as disparidades territoriais (em equipamento, recursos, informação, força econômica e
política, características da população, níveis de vida etc.).
Ao menos em um primeiro momento e sob o impulso da competitividade globalizadora,
produzem-se egoísmos locais ou regionais exacerbados, justificados pela necessidade de defesa das
condições de sobrevivência regional, mesmo que isso tenha de se dar à custa da idéia de integridade
nacional. Esse caldo de cultura pode levar à quebra da solidariedade nacional e conduzir a uma
fragmentação do território e da sociedade.
As dialéticas endógenas
Há, todavia, uma dialética interna a cada um dos fragmentos resultantes. O produto (ou
produtos) com a responsabilidade de comando da economia regional inclui atores com diferentes
perfis e interesses, cujo índice de satisfação também é diferente. Dentro de cada região, as alianças e
acordos e os contratos sociais implícitos ou explícitos estão sempre se refazendo e a hegemonia deve
ser sempre revista.
O processo produtivo reúne aspectos técnicos e aspectos políticos. Os primeiros têm
mais a ver com a produção propriamente dita e sua área de incidência se verifica mormente dentro da
própria região. A parcela política do processo produtivo, ao contrário, relacionada com o comércio, os
preços, os subsídios, o custo do dinheiro etc., tem sua sede fora da região e seus processos
freqüentemente escapam ao controle (e até mesmo ao entendimento) dos principais interessados. É
isso que leva à tomada gradativa de consciência pela sociedade local de que lhe escapa a palavra
final quanto à produção local do valor.
Nessas circunstâncias, a cidade ganha uma nova dimensão e um novo papel, mediante
uma vida de relações também renovada, cuja densidade inclui as tarefas ligadas à produção
globalizada. Por isso, a cidade se torna o lugar onde melhor se esclarecem as relações das pessoas,
das empresas, das atividades e dos “fragmentos” do território com o país e com o “mundo”. Esse
papel de encruzilhada agora atribuído aos centros regionais da produção agrícola modernizada faz
deles o lugar da produção ativa de um discurso (com pretensões a ser unitário) e de uma política com
pretensão a ser mais que um conjunto de regras particulares. Todavia, tais políticas acabam, no longo
prazo e mesmo no médio prazo, por revelar sua debilidade, sua relatividade, sua ineficácia, sua não-
operacionalidade. O que reclamar do poder local vistos os limites da sua competência; que reivindicar
aos estados federados; que solicitar eficazmente aos agentes econômicos globais, quando se sabe
que estes podem encontrar satisfação aos seus apetites de ganho simplesmente mudando o lugar de