Record - 20200811

(PepeLegal) #1

12 OPINIÃO
11 de agosto de 2020


çA triagem do jogador que
mais se distinguiu no futebol
português raramente terá sido
tão incontestável: Jesus Corona
foi obviamente o MVP (Most Va-
luable Player), galardão que vale
tanto para o campeonato como
para o conjunto das provas na-
cionais.


Muitas vezes discutem-se as di-
ferenças etimológicas entre o
melhor e o mais influente. E, em
função disso, haverá quem quei-
ra acrescentar a esta alegação os
nomes de Alex Telles e de Pizzi,
principalmente. Pode fazer sen-
tido a adenda do lateral-esquer-
do, até por também beneficiar
dos louros da ‘dobradinha’. Os 30
golos de Pizzi (18 na Liga, onde so-
mou ainda 14 assistências) cons-
tituem, de facto, um saldo ex-
traordinário, mais a mais num
ala que muitas vezes assume pa-
péis de organização. Mas o nú-
mero 21 benfiquista também fi-
cou ligado à derrocada da sua
equipa, até em função de várias
exibições em que não atingiu o
mínimo exigível. Ficou, por isso,
imediatamente de fora desta
discussão, até porque, como diria
Marcello Lippi, há jogadores
úteis, não indispensáveis, e o
“melhor jogador é aquele que co-
loca o seu talento ao serviço dos
outros”...


Esse pecadilho não pode ser
apontado a Alex Telles, que
também apresenta números ex-
cecionais. Marcou 13 golos, sendo
o segundo melhor marcador da
equipa no campeonato, com 11
tentos (8 dos quais através de pe-
nálti). Acresce que somou 8 assis-
tências e teve participação em 15
golos (12 através de cantos).


Alex Telles foi, por isso, a única
alternativa a Corona que se
manteve até certo ponto da re-


flexão. Acabei por optar pelo me-
xicano, na certeza de que, como
defende Valdano, quando em
jogo estão variáveis de estilo e de
eficiência, “podemos decidir em
função do gosto, mas nunca em
termos de justiça”...

O meu principal argumento é
que Corona ofereceu quase sem-
pre estilo, ambição e bons jogos.
O mexicano do FC Porto faz par-

te daquele escasso lote de profe-
tas capaz de nos subjugar com a
sua arte e, aos 28 anos, atingiu a
maturidade competitiva que lhe
terá faltado nos primeiros tem-
pos das cinco épocas que já leva
em Portugal.

Mantém-se um transgressor
capaz de arquitetar coisas singu-
lares, mas a madureza que foi ca-
paz de adquirir nas últimas épo-

cas (principalmente sob o gover-
no de Sérgio Conceição) torna-
ram o seu futebol claramente
mais fiável e luminoso. À conta
dessa prosperidade, foi ganhan-
do uma autoconfiança quase in-
solente, tornando-se pouco me-
nos de imbatível nos duelos indi-
viduais, até porque é hoje ca-
paz de acrescentar ao ta-
lento invulgar as pin-
turas de guerra

Os 31 milhões que
o Barça pagou por
Trincão susten-
tam a sua escolha
como revelação.
Acresce que o ala
provou ter classe para dar e
vender. Mas atenção aos ju-
niores do Sporting Eduardo
Quaresma e, principalmente,
Nuno Mendes (que craque!)

Nos escrutínios de fim de época, a
maioria das escolhas dos melho-
res em cada posição recai quase
sempre nos craques dos grandes.
É uma situação compreensível,
mas que ajuda a espelhar o desni-
velamento do futebol português,
designadamente no que à capaci-
dade de investimento diz respei-
to. Tentando remediar um pouco
a situação, optei por solução dife-
rente, escolhendo duas seleções.
Para a primeira selecionei ape-
nas jogadores do FC Porto, Benfi-


ca e Sporting. A segunda resultou
da observação dos restantes clu-
bes. Bruno Fernandes e Tapsoba
só não foram ‘convocados’ por te-
rem saído a meio da época.
São escolhas obviamente ques-
tionáveis, assentes nos dados es-
tatísticos e, principalmente, no
meu gosto. Mas há situações que
importa clarificar. Corona foi
‘eleito’ para lateral-direito porque
fez vários jogos nessa posição (e
provavelmente ninguém jogou
melhor do que ele aí), mas tam-

