A produção de regimes de valor / 159
A produção de regimes de valor regionais é urna característica crucial da geo
grafia histórica do capital. A princípio, esses regimes eram altamente localizados
e apenas frouxamente integrados por meio da troca de um número limitado de
mercadorias não perecíveis, em geral de alto valor e não facilmente reproduzíveis.
As mercadorias-dinheiro (ouro e prata) desempenharam o papel de conectoras e
coordenadoras, o que explica o interesse de M arx por elas como característica cen
tral de sua teorização econômica política. A medida que os vínculos comerciais
proliferaram e se complicaram, a convergência dos diferentes regimes de valor se
acelerou, primeiro em nível regional (como mostram os regimes comerciais da
União Européia, o Tratado N orte Americano de Livre-Cómércio, N afta, o Merca
do C om u m do Sul, Mercosul etc.), mas também em escala mais global. Até 1970
não se encontravam queijos e vinhos estrangeiros nos supermercados dos Estados
Unidos e, em larga medida, a própria cerveja era produzida localmente. Se eu bebia
N ational Bohemian, isso significava que eu morava em Baltimore; se bebia Iron
City, eu morava em Pittsburg, e, se bebia Coors, morava em Denver. Isso m udou
drasticamente a partir de 1970. H oje, qualquer supermercado me oferece produ
tos alimentícios do m undo inteiro e, na maioria das grandes cidades, posso tomar
cerveja de quase qualquer lugar do globo.
Desde 1945, boa parte da história do capital é de eliminação gradual dos obstá
culos ao comércio por queda persistente dos custos de transporte e redução gradual
das barreiras políticas (por exemplo, tarifas alfandegárias e outras formas de regula
ção). A paisagem geográfica da produção competitiva vem m udando por iniciativas
de livre-comércio, como o Acordo Geral de Tarifas e Comércio (GATT, estabeleci
do em 1947) e sua sucessora, muito mais abrangente, a Organização M undial do
Comércio (O M C , estabelecida em 1995), e um a série de acordos, com o a Parceria
Transpacífico (TPP). Tais indicadores pareceríam sugerir que as diferenças entre
regimes de valor regionais estão desaparecendo e que estamos hoje muito mais
próximos de um regime de valor único e globalmente unificado, e talvez até de
um sistema monetário mundial mais seguro para representá-lo. O fato de a O M C
ainda não ter concedido à China o estatuto de economia de mercado indica, no
entanto, que esse processo não está completo. Ademais, a crescente onda de protes
tos contra acordos de livre-comércio indica que há uín movimento de desagregação
ativamente em curso.
Considere, por exemplo, as tentativas recentes de estabelecer acordos co
merciais como o Acordo de Parceria Transatlântica de Com ércio e Investimento
(T T IP ) (e sua gêmea, a T P P ). N o caso da TPP, trata-se de um acordo específica
mente projetado pelos Estados Unidos e pelo Japão a fim de limitar a capacidade
de empresas chinesas e europeias de obter um a fatia de mercado na Ásia. O ver
dadeiro caráter da T P P torna-se claro quando examinamos os dados econômicos