A Bola - 20200801

(PepeLegal) #1

A BOLA


Sábado
1 de agosto de 2020


19


Carlos Carvalhal é um


psicólogo e um enorme


treinador, sabe quando


e como apoiar um atleta


Gosto de acompanhar


a bola e a jogada e num


segundo dá-se a


ocasião. Sou calmo...


RIO AVE


Futebol


HELENA VALENTE/ASF

Avançado diz que pandemia foi um desafio e elogiou qualidade do Campeonato português

Cozinheiro


Taremi


O avançado iraniano adaptou-se
com facilidade a Portugal , no
campo e fora dele. Sossegado,
veio sozinho para Vila do Conde,
Taremi foi aceitando reptos para
jantar fora e ficou fã da comida
portuguesa, orgulhando-se, agora,
de dominar na confeção algumas
especialidades lusas, forçado a
cozinhar por altura da pandemia.
Taremi está rendido a Portugal,
aproveitou as folgas para conhecer
o país, interessando-se pela
cultura e monumentos. Nas redes
sociais foi marcando as suas
visitas.

Paixão no Irão


Não bastasse já ser um ídolo no
país desde 2018, quando foi o
avançado de referência da seleção
no Mundial da Rússia, Taremi é, por
esta altura, endeusado no Irão, à
meias com Azmoum, goleador do
Zenit na Liga Russa. O regresso ao
país para perto dos pais, do irmão
e da irmã convocou delírio em
Bushehr, no Golfo Pérsico. Foi
recebido com um cartaz nas ruas
‘O filho de Bushehr está de volta.
Estamos muito orgulhosos com o
teu grande trabalho em Portugal.
Fizeste muito felizes as nossas
famílias’.

BI


Nome completo
— Mehdi Taremi
Data de nascimento
— 18 de julho de 1992 (28 anos)
Naturalidade — Bushehr (Irão)
Peso — 80 quilos
Altura — 1,87 metros
Posição — Ponta de lança
Percurso — Shahin Bushehr,
Persepolis, Al Gharafa (Catar)
e Rio Ave

jTAREMI


e a sua história. O que vivi foi uma
honra e ver a forma como as coisas
correram foi, efetivamente, gran-
dioso.


— Espera continuar em Portugal
na próxima temporada num clube
como Benfica, FC Porto ou Spor-
ting? Era isso que almejava quando
trocou a satisfação financeira na Ásia
pelo sucesso desportivo na Europa?
— Não vim para Portugal por
questões financeiras, é claro! Tinha
estado dois anos no Catar, estava
muito bem financeiramente e po-
dia continuar no Catar ou jogar na
China. Mas estava como jogador li-
vre, surgiu o Rio Ave e foi uma ten-
tação. Cheguei a ter vários convites
da Europa mas, por conselhos do
meu agente Alireza Nikoomanesh e
do professor Carlos Queiroz, só des-
ta vez se aliaram vontades e a inter-
pretação do que era melhor para
mim. Só posso estar muito feliz pela
decisão tomada.


— Com que impressão ficou des-
te Rio Ave e dos seus companheiros,
até perante os elogios que a equipa
foi uma das que melhor futebol apre-
sentou?
— Fiquei realmente fascinado e
impressionado pelos incríveis cole-
gas de equipa. Foram mesmo ami-
gos muito próximos, até diria ir-
mãos! Esta época de grande sucesso
sem eles não teria sido possível. Só
tenho de agradecer a todos, um por
um, e desejar a todos o melhor no fu-
tebol e na vida.


— Para um iraniano a época de es-
treia na Europa teve o desafio su-
plementar de ter sido mais longa por
causa da pandemia e ter atrasado as
férias. Em termos de rendimento
isso parece não ter mexido consigo,
olhando até aos números de golos
depois da pandemia com um média
de um golo por jogo. Como se sen-
tiu numa época tão desgastante?
— Na altura que começou a pan-
demia, eu estava a preparar-me para
o novo ano no Irão em que iria visi-
tar a minha família, aproveitando o
calendário FIFA, que implicava um
compromisso da seleção do Irão nes-
sa altura. Por esses dias, o meu agen-
te estava comigo. Depois fiquei so-
zinho, as fronteiras fecharam, tive de
ficar recolhido em casa, a seguir o
planeado, preparado para regressar
à competição. Entretido a ver tele-
visão e a cozinhar. Foi um grande de-
safio. Disse a mim mesmo que ti-


nha de terminar a época muito bem
e precisava e dar o máximo duran-
te as dificuldades. Rezei como faço
sempre para manter a minha fé,
acreditando que nada é impossível.