bém porque seria injusto deixar
de fora alguém com os números
impressionantes de Pizzi. Fiquei
com algum peso na consciência
quando risquei Pepe e Rúben
Dias. Mas incluir Mathieu foi a úl-
tima oportunidade de homena-
gear quem se reforma como um
dos melhores e mais corretos es-
trangeiros que passaram pelo fu-
tebol português. No ‘G15 ‘tive ain-
da mais dúvidas. Também aqui
fixei Diogo Gonçalves a lateral. É
aí que no futuro se poderá afir-

mar
numa
equipa
grande. Com
isso, o principal
prejudicado foi
Nanu (Marítimo). No
lado contrário, também
me custou excluir Sequeira
(Braga), Matheus Reis (Rio
Ave) e Marlon (Boavista). As dúvi-
das maiores foram num dos dois
lugares do meio-campo. Pedro
Gonçalves não teve discussão,

Sérgio Concei-
ção voltou a fa-
zer de milagreiro
e é o treinador do
ano. Mas Carlos
Carvalhal (Rio
Ave), que apresentou a pro-
posta de jogo mais ousada e
moderna, e João Pedro Sou-
sa (Famalicão) merecem
menções honrosas

LUDOPÉDIO BRUNO PRATA


As outras escolhas


Zé Luís não justifi-
cou os mais de 12 mi-
lhões que o FC Porto
investiu nele, mas
marcou o golo mais
belo: contra o P. Fer-
reira, recebeu cruzamento de
Telles, dominou com o peito e, de
bicicleta, finalizou de pé direito,
que normalmente só usa para
dançar o funaná

que o futebol moderno cada vez
mais exige. Poderíamos, even-
tualmente, exigir-lhe mais do
que os quatro golos que apontou
na Liga, mas no campo da esta-
tística também pesam muitos as
21 assistências para golo que so-
mou na época.

Corona tem ainda a vantagem
de se ter tornado uma espécie de
canivete suíço. A polivalência e o
saltitar permanente de posições
em campo são, muitas vezes, as
ardilosas justificativas usadas
por aqueles que não conseguem
jogar bem em lado nenhum. O
mexicano foi ala, lateral, segun-
do avançado e até médio organi-
zador. Foi um jogador universal
e o verdadeiro MVP.
*Boas férias e até
setembro

mas custou
excluir Gusta-
vo Assunção (Fa-
malicão), Fransér-
gio (jogou quase
sempre mais adianta-
do no Sp. Braga), Pepelu
(Tondela), Racic (Famali-
cão) e Al Musrati (Rio Ave).
Optei pelo jovem Filipe Soa-
res. Excluir Marcus Edwards
(V. Guimarães) foi a decisão mais
traumática. O seu futebol é con-
tagiante. A ‘culpa’ foi de Trincão...

ZAIDU
Santa Clara

DIOGO
GONÇALVES
Famalicão KIESZEK
TRINCÃO Rio Ave
Sp. Braga

NEHUÉN
PEREZ
FamalicãoBOREVKONIC
Rio Ave
PEDRO
GONÇALVES
Famalicão

FILIPE
SOARES
Moreirense

RICARDO
HORTA
Sp. Braga

PAULINHO
Sp. Braga

TAREMI
Rio Ave

VINÍCIUS
Benfica

LUIS DÍAZ
FC Porto OTÁVIO
FC Porto
ALEX TELLES
FC Porto OLIVEIRASÉRGIO
FC Porto TAARABT
Benfica
MBEMBA
FC Porto

MATHIEU
Sporting

PIZZI
Benfica

CORONA
FC Porto

MARCHESÍN
FC Porto

Corona, o MCorona, o MVP VP


OFERECEU ESTILO, AMBIÇÃO E BONS JOGOS. PODIA MARCAR MAIS GOLOS, MAS A SUA AUTOCONFIANÇA
QUASE INSOLENTE CONVERTEU-O NUM CANIVETE SUÍÇO

FILIPE FARINHA
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