Chomsky_Noam_-_lucro_ou_as_pessoas

(mariadeathaydes) #1

Européia e dos EUA de conceder certos direitos a estados-membros, esforços da União Européia
para conquistar algo parecido com o vasto mercado interno de que desfrutam as empresas sediadas
nos Estados Unidos, as ressalvas da França e do Canadá para manter um certo controle sobre suas
indústrias culturais (ameaça que é muito maior para os países menores) e as objeções européias às
formas mais extremas e arrogantes de intromissão norte-americana nos mercados, como a Lei
Helms-Burton.
O Economist revela ainda outros problemas. Questões ecológicas e trabalhistas, que “no início
mal apareciam”, estariam se tomando difíceis de suprimir. Está mais difícil conter os paranóicos e
catastrofistas que “querem inserir padrões elevados de trabalho e de proteção ambiental a serem
respeitados pelos investidores estrangeiros”, e cujos “intensos ataques, disseminados por uma rede
de sites da Internet, têm deixado os negociadores inseguros a respeito da forma como devem agir”^93.
Uma possibilidade seria ouvir os anseios do público. Mas essa hipótese não é mencionada: é
excluída por princípio, como antagônica à própria essência do negócio.
Se a data-limite for ultrapassada ou se a tentativa for abandonada, ainda não significaria que
todo o trabalho foi “em vão”, informa o Economist ao seu público. Muitos progressos foram feitos e,
“com sorte, partes do AMI podem servir de base para um acordo global sobre investimentos na
OMC”, que os recalcitrantes “países em desenvolvimento” talvez se sintam mais propensos a aceitar



  • depois de alguns anos sendo bombardeados pelas irracionalidades do mercado, da disciplina
    imposta às vítimas pelos senhores do mundo e de uma crescente consciência, por parte de
    elementos de suas elites, de que podem compartilhar dos privilégios concentrados se ajudarem a
    disseminar as doutrinas dos poderosos, não importa o quão fraudulentas, não importa o quanto
    outros tenham de pagar. É possível que “partes do AMI” tomem forma em algum outro lugar, talvez
    no FMI, com cuja discrição sempre se pode contar.
    Por outro lado, os adiamentos têm proporcionado à gentalha mais oportunidades de romper a
    “capa de segredo”.
    É importante que a população em geral procure descobrir o que está sendo preparado para
    ela. O empenho do governo e da mídia em manter tudo encoberto, exceto para o seu “público
    interno” oficialmente reconhecido, é certamente compreensível. Mas essas barreiras já foram
    superadas por ações públicas vigorosas e podem ser superadas outra vez.


Originalmente publicado em Z, em maio de 199 8,
sob o título “O Público Interno”,
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