Record - 20200822

(PepeLegal) #1
ESPECIAL 17
22 de agosto de 2020

çO futuro para o futebol na-
cional no pós-pandemia foi o
tema central desta iniciativa e
Nuno Gaioso, administrador da
SAD do Benfica, partilhou a for-
ma como o clube tem trabalhado
nos últimos anos e vai permitir
aos encarnados ultrapassar a cri-
se que se avizinha. “De há oitos
para cá, o Benfica duplicou as re-
ceitas, o resultado operacional e
reduziu a dívida líquida. O Benfi-
ca hoje tem uma estrutura de ba-
lanço e de receitas para preparar
uma situação como esta que nos
aconteceu. Nas crises há oportu-

nidades e o Benfica, devido ao
trabalho realizado nos últimos
anos, tem a hipótese de conti-
nuar a investir e de ultrapassar
adversários”, destacou.
Mas os clubes denominados
grandes têm mais capacidade
para sobreviver a estes momen-
tos e Gaioso alertou para o facto
de as receitas de bilheteira serem
absolutamente essenciais para as
restantes equipas. “Desde logo, o
valor da nossa Liga é dez vezes
inferior ao da liga inglesa, por
exemplo. A bilheteira é uma fon-
te de rendimento segura para

muitos clubes que, normalmen-
te, até investem esse dinheiro
nos salários. Sem esses rendi-
mentos haverá dificuldades”,
explicou.
O administrador da SAD dos
encarnados também levantou
um pouco o véu em relação à en-
trada de dinheiro nos cofres dos
clubes, nomeadamente no caso
do Benfica. “Metade é prove-
niente da venda dos direitos te-
levisivos, depois vem a publici-
dade e as receitas de merchandi-
sing do clube. Enquanto o res-
tante vem dos dias de jogo: bi-
lheteira e todo o negócio que en-
volve um dia de jogo”, mencio-
nou Nuno Gaioso. *

ESPECIALISTA.
Nuno Gaioso
falou sobre dinheiro

Administrador da SAD
do Benfica revela que
o clube está prevenido
e pode aproveitar a crise

Expectativas para
o mercado de verão

Este período de transferências
vai ser diferente e a crise econó-
mica pode desvirtuar o real va-
lor dos jogadores, mas Gaioso
admitiu que o Benfica está pre-
parado. “A expectativa é de não
perder receitas, devido à capaci-
dade negocial que temos. Claro
que há o risco de os valores bai-
xarem significativamente, mas
o que digo é que o Benfica pode
esperar por ofertas melhores,
pois tem capacidade para man-
ter os jogadores”, sublinhou.

Costinha e o golo


em que fizeram


tudo ao contrário


Costinha, antigo médio interna-
cional português, venceu a Cham-
pions pelo FC Porto, em 2004. Os
dragões bateram (3-0) o Monaco
na final – a última equipa francesa
numa final antes do atual Paris SG
–, mas o jogo mais recordado por
todos é o dos oitavos-de-final, con-
tra o Man. United. O FC Porto per-
dia em Old Trafford e estava fora
da prova quando Costinha mar-
cou o 1-1 do apuramento, no último
minuto. “É o exemplo de um golo
que resultou apesar de termos fei-
to tudo ao contrário do que treiná-
mos. Devia ser o Ricardo Fernan-
des a bater o livre, mas o
McCarthy tirou-lhe a bola porque
estava confiante. No limite, tro-
quei com o Maniche o jogador que
nos estava a marcar, para ficar eu
com o mais alto. Foi tudo ao con-
trário do que estava no guião, mas
resultou. Por ser no último minu-
to, é daquelas situações em que se
pode improvisar”, recordou.


“A BILHETEIRA É UMA FONTE DE
RENDIMENTO SEGURA PARA
MUITOS CLUBES”, MENCIONOU
COM PREOCUPAÇÃO

çA pouca competitividade
existente na Liga portuguesa é
um ponto em que os especialistas
concordam, sendo que também
consideram que se podem tirar
conclusões deste período de
pandemia que possam ajudar a
melhorar a qualidade do cam-
peonato. “A competitividade
tem vindo a diminuir, sendo que
Portugal está no fundo em estu-
dos europeus. Problemas de sus-
tentabilidade financeira podem
agravar os problemas de integri-
dade e de falta de capacidade

para competir”, sublinhou Mi-
guel Poiares Maduro, antigo pre-
sidente do Comité de Governa-
ção da FIFA.
Já Nuno Gaioso, administrador
da SAD do Benfica, concorda que
é preciso mais igualdade e que
isso não significa, necessaria-
mente, que as águias vão deixar
de ganhar títulos. “Uma Liga
portuguesa competitiva é bom
para o clube que detém a maior
quota de mercado, em termos de
adeptos. É saudável um aproxi-
mar de qualidade entre todos os

clubes. O Benfica vai fazer tudo
para crescer, e estar inserido
num campeonato mais competi-
tivo permite exatamente isso”,
referiu.
A aproveitar o facto de Lisboa
ter recebido a ‘final 8’ da Liga dos
Campeões, sendo que no domin-
go se disputa a final, Poiares Ma-
duro foi ainda mais longe em re-
lação à qualidade da Liga portu-
guesa. “Nenhuma equipa portu-
guesa vai ter sucesso na Europa
se a competitividade interna não
aumentar”, salientou. *

Aumentar a competitividade


NUNO GAIOSO


SUGERE ADAPTAÇÃO


Miguel Poiares Maduro

çA falta de rendimentos da
grande maioria dos clubes,
essencialmente, não profis-
sionais, durante este período
de ausência de público nos es-
tádios vai afetar muito a ges-
tão diária de certas equipas e
Miguel Poiares Maduro, anti-
go presidente do Comité de
Governação da FIFA, deixou
um alerta. “Tudo o que acon-
teceu e está a acontecer vai
criar um problema enorme e
muitos clubes não vão conse-
guir sobreviver. Muitos já es-
tavam em dificuldades que
agora vão aumentar bastante.
Pode apresentar-se o proble-
ma de ir buscar dinheiro a lo-
cais menos aconselháveis e
refiro-me ao match fixing
[apostas combinadas]”, sa-
lientou. Poiares Maduro tam-
bém destacou as desigualda-
des que a própria Champions
está a criar. “Os clubes utili-
zam esses fundos para melho-
rarem a nível interno e, assim,
marcam presença todos os
anos, recebendo os milhões e
aumentando a disparidade
para as restantes equipas dos
respetivos campeonatos”, re-
feriu. *

Alerta para


receitas ilegais


POIARES MADURO

çA negociação conjunta
dos direitos televisivos tam-
bém foi um tema em destaque
nesta iniciativa e João Pavão
de Sousa, diretor-geral da
Eleven, revelou a sua posição:
“Sou a favor da centralização
de direitos televisivos no fute-
bol português. Veja-se o
exemplo espanhol. Em seis
anos, La Liga cresceu seis ve-
zes mais na venda do produto
interna e externamente.” *

Centralização


de direitos


DIRETOR DA ELEVEN

PRESENTES. Luiz
Felipe Scolari e
Paulo Bento
participaram no
debate através de
videoconferência

FOTOS DAVID CABRAL SANTOS

FUTURO PÓS-PANDEMIA

LUÍS MAGALHÃES E MIGUEL AMARO
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