— Com que ideia global ficou do
Campeonato português e que equi-
pa mais lhe agradou na dimensão e
capacidade de jogo?
— Vi um grande campeonato, di-
fícil e de qualidade, onde é preciso
trabalhar muito para alcançar su-
cesso. FC Porto, Benfica, SC Braga e
Sporting são conjuntos muito fortes,
por alguma razão ouvia sempre fa-
lar deles, porque são equipas com
grande experiência europeia. Mas
neste campeonato que joguei vi ou-
tras equipas com boa capacidade
para jogarem na Europa. Irei também
aconselhar Portugal aos meus com-
panheiros de seleção.

— O Taremi destacou-se pela frie-
za, pelos movimentos fáceis, pela
capacidade de fazer jogar a equipa.
Nunca pareceu um jogador pressio-
nado no campo?
— Sim, sem dúvida, cada jogador
tem a sua forma de jogar. Eu gosto
de observar, acompanhar a bola e a

jogada e num segundo dá-se uma
ocasião de golo. Essa é a minha per-
sonalidade, sou do tipo calmo para
ter frieza e decidir.

— Qual o defesa que o mais o in-
timidou e o avançado que mais apre-
ciou no Campeonato?
— Os defesas que mais me com-
plicaram a vida foram Pepe, Rúben
Dias e Coates. Mas não tive jogos fá-
ceis perante as defesas do Gil Vicen-
te, Moreirense e Marítimo. O avan-
çado do campeonato só pode ser o
Carlos Vinícius, que foi o artilheiro
da temporada.

— Como foi a sua vida em Portu-
gal? Mais Vila do Conde, mais Por-
to? Sentiu-se sozinho, encontrou
sempre o que fazer? Mudou alguma
coisa em relação à forma de estar
no Irão?
— Portugal é um país lindíssimo
em tudo o que o rodeia e acho mes-
mo que uma das razões para o meu
sucesso foi a atmosfera sensacional
que encontrei em Vila do Conde, Pó-
voa e também no Porto. Adorei to-
dos os lugares que visitei e fui a mui-
tos lados. Estava realmente em casa,
fui sempre acarinhado.

— Sabemos que Carlos Queiroz
foi fundamental para que viesse...
Ao longo da época recebeu mais con-
selhos dele?
— O Carlos Queiroz nunca deixou
de me dar apoio a aconselhar de for-
ma muito positiva. Ele é aquele que
munido da sua experiência, fez-me
e levou-me a dar mais, a lutar por al-
cançar mais. Estarei sempre a apren-
der com ele.

— Podemos saber a influência na
sua carreira de um jogador como Ali
Daei ou algum ídolo maior no fute-
bol internacional?
— Comecei a minha carreira no
Persepolis treinado por Ali Daei. Ele
era logicamente a nossa lenda. Mas
eu adoro Cristiano Ronaldo, Ronal-
do Fenómeno e Roberto Firmino.

A venda de


Paulinho levará


Taremi a Braga?


Taremi é mesmo alvo fortíssimo do SC
Braga e os avanços estão a ser dados
nesta altura. Carlos Carvalhal definiu o
iraniano como pretensão séria de acordo
com a disponibilidade do clube em
superar outras forças negociais. A
definição da saída de Paulinho, logo que
salvaguardado o pagamento da cláusula
de rescisão, de 30 milhões de euros,
dotará a SAD arsenalista de francos
recursos para processar a transferência
do iraniano. A desenvoltura financeira do
SC Braga, decididamente exponenciada
na venda de Trincão para Barcelona, que
será, potencialmente, reforçada com os
números em redor de Paulinho, alia-se a
um desejo expresso do treinador, que
retirou um rendimento extraordinário de
Taremi no Rio Ave, conseguindo vê-lo
discutir o trono dos marcadores. Os vila-
-condenses irão marcar uma posição
relativamente aos contornos de uma
transferência inevitável. Taremi, no seu
íntimo, quer o SC Braga, nesta altura, por
saber que reúne a máxima confiança do
treinador e que poderá continuar a
valorização na Europa. E o SC Braga
quer Taremi mas só avançará mal se
consume a saída de Paulinho. FC Porto e
Benfica terão oportunidade nos próximos
dias de passar à ação e anteciparem-se
ao SC Braga com números tentadores
para o Rio Ave.

jIraniano é o grande alvo do SC
Braga para o ataque; não deixa
dúvidas a Carlos Carvalhal

PERFIL
Free download pdf