A Bola - 20200806

(PepeLegal) #1

A BOLA


Quinta-feira
6 de agosto de 2020


29


Q


UANDO se fala em Fu-
tebol de Formação e
numa academia tem
obrigatoriamente que se
falar em investimento
de longo prazo. O tempo é o maior
aliado do Futebol de Formação. Ao
contrário do Futebol Profissional.
No futebol , como nas empresas,
a vida é feita de ciclos. O curto
prazo é um ano, uma época des-
portiva. O médio prazo são três
anos. E o longo prazo sempre mais
de três anos.
Mas se quisermos avaliar cor-
retamente em todas as vertentes
a performance de uma academia
— jogadores na primeira equipa,
no futebol profissional nacional
e internacional, nas seleções na-
cionais, qualidade formativa,
mais valias financeiras — o re-
sultado é avaliado por um ciclo de
uma década.
Claro que existem indicadores
e resultados no médio prazo, mas
a avaliação mais correta deve ser
feita no longo prazo, inclusive pe-
los comportamentos e performan-
ce da potencial concorrência di-
reta (nacional ) e indireta
(internacional).
E se neste século a primeira dé-
cada foi liderada claramente pela
academia do Sporting , na segun-
da década a liderança foi da aca-
demia do Benfica. Isto a nível in-
terno.
Mas lá fora, quer o Sporting,
na primeira década, quer o Ben-
fica, na segunda década, foram
na minha opinião e factualmen-
te academias de top-3 mundial
(com Barcelona e Ajax).
Por tal razão, a terceira déca-
da afigura-se como um enorme
desafio para todos. Internamen-
te, e com a introdução em boa
hora da Certificação das Acade-
mias pela Federação Portuguesa de
Futebol, clubes como Benfica, FC
Porto, Sporting, SC Braga, V. Gui-
marães e Marítimo, entre muitos
outros, deram um salto quanti-


tativo e qualitativo enorme a to-
dos os níveis (retenção de talen-
tos, infraestruturas, investimen-
to financeiro, formação e
qualidade de recursos humanos)
e apresentam-se na linha da fren-
te para conquistar o futuro.
Por outro lado, as mais recen-
tes conquistas internacionais, quer
das nossas seleções jovens, quer
ao nível de clubes nas várias com-
petições internacionais de relevo,
catapultaram Portugal para o topo
da formação internacional. A Fe-
deração desenvolveu com os clu-
bes um excelente trabalho.
Estou expectante, numa indús-
tria que não tem parado de crescer,
para ver como vão nesta próxima
década os clubes portugueses res-
ponder a este desafio competitivo
de observar e descobrir, reter e
desenvolver talento com os meios
que têm ao seu dispor, compara-
tivamente com as academias sob a
umbrela dos maiores clubes euro-
peus, nomeadamente os que se
perfilam permanentemente na
Champions.

Estou certo que esta pandemia
do Covid-19 veio recolocar a dinâ-
mica do mercado em níveis mais
realistas e menos especulativos.
Como estou certo que a legislação
nos últimos anos, aprovada pelas
instâncias de direito desportivo,
vieram trazer mais transparência,
organização, rigor e regular esta
indústria no que ao futebol for-
mativo diz respeito.
Na hora da partida para a tercei-
ra década deste século tenho para
mim que vamos assistir a profun-
das alterações de comportamen-
tos, práticas e estratégias de obser-
var , reter e desenvolver os talentos
do futuro. Já existem novas ten-
dências e novas práticas no mer-
cado. O conhecimento está mais
acessível e é mais partilhado.
Será fundamental rever nesta
altura a visão e a filosofia do clu-
be/academia para estar mais pre-
parado para soluções e caminhos
de sucesso. Que o tempo corra a fa-
vor para se ganhar o futuro do fu-
tebol nacional.
*Consultor Internacional de Futebol

Os ciclos


do Futebol


de Formação


Por*
ARMANDO JORGE CARNEIRO

OPINIÃO


Lá fora, o Sporting,
na primeira década,
e o Benfica, na segunda,
foram academias
de ‘top’-3 mundial
(com Barcelona e Ajax)

A bola é minha


AJAX

O Ajax tem uma das escolas de futebol mais reconhecidas a nível internacional

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