A loucura da razão econônica- David Harvey

(mariadeathaydes) #1
O capital / 47

e) Instituições bancárias e financeiras


Essa é de longe a categoria distribucional mais complicada e problemática. A ma­
neira como é representada é muito importante para compreender a circulação do
capital como um todo. Em tempos recentes, recebeu muita atenção por causa da
influencia aparentemente determinante da financeirização sobre os fluxos de capi­
tal. Marx escreveu abundantemente sobre ela, sem chegar a uma conclusão clara
de como integrar no conceito de capital como valor em movimento muitas das
atividades com as quais se deparou (como especulação financeira e circulação de
capital portador de juros). Mas o que ele descobriu coloca sérios problemas para a
sua teoria geral. Daremos atenção a eles à medida que avançarmos.
Há muitos motivos para que os capitalistas industriais (e outros) se comprome­
tam com as finanças e o sistema bancário. Coordenar as entradas e saídas de uma
forma específica de produção de mercadoria significa mediar tempos de rotação ra­
dicalmente diferentes na produção de entradas e saídas. A indústria algodoeira, por
exemplo, requer abastecimento diário de algodão, mas a colheita ocorre somente
uma vez ao ano (a vantagem do mercado mundial, com muitos fornecedores em
localizações diversas e períodos de colheita diferentes, é amenizar um pouco esse
problema). Os produtores de algodão recebem pela colheita apenas uma vez no
ano, mas precisam de dinheiro tanto para produzir como para o seu sustento diário
durante o ano inteiro. Sem um banco ao qual recorrer, o produtor de algodão teria
de entesourar o dinheiro proveniente da venda e retirá-lo pouco a pouco do col­
chão até a venda seguinte. Enquanto isso, alguém precisa armazenar a mercadoria
algodão a fim de liberá-la para a produção nas fiações. Para Marx, todo aquele valor
entesourado na forma-dinheiro ou na forma-mercadoria é capital morto e desvalo­
rizado. Durante boa parte do ano, ele fica parado, inutilizado e improdutivo.
Esse problema se torna mais significativo quando consideramos a circulação do
capital fixo. Uma máquina custa caro à vista, mas dura muitos anos. O valor inicial
da máquina pode ser recuperado por meio de pagamentos anuais de depreciação.
Mas a máquina precisa ser substituída ao final da sua vida útil. O capitalista precisa
ter economizado (entesourado) dinheiro suficiente todos os anos para comprar
uma substituta. O resultado é um vasto tesouro de capital morto e desvalorizado,
parado nos cofres dos capitalistas. A segurança desse tesouro acumulado cria um
problema, porque sempre há ladrões à espreita. O sistema capitalista de bancos e
crédito é uma resposta a esses problemas. Os capitalistas podem depositar com se­
gurança (assim esperam) os fundos excedentes acumulados em um banco em troca
de juros e o banco pode emprestá-los a terceiros cobrando juros (ligeiramente)
maiores. Ou então os capitalistas industriais podem tomar emprestado o dinheiro
necessário para comprar a máquina e quitar a dívida com depreciações anuais. Em

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