A loucura da razão econônica- David Harvey

(mariadeathaydes) #1
32 / A loucura da razão econômica

forma que tem quando inicia seu percurso. Ele evolui à medida que se movimenta
e se expande à medida que evolui. Agora, porém, essa expansão abarca não apenas
a busca por mais-valor mas também a necessidade adicional de amortizar as dívidas
que se acumulam no interior da rede distributiva exigida para que a circulação do
capital efetivamente funcione.

AS FORÇAS MOTRIZES DO VALOR EM MOVIMENTO


A visualização do fluxo de capital proposta aqui é, evidentemente, uma simplifi­
cação. Mas não se trata de uma simplificação gratuita. Ela representa quatro pro­
cessos fundamentais no interior do processo geral de circulação do capital: o da
valorização, em que o capital é produzido na forma de mais-valor na produção; o
da realização, em que o valor é transformado novamente na forma-dinheiro por
meio da troca mercantil das mercadorias; o da distribuição de valor e mais-valor
entre os diversos requerentes; e, finalmente, o da captura de parte do dinheiro que
circula entre os requerentes e sua reconversão em capital-dinheiro, a partir do qual
ele continua o caminho pela valorização. Cada processo distinto é independente e
autônomo em certos aspectos, mas todos estão integralmente ligados na circulação
do valor. Essas distinções no interior da unidade do valor em movimento, como
veremos em breve, desempenham um papel crucial na estruturação do texto de O
capital. O Livro I se dedica à valorização, o Livro II à realização e o Livro III disseca
as diversas formas de distribuição.
Ainda resta fazermos um breve comentário acerca da força motriz ou das forças
motrizes que mantêm esse fluxo de capital em movimento. A força motriz mais
evidente reside no fato de que nenhum capitalista monetário racional se daria a
todo esse trabalho e enfrentaria todos os percalços da organização da produção de
mercadorias e mais-valor se não terminasse com mais dinheiro no fim do processo
de valorização do que tinha no início. Em poucas palavras, é o lucro individual que
os move. É claro que podemos atribuir isso à ganância humana, mas na maior parte
das vezes Marx se abstém de considerar isso um defeito moral. E algo socialmente
necessário para a produção dos valores de uso de que precisamos para viver. Uma
vez que a origem do lucro está na produção de mais-valor, o processo de valoriza­
ção possui um incentivo para prosseguir indefinidamente com base na perpétua
exploração de trabalho vivo na produção. No entanto, isso implica uma expansão
perpétua da produção de mais-valor. O círculo de reprodução do capital se torna
uma espiral de crescimento e expansão incessantes.
Marx descarta em geral a ideia de que uma força motriz possa estar vinculada ao
processo de realização. Não há, porém, nenhum motivo para pensarmos que não

Free download pdf