A loucura da razão econônica- David Harvey

(mariadeathaydes) #1

50 / A loucura da razão econômica


Nos dias de hoje, inovações no campo das finanças e dos bancos levaram as coisas
a um outro patamar.
Ver a distribuição como um polo passivo do processo de circulação é, como
dissemos anteriormente, um tremendo equívoco. Distribuição na forma-di nheiro
constitui uma etapa de transição distinta no movimento do capital. Mas como
isso está relacionado com a valorização e a realização do capital? E difícil dar urna
resposta segura a essa questão, mas urna das descobertas de Marx fornece uma pista
importante de como avançar para chegar ao menos a uma conclusão preliminar.


f) A circulação do capital portador de juros


O Livro III de fato reconhece uma estrutura para se compreender como dinheiro
pode ser reinjetado no círculo de valorização e realização. O poder autónomo de'
criação de crédito que reside no sistema bancário e financeiro (com os bancos cen­
trais no topo) libera na circulação um fluxo de capital portador de juros. Nenhuma
necessidade impele o capital portador de juros a escoar para a valorização. Ele tem
múltiplas opções, desde cr< dito ao consumidor até empréstimos para capitalistas
comerciais, proprietários de terras e especuladores imobiliários, Estados em guerra
ou potências estrangeiras. A circulação do capital portador de juros não reivindica
sua parte do mais-valor com base na sua contribuição para a produção ativa, mas
como puro direito de propriedade. Esse direito é dado pela posse do dinheiro como
mercadoria, cujo valor de uso é poder ser usado para fazer mais dinheiro.
Uma nova dimensão é introduzida aqui no quadro da circulação. Essa dimen­
são é prefigurada no Livro II, onde Marx vê a circulação de capital-dinheiro como
uma forma particular. Quando capitalistas industriais realizam valor como dinhei­
ro, eles passam a deter uma mercadoria cujo preço é o juro. Os capitalistas têm uma
escolha: podem investir em uma produção futura de valor ou aplicar os recursos no
mercado de dinheiro para render juros. A fim de se manter no negócio, os capitalis­
tas industriais precisam arrecadar mais do que a taxa de juros vigente. Caso contrá­
rio, todos os percalços e esforços para organizar a produção deixam de fazer sentido
econômico. O fluxo de capital nas mãos dos capitalistas industriais se divide de
fato em dois caminhos: como detentor de dinheiro, o capitalista recebe juros sobre
o dinheiro depositado; como produtor, lucra com a exploração do trabalho na
produção. O capitalista “pode optar por usar seu capital [...] emprestando-o como
capital portador de juros ou valorizando-o diretamente como capital produtivo”’5.
Os capitalistas industriais podem tomar emprestado o dinheiro de que precisam
para dar início aos seus empreendimentos e pagar juros sobre o empréstimo, pro- 15


15 Karl Marx e Friedrich Engels, O capital, Livro III, cit., p. 426.

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