A BOLA
Sábado
1 de agosto de 2020
OPINIÃO 29
Porque hoje é sábado
Por
VÍTOR SERPA
Pinto da Costa tem
realçado mais o gosto de
ver o seu rival perder do
que a paixão de ver o
seu clube ganhar. Eis um
complexo preocupante...
Humor ardente
Por
LU ÍS A FO NSO
ANDRÉ ALVES/ASF
Pandemia tirou final do Estádio Nacional
DENTRO DA ÁREA
FORA DA ÁREA
Quem dispensa um pouco de ‘glamour’?
F
INAL da Taça de Portugal
sempre foi sinal de festa
do futebol. Daí o Estádio
Nacional ser insubstituí-
vel. Não é o melhor está-
dio do mundo, a não ser para os
adeptos do Celtic, que continuam
a vir em romaria celebrar o seu já
longínquo título de campeões eu-
ropeus, mas é um estádio com His-
tória e com o glamour próprio para
uma final da Taça. Daí que de nor-
te a sul do país, com a exceção per-
sistente do FC Porto, por influên-
cia direta do seu presidente, todos
os clubes se sintam honrados por
estar numa final da Taça, no Ja-
mor. Podiam ficar igualmente hon-
rados por estar na final da Taça
noutro estádio qualquer, mas isso
não acontece. O Jamor tem outro
encanto, outra patine, outro cur-
rículo histórico e cultural.
O Estádio faz parte de uma ve-
lha e pelos vistos desusada tradi-
ção de futebol honesto, de espetá-
culo do povo, de vencedores
improváveis, que sempre ajudam
a alimentar lendas e narrativas.
Desta vez, dizem que por cau-
sa do Covid-19, roubaram ao Jamor
a sua festa anual. Não foi só por
isso. A ideia de festa, infelizmen-
te, não se cola a um Benfica-FC
Porto, que continua a despertar
demasiadas paixões e não menos
demasiados ódios. Numa decisão
supostamente salomónica, a es-
colha inédita de Coimbra para a
grande final. Não podendo ser onde
devia ter sido, pois que seja Coim-
bra, cidade com História e tradi-
ção de amores.
Mas há um problema evidente
de falta de glamour e não sei quem
por aí andará que possa emprestar
algum a esta final tão, dele, ne-
cessitada.
Até agora, pelo que se tem ou-
vido e visto, tem sido uma mono-
tonia, um jogo igual a qualquer
outro, um clássico déjà vu, que não
acrescenta nada à longa e bonita
História dos clássicos. Pode ser que
o jogo tudo consiga mudar e nos
salve, a todos e ao futebol, desta
apagada melancolia.
S
ÉRGIO CONCEIÇÃO e
Nélson Veríssimo tam-
bém foram contagiados
pela ideia de vulgarida-
de do momento. Cansa-
dos de emoções e trabalheiras
numa época atípica e particular-
mente difícil, os dois treinadores
das equipas finalistas apenas sen-
tem, pela final da Taça de Portu-
gal, o desejo óbvio de a ganhar.
Têm, ambos, a noção da impor-
tância de se tratar da discussão
de um título, embora não haja di-
vergência no conceito pouco en-
tusiasmante de não ser mais do
que um título. Ora, que me des-
culpem, os dois, mas não é bem
isso que a Taça merece. Saudades
da sensibilidade tão especial de
Quinito, que vestiu smoking e pôs
um laço, quando, finalmente, na
sua carreira, chegou a uma final
da Taça no Jamor.
P
INTO DA COSTA está a
andar para trás. Antes, ao
longo da sua longa e tu-
multuosa vida de diri-
gente de sucesso, não sa-
bia perder, o que logo se viu que se
tornava numa virtude competiti-
va; mas agora, também não sabe
ganhar, e isso é visivelmente um
bem dispensável defeito. Desde
que o FC Porto se sagrou campeão
e, apesar de haver um reconheci-
mento unânime de sentido de jus-
tiça, o presidente do FC Porto, tal-
vez porque a festa tivesse sido
socialmente pequena, porque con-
dicionada pela pandemia, sempre
que se refere à vitória no campeo-
nato vem falar de uma conhecida
marca de pastilhas para a azia, o
que o torna demasiado parecido
com Bolsonaro em matéria de pu-
blicidade de medicamentos. É es-
tranho que não realce tanto a pai-
xão de ver o seu clube ganhar como
o gosto de ver o seu rival perder.
O que não deixa de ser um preo-
cupante sintoma de complexo de
inferioridade, algo, que, aliás, o
FC Porto não merece.
Desporto vai,
enfim, arrancar
F
INALMENTE, as modalidades co-
letivas de pavilhão receberam luz
verde para arrancarem com as
suas competições. Não vão ter públi-
co nas bancadas, mas não haverá dra-
ma por isso. O peso, no orçamento dos
clubes, da venda de bilhetes para os
pavilhões não será tão importante e
ainda se evita a despesa cívica e fi-
nanceira dos custos de segurança. Já
era tempo de haver uma decisão. O
desporto, em todas as modalidades,
precisa de encontrar a normalidade
possível, até porque estamos a um ano
do previsível início de Tóquio-20/21.
SÉRGIO MIGUEL SANTOS/ASF
Bolsonaro tem
mofo no pulmão
B
OLSONARO tem uma infeção
pulmonar, o que considera ser
apenas «mofo no pulmão», mas
isso não o tem impedido de caminhar
entre multidões de cara descoberta e
tocando em tudo e em todos que lhe
aparecem na sua permanente campa-
nha presidencial, contrariando todas
as indicações das autoridades de saú-
de do seu país. O Brasil, entretanto, ca-
minha para o número fantasmagórico
de três milhões de infetados, tem qua-
se 92 mil mortos e não dá sinais de es-
tar próximo de inverter esse estado
de calamidade.
ERALDO PERES/AP