A Bola - 20200806

(PepeLegal) #1

A BOLA


Quinta-feira
6 de agosto de 2020


BENFICA 05


Futebol


Preparador físico re-
gressa ao Benfica com

Jesus. Estão juntos há 16 anos.


Recua no tempo para recor-


dar como tudo começou. En-


tão como agora a ambição e


mentalidade vencedora são


as mesmas. Consciente do de-


safio de conquistar troféus,


faz a revelação de uma vida:


«Benfica é o meu clube des-


de pequeno!»


A


INDA está no Rio de janei-
ro. Como estão a ser as des-
pedidas depois de um tra-
balho de grande sucesso no
Flamengo?
— As despedidas não têm sido fá-
ceis pois tenho muitos amigos e criei
aqui uma boa relação com todo o
mundo, mas o futebol é assim e es-
tou-me a preparar para um novo pro-
jeto.


— É o único da equipa técnica de
Jorge Jesus que não esteve na apre-
sentação. Porque ficou no Brasil?
— Nunca soube se o meu treina-
dor iria ou não para Portugal. Tenho
a minha vida estável aqui. Comprei
casa, depois comprei uma moto, que
é um dos meus prazeres, tirando a
bicicleta. Já usufrui dela, fiz a estra-
da lindíssima entre o Rio de Janeiro
e Santos, precisamente no dia em que
Jorge Jesus decidiu acabar o contra-
to com o Flamengo. Tive de resolver
o problema da casa e da moto e ou-
tros de ordem pessoal.


— Foi convidado a continuar no
Flamengo?
— Jamais, em tempo algum,
abandonaria Jesus. Um mês antes de
ele ter decidido ir para o Benfica, ti-
nha-lhe dito que se ele quisesse con-
tinuaria a trabalhar com ele mais dois
anos. Como lhe disse numa entre-
vista no final do ano, tinha decidido
acabar a carreira aqui no Flamengo
e deixar o futebol, mas, por questões
pessoais, decidi continuar mais dois
anos. Os meus amigos até dizem que
é quase uma novela quando digo que
vou acabar a carreira e depois não
acabo. Mas a verdade é que, como
lhe disse, queria mesmo acabar. De-
pois decidi continuar mais dois anos
neste projeto que abraçou. Desde o dia
da despedida de Jesus, fui abordado
por várias pessoas da Direção do Fla-
mengo que faziam questão que con-


Entrevista de
IRENE PALMA

tinuasse. E fizeram questão de trans-
mitir isso ao meu treinador. Mas sem-
pre lhe disse que isso não seria viá-
vel. Sempre lhe disse que estava de
corpo e alma com ele e gostava de
acabar a minha carreira no campo
com ele. Não gostaria de acabar a
carreira no futebol profissional com
outro treinador. Vou acabar o futebol
de alta competição com o mister Jor-
ge Jesus e já lá vão 16 anos.

— Sentiu-se tentado a ficar no
Flamengo?
— Não foi fácil pois já tinha deci-
dido que gostaria de acabar aqui a
carreira. Depois, o relacionamento
que tenho com as pessoas, desde a co-
zinheira aos homens do relvado, ao
motorista, aos jogadores, ao roupei-
ro, à Direção, a todo o mundo. Não foi
fácil tomar essa decisão. Só que aqui
está em causa uma questão de leal-
dade. Não vou de má vontade. Já tra-
balhei no Benfica seis anos, fui mui-
to feliz e será com grande prazer que
irei regressar a uma casa que bem
conheço. As pessoas têm de perce-
ber que sou profissional, sou uma
pessoa de caráter e de palavra. Esta
semana tive uma conversa com o
presidente do Flamengo, Rodolfo
Landim, e expliquei-lhe a minha de-
cisão de não ficar no Flamengo. En-
tendeu e disse-me que fazia questão
de deixar a porta aberta.

— Como e quando lhe disse Jesus
que voltariam ao Benfica?
— Fui apanhado de surpresa. Não
estava a contar, mas não podia que-
brar o compromisso com ele. Estava
a viajar de moto. Ele disse que tinha
terminado o contrato com o Flamen-
go e que iria acordar com o Benfica e
que, depois, me contava mais. Fiquei
imensamente feliz pois vou repre-
sentar um grande clube de Portugal
e com uma expressão mundial. O
Benfica, em Portugal, equivale ao
Flamengo no Brasil. Acertámos que
chegaria aí depois e que dia 10 esta-
ria no Benfica para começarmos a
trabalhar. Fomos muito bem tratados

Mário Monteiro, ainda no Rio de Janeiro, falou, ontem, com A BOLA TV

aqui no Brasil, somos uma referência.
Tivemos uma despedida no Ninho do
Urubu como nunca tínhamos tido
em clube algum. Houve lágrimas,
pois somos de emoções, mas a vida
é mesmo assim, feita de despedidas.
Agora temos um novo projeto e tudo
vai correr bem, se Deus quiser.

