A loucura da razão econônica- David Harvey

(mariadeathaydes) #1
O capital 1 41

dinheiro como a forma “borboleta” do capital (voa com facilidade e pousa onde
quer). Podemos estender a metáfora e pensar a mercadoria como a sua forma “la­
garta” e a produção como a “crisálida”.
O restante do Livro II trata da circulação e realização no mercado. Marx analisa
os problemas que surgem da circulação de capital fixo e da existencia de tempos
de rotação diferenciais. Ao fazê-lo, invoca frequentemente a necessidade de um
sistema de crédito, mas posterga qualquer análise até o Livro III. Somos apresen­
tados ao capital com diferentes períodos de trabalho (o tempo necessário para fa­
bricar mercadorias diferentes, como um carro versus um par de sapatos), diferentes
tempos de circulação (o tempo médio que um produto permanece no mercado
antes de ser vendido) e uma medida geral do tempo médio de rotação do capital
empregado. A concorrência intercapitalista dá ênfase considerável à aceleração dos
tempos de rotação, e muita inovação é orientada para esse fim. Tempos de rotação
mais rápidos aumentam os lucros gerais. A tendência de aceleração transborda das
esferas da produção e da comercialização e altera fundamentalmente os ritmos da
vida cotidiana. Aceleração na produção em determinado momento exige acelera­
ção no consumo (daí a importância da moda e da obsolescência programada). Ao
mesmo tempo, uma maior dependência em relação a investimentos de capital fixo
para promover a elevação da produtividade tem o efeito de desacelerar o tempo
de rotação de alguns investimentos. Isso é particularmente verdadeiro para inves­
timentos em meio ambiente construído. Parte do tempo de rotação do capital
desacelera na forma de capital fixo e infraestruturas para facilitar a aceleração no
movimento do restante. Aqui também se torna decisivo o recurso ao sistema de
crédito para garantir a liberação do montante de dinheiro necessário para construir,
manter e repor investimentos de capital fixo graúdos e de longo prazo. A discussão
sobre isso é postergada para o Livro III.
É difícil identificar qualquer conclusão unificadora no Livro II. Se há uma ideia
dominante nas investigações substanciais de Marx, seria a de que há um incentivo
poderoso para a aceleração perpétua na circulação do capital. Mas há também um
contraste notável em relação à conclusão do Livro I:


Contradição no modo de produção capitalista: os trabalhadores, como compradores
de mercadorias, são importantes para o mercado. Mas, como vendedores de sua mer­
cadoria - a força de trabalho -, a sociedade capitalista tem a tendência de reduzi-los ao
mínimo do preço.
Contradição adicional: as épocas em que a produção capitalista desenvolve todas
as suas potencialidades mostram-se regularmente como épocas de superprodução,
porquanto as potências produtivas jamais podem ser empregadas a ponto de, com
isso, um valor maior poder não só ser produzido como realizado; mas a venda das
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