A loucura da razão econônica- David Harvey

(mariadeathaydes) #1

66 IA loucura da razão econômica


O “mal da sociedade burguesa não pode ser remediado por meio de ‘transforma­
ções’ dos bancos ou da fundação de um ‘sistema monetário’ racional”16.


Como é impossível suprimir as complicações e contradições derivadas da existência do di­
nheiro ao lado das mercadorias particulares por meio da modificação da forma do dinhei­
ro (muito embora as dificuldades pertencentes a uma forma inferior possam ser evitadas
por uma forma superior), é igualmente impossível suprimir o próprio dinheiro enquanto
o valor de troca permanecer a forma social dos produtos. É preciso compreender isso
claramente para não se colocar tarefas impossíveis e para conhecer os limites no interior
dos quais as reformas monetárias e as transformações da circulação podem fornecer uma
nova configuração para as relações de produção e as relações sociais sobre elas fundadas.17

A única solução, ao menos para Marx, é abolir totalmente o valor de troca, o
que, é claro, implica abolir o valor como tempo de trabalho socialmente necessário,
deixando o intercâmbio organizado de valores de troca como o único resquício das
categorias que ele derivou do capitalismo18.
Ao elaborar a crítica a Darimon, Marx levantou duas questões básicas. “[As] re­
lações de produção existentes e suas correspondentes relações de distribuição podem
ser revolucionadas pela mudança no instrumento de circulação — na organização da
circulação?” A resposta de Marx é um sonoro “não!”. “Pergunta-se ainda: uma tal
transformação da circulação pode ser implementada sem tocar nas relações de pro­
dução existentes e nas relações sociais nelas baseadas?” Marx é inicialmente ambíguo.


Haveria de [se] investigar, ou caberia antes à questão geral, se as diferentes formas civili­
zadas do dinheiro - dinheiro metálico, dinheiro de papel, dinheiro de crédito e dinheiro-
-trabalho (este último como forma socialista) - podem realizar aquilo que delas é exigido
sem abolir a própria relação de produção expressa na categoria dinheiro, e se, nesse caso,
por outro lado, não é uma pretensão que se autodissolve desejar, mediante transforma­
ções formais de uma relação, passar por cima de suas determinações essenciais.19

Mas torna a dizer que:

as distintas formas de dinheiro podem corresponder melhor à produção social em dife­
rentes etapas, uma elimina inconvenientes contra os quais a outra não está à altura; mas

16 Karl Marx, Grundrisse, cit., p. 85.
17 Ibidem, p. 95.
18 Ibidem, p. 728-9.
19 Ibidem, p. 74-5.
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