— O que falou com Jorge Jesus so-
bre o Benfica desde que ele chegou a
Portugal?
— Muito pouco. Acertámos só a
data para chegar a tempo do início dos
trabalhos. Penso que sexta-feira te-
remos uma reunião com todo o gru-
po. Sei que já esteve no Seixal reuni-
do com os meus colegas de trabalho,
pois falo quase todos dias com eles,
sobretudo com o Márcio Sampaio. O
meu mister Jorge Jesus sabe que é o
líder, que é soberano e que estou de
acordo com as decisões dele.

— Como encara agora este desa-
fio chamado Benfica?
— A ambição que tenho é aquela
que tive desde que iniciei a minha

A BOLA TV

j


MÁRIO MONTEIRO


— Os seus métodos de trabalho
são diferente dos que pôs em práti-
ca de 2009 a 2015?
— Um pouco, mas não sou muito
apologista de mudar. Há umas peque-
nas mudanças sobretudo no trabalho
de força, mas a metodologia é mui-
to semelhante. Há atletas que foram
nossos jogadores na altura, como o Pi-
zzi, o Jardel ou o André [Almeida].
Em termos de metodologia não vai
mudar muito. Vou trabalhar com o
Márcio Sampaio, que não trabalhou
comigo no Benfica, e é sempre um
bom elemento porque me comple-
menta. Fazemos uma boa dupla. Dá-
-me uma ajuda preciosa.

— Jesus disse na apresentação que
está no Benfica para ganhar porque
está habituado a ganhar.
— Sempre foi ambicioso. Desde o
dia que me contactou para trabalhar
com ele em Leiria. Estava um pouco
indeciso e disse-me para não ter medo
pois iríamos vencer e iríamos muito
longe. Estamos a falar de uma con-
versa há 16 anos. E o facto é que ele
tinha razão em tudo o que me disse.
Sempre foi muito convicto das suas
ideias e determinado em vencer. Só
tem em mente vencer, vencer... Não
vai ser fácil mas vamos traçar um
novo rumo. O clube é grande, vão
apoiar-nos e será um grande orgulho
para mim e para os meus colegas re-
presentar o Benfica.

— Que mensagem gostaria de par-
tilhar com os benfiquistas?
— Estou imensamente feliz por
abraçar este novo projeto. Vou para
clube do meu coração. Não posso
dizer mais nada. Nunca o disse,
mas digo-o agora nesta entrevis-
ta que o Benfica é o meu clube
desde pequeno. Estou em final de
carreira e posso dizê-lo agora [ri-
sos]. O meu coração é benfiquis-
ta e vou com grande vontade e
por lealdade ao meu treinador e
com muita paixão pelo clube. Vou
com vontade de trabalhar e com
muita paixão.

«Vou para o clube


do meu coração»


ANTÓNIO AZEVEDO/ASF

Jorge Jesus e Mário
Monteiro trabalharam
seis anos no Benfica

carreira em 1993/1994 no Famalicão,
clube da minha terra, ou seja alcan-
çar o objetivos propostos. Neste caso,
os idealizados pela Direção do Ben-
fica e que os sócios tanto querem que
é ser campeão nacional, ganhar a
Taça de Portugal, a Taça da Liga, ga-
nhar a Supertaça e ir o mais longe
possível na Liga dos Campeões. O
grande sonho dos benfiquistas seria
uma final europeia mas isso só com
muito trabalho e só no futuro pode-
remos pensar nisso. O meu treinador
está bem ciente do que está a fazer.
Este será um Benfica renovado com
uma mentalidade vencedora.

— Como descreve a equipa técni-
ca do Benfica?
— É uma equipa renovada, mais
jovem e que vai contribuir para que
neste novo projeto consigamos al-
cançar os nossos objetivos. É uma
equipa à imagem do nosso líder, com
espírito vencedor. Com esta já con-
seguimos bastantes êxitos no Fla-
mengo e vamos para o Benfica para
vencer.
Free download pdf