liberdade de comércio. Outra era o reconhecimento de que ela seria uma poderosa arma contra a
democracia e o Estado do bem-estar, que tinha um enorme apoio popular. A regulação do capital
permitiria aos governos implementar políticas monetárias e fiscais e sustentar programas sociais e
de pleno emprego sem o temor da fuga de capitais, conforme assinalou na época o negociador dos
Estados Unidos, Harry Dexter White, com a aprovação de seu colega britânico, John Maynard
Keynes. O livre fluxo de capitais, ao contrário, criaria o que alguns economistas internacionais
chamam de um “senado virtual”, no qual o capital financeiro altamente concentrado impõe as suas
próprias políticas sociais sobre populações refratárias e pune governos dissidentes com a fuga de
capitais.^90 Os supostos de Bretton Woods prevaleceram largamente durante os anos 1950 e 1960, a
“Época de Ouro”, com seus elevados índices de crescimento da economia e da produtividade e
ampliação do contrato social. Esse sistema foi desmantelado por Richard Nixon com o apoio da Grã-
Bretanha e, mais tarde, por outras grandes potências. A nova ortodoxia institucionalizou-se no
âmbito do Consenso de Washington. Seus resultados se coadunam muito bem com os temores dos
criadores do sistema de Bretton Woods.
No entanto, o entusiasmo despertado pelos “milagres econômicos” produzidos pela nova
ortodoxia vai declinando entre os administradores da economia global à medida que a multiplicação
de semidesastres, desde que os fluxos financeiros foram liberalizados nos anos 1970, começou a
ameaçar o “público interno” e também o público em geral. O Diretor econômico do Banco Mundial,
Joseph Stiglitz, os editores do Financial Times de Londres e outras figuras próximas aos centros de
poder começaram a reclamar medidas para regular os fluxos de capital, seguindo a liderança de
bastiões da respeitabilidade como o Bank for International Settlements. a Banco Mundial, de certa
forma, também reverteu o seu curso. Não apenas a economia global é muito pouco compreendida,
como vai se tomando difícil ignorar e consertar as suas deficiências mais sérias. Mudanças poderão
ocorrer, em direções imprevisíveis.^91
Voltando ao AMI, seus signatários ficarão “amarrados” durante vinte anos. Essa é uma
“proposta do governo dos Estados Unidos”, segundo o porta-voz da Câmara Canadense de
Comércio, também consultor sênior de investimentos e negócios da IBM Canadá, escolhido para
representar o país em debates públicos.^92
O tratado contém um efeito “catraca”, resultante das medidas de “pausa” e “recuo”. “Pausa”
significa que não se admite nenhuma nova legislação que possa ser interpretada como “não-
conforme” ao AMI. “Recuo” significa ‘que os governos devem se empenhar na eliminação de toda
legislação existente que possa ser interpretada como “não-conforme” ao AMI. Interpretação, em
todos os casos, é para você-sabe-quem. O objetivo é “amarrar os países” a arranjos que, com o
tempo, irão reduzir mais e mais a arena pública, transferindo poder para os “públicos internos”
autorizados e suas estruturas internacionais. Estas incluem uma rica coleção de alianças
empresariais para administrar a produção e o comércio, apoiando-se em estados poderosos cujo
papel é sustentar o sistema enquanto socializa os custos e os riscos das empresas transnacionais
baseadas no país – praticamente todas as corporações transnacionais, de acordo com estudos
técnicos recentes.
A data prevista para a assinatura do AMI era 27 de abril de 1998, mas, à medida que se
aproximava, tomava-se claro um provável adiamento devido aos crescentes protestos populares e às
disputas internas ao clube. De acordo com rumores vazados pelos órgãos do poder (principalmente
a imprensa de negócios estrangeira), essas disputas internas compreendem tentativas da União
mariadeathaydes
(mariadeathaydes)
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