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/ PORTUGAL FAZ BEM
CAVIAR DE LABORATÓRIO
Para responder à crescente procura de ouriços-do-mar, o dito caviar
português, uma equipa do MARE quer otimizar um sistema de aquacultura,
de forma a garantir a produção da fecundação ao adulto
Tex t o Sara Sá Fotos André Moreira e D.R.
M
arta Ressurreição e Tiago
Verdelhos caminham por
cima das rochas revestidas
de mexilhões, lapas e cara-
mujos. Inspecionam as poças à procu-
ra de ouriços-do-mar e rapidamente,
com um olhar, os detetam, agarrados
às pedras, camuflados nas reentrâncias
e rendilhados de malgas e calcários. De
cada vez que fazem uma colheita o in-
vestigador do MARE (da sigla em inglês
para Centro de Ciências Marinhas e Am-
bientais), da Universidade de Coimbra,
e a bióloga marinha usam uma sonda
para analisar as principais características
do ambiente em que o animal estava
envolvido: temperatura, salinidade, con-
dutividade, PH... Também contabilizam
quantos ouriços existem por poça, a par-
tir de um sistema de amostragem.
Concentrados no ecossistema da zona
de rebentação nas praias da Figueira
da Foz e Cabo Mondego, o trabalho de
campo tem vários objetivos, científicos
e também empresariais, congregados
no projeto OtimO (Otimização dos pro-
cessos de produção de ouriço-do-mar)
- que tem financiamento do programa
operacional MAR2020, através da As-
sociação de Desenvolvimento Local da
Bairrada e Mondego.
Se por um lado Tiago quer perceber
quais as condições que favorecem um
melhor crescimentos desta espécie, Mar-
ta pretende perceber como será possível
manter uma produção destes invertebra-
dos marinhos em sistema de aquacultura.
Para isso, criou uma start up, alojada no
laboratório MAREFOZ, da incubadora
de empresas da Figueira da Foz. É aqui,
É nas poças à beira da praia que se
recolhem os ouriços. Sempre que há uma
colheita, são medidos parâmetros como a
temperatura e a salinidade da água
em quinze aquários de 200 litros cada,
numa sala que cheira a mar, que decorre
a segunda parte do projeto. Em cada um
dos tanques habitado por exemplares
da espécie Paracentrotus lividus, a mais
comum em Portugal, há animais em
diferentes fases do desenvolvimento.
“Queremos otimizar o cultivo de ouri-
ço-do-mar em aquacultura, para con-
seguirmos escalar a produção”, avança
Marta Ressurreição. “Para que a atividade
seja lucrativa a taxa de sobrevivência dos
animais tem de estar à volta de 70%, o
que já temos conseguido no laboratório.
Mas há alturas em que não passamos
dos trinta por cento”, admite a CEO da
Vértice Cristalino.
CAVIAR PORTUGUÊS
Até há pouco tempo o consumo de ou-
riços-do-mar não passava muito do
apanhar e comer na praia, que acon-
tecia esporadicamente em algumas re-
giões piscatórias. “Há pessoas que têm
memória de em pequenas, há 30 ou 40
anos, comerem ouriços”, relata a bióloga
marinha. Nos últimos anos, o alimento