POR UMA OUTRA GLOBALIZAÇÃO (do pensamento único à consciência universal) Milton Santos

(mariadeathaydes) #1

V - LIMITES À GLOBALIZAÇÃO PERVERSA


Introdução


A análise do fenômeno da globalização ficaria incompleta se, após reconhecer os fatores
que possibilitaram sua emergência, apenas nos detivéssemos na apreciação dos seus aspectos
atualmente dominantes, de que resultam tantos inconvenientes para a maior parte da humanidade.
Cabe, agora, verificar os limites dessa evolução e reconhecer a emergência de certo
número de sinais indicativos de que outros processos paralelamente se levantam, autorizado pensar
que vivemos uma verdadeira fase de transição para um novo período.
Em primeiro lugar, o denso sistema ideológico que envolve e sustenta as ações
determinantes parece não resistir à evidência dos fatos. A velocidade não é um bem que permita uma
distribuição generalizada, e as disparidades no seu uso garantem a exacerbação das desigualdades.
A vida cotidiana também revela a impossibilidade de fruição das vantagens do chamado tempo real
para a maioria da humanidade. A promessa de que as técnicas contemporâneas pudessem melhorar
a existência de todos caem por terra e o que se observa é a expansão acelerada do reino da
escassez, atingindo as classes médias e criando mais pobres.
As populações envolvidas no processo de exclusão assim fortalecido acabam por
relacionar suas carências e vicissitudes ao conjunto de novidades que as atingem. Uma tomada de
consciência torna-se possível ali mesmo onde o fenômeno da escassez é mais sensível. Por isso, a
compreensão do que se está passando chega com clareza crescente aos pobres e aos países pobres,
cada vez mais numerosos e carentes. Daí o repúdio às idéias e às práticas políticas que fundamentam
o processo socioeconômico atual e a demanda, cada vez mais pressurosa, de novas soluções. Estas
não mais seriam centradas no dinheiro, como na atual fase da globalização, para encontrar no próprio
homem a base e o motor da construção de um novo mundo.


19.A variável ascendente


Os fenômenos a que muitos chamam de globalização e outros de pós-modernidade
(Renato Ortiz, Mundialização e cultura, 1994) na verdade constituem, juntos, um momento bem
demarcado do processo histórico. Preferimos considera-lo um período. Como em qualquer outro
período histórico, funcionam de forma concertada diversas variáveis cuja visão sistêmica é
indispensável para entender o que se está realizando. Também como em todo período, a partir de
certo momento há variáveis que perdem vigor, verdadeiras variáveis descendentes, e outras que
passam a se impor. São as variáveis ascendentes que revelam a produção de um novo período, isto

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