A loucura da razão econônica- David Harvey

(mariadeathaydes) #1
112 / A loucura da razão econômica

dinamismo tecnológico e organizacional, com efeitos duradouros e acumulativos.
Marx entende que essa força se concentra no momento da valorização por moti­
vos muito particulares. Ela é moldada pela busca perpétua, sob o capitalismo, por
mais-valor relativo1.
Capitalistas sem concorrência uns com os outros vendem suas mercadorias a
um preço social médio. Aqueles que possuem uma tecnologia ou forma organi­
zacional superior em sua produção têm lucros extras (mais-valor relativo), pois
produzem a um custo individual de produção menor e vendem pela média social.
Inversamente, os que utilizam tecnologia ou forma organizacional inferior obtêm
lucros menores ou até mesmo prejuízos, e ou vão à falência ou são forçados a adotar
novos métodos. Os produtores em situação mais vantajosa têm um incentivo para
adotar métodos sempre melhores, de modo a garantir a sua fatia no mercado e
aumentar os lucros extras. Quanto mais ferrenha a concorrência, maior a probabi­
lidade de ocorrerem saltos de inovação, à medida que uma empresa passa à frente e
as demais correm para alcançá-la ou ultrapassá-la, indo além do mix tecnológico
e da forma organizacional que refletem a média social. As forças que moldam o
processo de trabalho no momento da valorização empurram incessantemente para
a elevação da produtividade da força de trabalho. Conforme a produtividade do
trabalho aumenta, o valor individual das mercadorias cai. Se houver um baratea­
mento dos bens salariais, o valor da força de trabalho (assumindo-se um padrão de
vida fixo) declina, deixando uma quantidade maior de mais-valor para o capital.
Todos os capitalistas têm a lucrar (mais mais-valor relativo) com a elevação da pro­
dutividade do trabalho na produção de bens salariais. O aumento do mais-valor
relativo às vezes pode vir acompanhado de um aumento no padrão de vida dos
trabalhadores. Tudo depende da força dos ganhos de produtividade e da maneira
pela qual os benefícios do aumento da produtividade são distribuídos entre capital
e trabalho. Uma pequena parte do mais-valor relativo volta para o trabalho para
que os trabalhadores possam adquirir uma quantidade maior de valores de uso,
enquanto a maior parte vai para o capital. Isso depende do estado da luta de classes
(com frequência os sindicatos negociam cláusulas de repartição de produtividade
nos contratos). O impulso de produzir mais-valor relativo sustenta a pressão inces­
sante por transformações tecnológicas e organizacionais na produção.
Para os capitalistas, as máquinas parecem ser o que de fato são: uma fonte de
mais-valor extra. Daí eles inferem que as máquinas são, portanto, uma fonte
de valor. Marx defende que isso não é possível. Máquinas são capital morto ou
constante e, como tal, não podem produzir nada por conta própria. Parte do valor
da máquina se transfere para o valor da mercadoria, mas ela faz isso na medida em


1 Karl Marx, O capital, Livro I, cit., cap. 10.
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