A loucura da razão econônica- David Harvey

(mariadeathaydes) #1
164 / A loucura da razão econômica

preferir se instalar em locais ainda não desenvolvidos* para evitar antigas redes de
poder e infraestruturas esderosadas. N os estágios iniciais da Revolução Industrial,
por exemplo, o capital industrial evitava as cidades comerciais, com o Norwich
e Bristol, optando por se instalar em pequenas vilas rurais, com o Birmingham e
Manchester, com o intuito de escapar do poder dos trabalhadores organizados
em guildas e dos poderes conservadores dos capitalistas comerciais, que na época
dominavam os governos municipais. Ainda mais enfaticamente no m undo atual,
o aumento do trabalho im produtivo e a proliferação de regulações têm um peso
negativo sobre as perspectivas de desenvolvimento capitalista. A prom oção do
empreendedorismo urbano e regional por parte dos aparatos estatais visa com ­
pensar esse problem a por meio de um a política de subsídios locais, promessas de
investimentos em infraestrutura e a garantia de “pegar leve” no que diz respeito à
regulamentação ambiental e social. Enquanto isso, o poder crescente das institui­
ções de criação de antivalor e o trabalho de coordenar os fluxos de capital porta­
dor de juros dependem da disponibilidade de comunicações sofisticadas e de um
ambiente regulatório favorável para que possam florescer sem restrição20. Vê-se
por toda parte a tensão entre ambientes naturais e hum anos, positivos e negativos,
para diferentes formas de acumulação de capital.
M arx se deparou com algumas dessas questões ao analisar as rendas diferenciais.
Tais rendas surgem, em primeira instância, com o dádivas gratuitas d a natureza.
Fertilidade e/ou localização natural superiores propiciam um a taxa de lucro maior
para as empresas agraciadas com tais vantagens. As vantagens são relativamente
permanentes (na medida em que nenhum competidor pode avançar sobre esse lo­
cal privilegiado de produção, dado o monopólio que é sempre vinculado à terra)21,
embora, no caso da localização, a posição no espaço relativo possa m udar dramati­
camente com investimentos em transporte, õ s lucros excedentes podem ser, e ge­
ralmente o são, tributados pelos proprietários d a terra na forma de renda. Isso tem
o efeito de equalizar a taxa de lucro entre as empresas em um m undo em que os
valores de uso são distribuídos de form a geograficamente desigual. Era isso o que



  • No original, "greenfield sites”, termo de planejamento urbano que designa áreas “verdes” que ainda
    não foram desenvolvidas, em oposição a “broumfields' (áreas marrons), áreas que carregam o ônus
    de já terem sido previamente utilizadas para fins industriais e/ou comerciais (por exemplo, conta­
    minação ou infraestruturas difíceis de serem removidas). (N. T.)
    20 David Harvey, “From Managerialism to Entrepreneurialism: The Transformation in Urban Go-
    vernance in Late-Capitalism”, Geografiska Annaler, Series B, Human Geography, v. 71, n. 1, 1989,
    p. 3-17 [ed. bras.: “Do administrativismo ao empreendedorismo: a transformação da governança
    urbana no capitalismo tardio”, em A produção capitalista do espaço, trad. Carlos Szlak, São Paulo,
    Annablume, 2005, cap. 6, p. 163-90].
    21 Karl Marx, O capital Livro III, cit., p. 714 e see.

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