consistente e franco dos Estados e partidos políticos comunistas e leninistas. Ensinou a um
número incontável de pessoas, até mesmo a mim, que a democracia é uma pedra angular,
inegociável, de qualquer sociedade pós-capitalista na qual valha a pena viver ou pela qual valha a
pena lutar. Ao mesmo tempo, demonstrou o absurdo de equiparar capitalismo com democracia ou
de acreditar que as sociedades capitalistas, mesmo nas mais favoráveis circunstâncias, irão algum
dia abrir o acesso à informação ou à tomada de decisões para além das possibilidades mais estritas
e controladas. Não conheço outro autor, à exceção talvez de George Orwell, que tenha fustigado de
maneira tão sistemática a hipocrisia dos dirigentes e ideólogos de ambas as sociedades, a
capitalista e a comunista, que reclamam ser a sua a única forma verdadeira de democracia à
disposição da humanidade.
Nos anos 1990, todos esses elementos da obra política de Chomsky – do antiimperialismo e
da análise crítica da mídia aos textos sobre a democracia e o movimento dos trabalhadores – se
juntaram, culminando em obras, como a presente, sobre a democracia e a ameaça neoliberal.
Chomsky contribuiu muito para fortalecer a compreensão das exigências sociais da democracia,
recorrendo tanto aos antigos gregos como aos grandes pensadores das revoluções democráticas dos
séculos 17 e 18. Como deixa claro, é impossível ser ao mesmo tempo proponente de uma
democracia participativa e defensor do capitalismo ou de qualquer outra sociedade dividida em
classes. Ao avaliar as lutas pela democracia ao longo da história, Chomsky mostra também que o
neoliberalismo não é absolutamente algo de novo, senão a versão atual da longa guerra da minoria
opulenta pela limitação dos direitos políticos e do poder civil da maioria.
Chomsky talvez seja também o maior crítico do mito do mercado “livre” natural, este alegre
cântico sobre a economia competitiva, racional, eficiente e justa que é continuamente martelado em
nossas cabeças. Como assinala Chomsky, os mercados quase nunca são competitivos. A maior
parte da economia é dominada por empresas gigantescas que possuem um formidável controle
sobre seus mercados e que, portanto, praticamente desconhecem aquele gênero de concorrência
descrito nos livros de economia e nos discursos dos políticos. E essas empresas são, elas próprias,
organizações totalitárias que funcionam com critérios não-democráticos. O fato de a economia girar
em torno dessas instituições compromete gravemente a nossa capacidade de construir uma
sociedade democrática.
O mito do livre mercado também sugere que os governos são instituições ineficientes que
devem ser limitadas para não prejudicar a magia do mercado natural do laissez-faire. Na verdade,
como Chomsky enfatiza, os governos são peças-chave no sistema capitalista moderno. Eles
subsidiam prodigamente as grandes empresas e trabalham para promover os interesses
empresariais em numerosas frentes. O regozijo dessas mesmas empresas com a ideologia neoliberal
é, geralmente pura hipocrisia: querem e esperam que os governos canalizem para elas o dinheiro
dos impostos, que lhes proteja dos concorrentes, mas querem também que não lhes apliquem
impostos e que nada façam em benefício de interesses não-empresariais, especialmente dos pobres
e da classe trabalhadora. Os governos são hoje maiores do que nunca, mas sob o neoliberalismo já
não se mostram nem de longe tão preocupados em dar atenção a interesses extra-empresariais.
E não existe processo em que a centralidade dos governos e da formulação de políticas seja
mais visível do que a ascensão da economia de mercado global. Aquilo que os ideólogos dos
interesses empresariais apresentam como expansão natural do livre mercado para além-fronteiras
é, na verdade, rigorosamente o oposto. A globalização é o produto da ação de governos poderosos,
mariadeathaydes
(mariadeathaydes)
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