114 / A loucura da razão econômica
Mas há outros incentivos, além daqueles da concorrência ruinosa, para que
sejam adotadas novas tecnologias. Muitas inovações são concebidas para desempo-
derar o trabalhador tanto no mercado quanto no processo de trabalho. Tecnologias
que substituem a mão de obra qualificada e o poder monopólico que determinadas
habilidades conferem, com estruturas laborais que não exigem qualificação (do ti
po que pode ser realizado indiferentemente por mulheres e crianças - ou, como diz
o especialista em estudos de tempo e movimento Frederick Taylor, por um “gorila
treinado”), são uma arma crucial na luta de classes.
M as a m aquinaria não atua apenas como concorrente poderoso, sempre pronto a tornar
“supérfluo” o trabalhador assalariado. O capital, de m aneira aberta e tendencial, pro
clam a e m aneja a m aquinaria como potência hostil ao trabalhador. Ela se converte na
arm a m ais poderosa para a repressão das periódicas revoltas operárias, greves etc. contra
a autocracia do capital.3
A criação, por meio do desemprego tecnológicamente induzido, de um exército
industrial de reserva póe em foco as adaptações tecnológicas capazes de poupar
mão de obra. Inovações que melhoram a eficiência e a coordenação, ou aceleram
os tempos de rotação na produção e na circulação, produzem quantidades maiores
de mais-valor para o capital. A necessidade de expansão da produção para acomo
dar a acumulação infindável de capital cria um forte incentivo para se ampliar o
mercado de bens existentes, reduzindo-se o preço de produção ou criando-se linhas
de produtos e setores industriais inteiramente novos (como o de eletrônicos nas
últimas décadas). Novas tecnologias e inovação de produtos andam de mãos dadas.
Esses incentivos existem até mesmo sob condições de monopólio ou oligopólio.
No entanto, todos se concentram em larga medida no momento da valorização.
Independentemente do equilíbrio entre concorrência e poder monopólico, o re
sultado global é assegurar a dinâmica contínua e perpetuamente revolucionária da
mudança tecnológica e organizacional sob o capitalismo. Sempre que a concorrên
cia abranda e produz estagnação, torna-se prioridade revitalizá-la, até mesmo com
políticas públicas. Os problemas causados pela “estagflação” nas regiões centrais
do capitalismo nos anos 1970 foram parcialmente resolvidos com a abertura do
comércio mundial para uma estrutura globalizada de concorrência.
A análise de Marx da mudança tecnológica pode ser restrita às forças que afetam
a produtividade da força de trabalho no processo de valorização, mas ele tem uma
abordagem ampla da questão dos meios mobilizados para tanto. Ele reconhece,
por exemplo, a importância do software e da forma organizacional, para além do
3 Ibidem, p. 508.