significativos. No fundo, a politica comercial aplicada dentro de cada império assegurava a política do
conjunto do mundo ocidental (M. Santos, A natureza do espaço, 1996, pp. 36-37 e pp. 152-153). O
exemplo mostra não ser certo que haja um imperativo técnico. O imperativo é político. Desse modo,
não há uma inelutabilidade face aos sistemas técnicos, nem muito menos um determinismo. Aliás, a
técnica somente é um absoluto enquanto irrealizada. Assim, existindo apenas na vitrine, mas
historicamente inexistente, equivaleria a uma abstração. Quando nos referimos à historicização e à
geografização das técnicas, estamos cuidando de entender o seu uso pelo homem, sua qualidade de
intermediário da ação, isto é, sua relativização.
No período da globalização, o mercado externo, com suas exigências de competitividade,
obriga a aumentar a velocidade. Mas a população em seus diferentes níveis, os pobres e os que
vivem longe dos grandes mercados obrigam a combinações de formas e níveis de capitalismo. É o
mercado interno que freia a vontade de velocidade de que já falava M. Sorre (Annales de géographie,
1948), porque todos os atores dele participam. Todavia, os dois mercados são intercorrentes,
interdependentes. Invadindo a economia e o território com grande velocidade, o circuito superior
busca destruir as formas preexistentes. Mas o território resiste, sobretudo na grande cidade, graças,
entre outras coisas, à menor fricção da distância. As pequenas e médias empresas locais têm mais
acesso potencial que, por exemplo, uma grande empresa de Manaus, pois podem alcançar uma parte
significativa da cidade (por exemplo, os supermercados menores). Contribuirá também para esse
maior acesso potencial o fato de estarem num meio que é um tecido e um emaranhado de normas
concernentes, o que torna essas empresas menos dependentes de uma única norma para subsistir.
Mas, com a globalização e seu imaginário comum ao da técnica hegemônica, uma e outra são dadas
como indispensáveis à participação plena no processo histórico.
Do relógio despótico às temporalidades divergentes
É fato, também, que, com a interdependência globalizada dos lugares e a planetarização
dos sistemas técnicos dominantes, estes parecem se impor como invasores, servindo como
parâmetro na avaliação da eficácia de outros lugares e de outros sistemas técnico. É nesse sentido
que os sistema técnico hegemônico aparece como algo absolutamente indispensável e a velocidade
resultante como um dado desejável a todos que pretendem participar de pleno direito, da
modernidade atual. Todavia, a velocidade atual e tudo que vem com ela, e que dela decorre, não é
inelutável nem imprescindível. Na verdade, ela não beneficia nem interessa à maioria da humanidade.
Para quê, de fato, serve esse relógio despótico do mundo atual? As crises atuais são, em última
análise, uma resultante da aceleração contemporânea, mediante o uso privilegiado, por alguns atores
econômicos, das possibilidades atuais de fluidez. Como tal exercício não responde a um objetivo
moral e, desse modo, é desprovido de sentido, o resultado é a instalação de situações em que o
movimento encontra justificativa em si mesmo – como é o caso do mercado de capitais especulativos –
tal autonomia sendo uma das razões da desordem característica do período atual.
Quando aceitamos pensar a técnica em conjunto com a política e admitimos atribuir-lhe
outro uso, ficamos convencidos de que é possível acreditar em uma outra globalização e em um outro
mundo. O problema central é o de retomar o curso da história, isto é, recolocar o homem no seu lugar
central.
Tal preocupação de mudança inclui uma revisão do significado das palavras-chave do