A loucura da razão econônica- David Harvey

(mariadeathaydes) #1

48 / A loucura da razão econômica


ambos os casos, o capital morto e desvalorizado é ressuscitado pela circulação ati­
va. Evidentemente, à medida que o capital se torna mais complicado com relação
às cadeias de valor e divisões de trabalho que se entrecruzam e mais dependente
de grandes quantidades de capital fixo (para não falar da demanda crescente de
infraestrutura e construções urbanas), cresce também a demanda de um sistema
de crédito e financiamento mais sofisticado. Ou todo o sistema de circulação de
capital travaria com cada vez mais capital entesourado para lidar com esses proble­
mas temporais.
Da mesma maneira que o arrendamento abrange uma grande diversidade de
problemas nas dimensões geográfica e espacial das atividades capitalistas, o sistema
de crédito lida com as múltiplas temporalidades envolvidas na organização das
atividades produtivas. O sistema de crédito abarca uma variedade praticamente
infinita de temporalidades que atuam na organização diária da produção capitalista
e as reduz a uma única métrica: a taxa de juros ao longo do tempo. E claro que essa
métrica varia conforme as condições de oferta e demanda por dinheiro - não ape­
nas como capital mas como qualquer outra coisa (por exemplo, consumo privado
e empréstimos para proprietários). O sistema de crédito introduz no capitalismo
dimensões completamente novas para o fluxo de capital. Da mesma maneira que
a renda fundiária repousa na ficção de que a terra é uma mercadoria que pode ter
preço, mas não tem valor, o sistema de crédito repousa na ficção de que o dinheiro
é uma mercadoria que possui um preço. O efeito é insinuar que o próprio dinheiro,
representante ou expressão do valor, possui um valor, o que seria claramente ridícu­
lo. Mas o dinheiro possui de fato um preço: o juro.
Banco e finanças têm diversas funções. Eles absorvem bolsóes de dinheiro ina­
tivo onde quer que estejam e os convertem em capital-dinheiro ao emprestá-los
a qualquer um que esteja interessado em aproveitar oportunidades lucrativas de
investimento. Na posição de intermediárias, as instituições financeiras agem como
o “capital comum de uma classe [a capitalista]”10. Elas desempenham um papel
decisivo na aceleração da equalização da taxa de lucro, retirando fundos daqueles
que trabalham com setores econômicos de baixa rentabilidade e redirecionando-
-os para onde quer que a taxa de lucro seja mais alta. Também têm certo poder de
criação de dinheiro, independentemente de qualquer aumento na vazão de valor.
A independência e a autonomia do sistema financeiro, além do poder inerente de
criação de dinheiro, podem ser subsumidas no processo de circulação de capital
como valor em movimento, mas não sem impactos importantes.
Bancos e instituições financeiras trabalham com dinheiro como mercadoria, e
não com produção de valor. Emprestam para o que dê uma taxa de lucro maior,


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11 Ibidem, p. 442.
12 Ibidem, cap. 25.
13 Ibidem, p. 500.
14 David Graeber, D
10 Ibidem, p. 416.
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