Exame - Portugal - Edição 437 (2020-09)

(Antfer) #1
SETEMBRO 2020. EXAME. 19

João Duarte. O professor da Nova SBE real-
ça que “a queda dos preços deve começar a
ser sentida mais fortemente apenas a partir
do segundo trimestre de 2021, pois o layo-
ff está previsto acabar em dezembro deste
ano, e as moratórias em março de 2021”.
Isto, sublinha, se o Governo mantiver os
atuais prazos e moldes destas medidas.
O Banco de Portugal também mostra
preocupação com o setor. Aliás, já há al-
gum tempo que o supervisor vinha a aler-
tar para uma sobrevalorização nos preços
das casas. Agora, apesar de reconhecer que
as moratórias ajudam a diminuir os ris-
cos no curto prazo, teme que venha aí uma
correção nos valores praticados no merca-
do. “O atual contexto, marcado por elevada
incerteza, pela redução acentuada da ati-

mercado começar a tremer. “Neste mo-
mento vivemos um pouco numa nuvem,
mas que, pelas perspetivas apresentadas
nas projeções do Banco de Portugal e em
diversos estudos, não evitará um impac-
to também no setor imobiliário, nomea-
damente nos preços”, diz Filipe Campos.
Aquela instituição prevê uma quebra de
9,5% do PIB este ano. É mais do dobro do
impacto sentido na grande recessão de



  1. Já a taxa de desemprego poderá fe-
    char 2020 acima de 10 por cento. Era de
    6,5% no final do ano passado.
    “Está a ficar cada vez mais claro que
    estamos diante de uma das maiores crises
    económicas já vividas na História e é de se
    esperar que o valor dos imóveis possa so-
    frer um ajustamento significativo”, refere


Se os preços das rendas confirmarem ser
um indicador avançado para se perceber
para onde vai o mercado imobiliário, en-
tão já parece haver nuvens no horizonte.
No segundo trimestre, o índice de rendas
residenciais desenvolvido pela Confiden-
cial Imobiliário mostra que o mercado
desceu 2,8%, a nível nacional, no se-
gundo trimestre do ano em relação aos
três meses anteriores. É a maior queda
em cadeia dos últimos dez anos. Lisboa
regista as maiores descidas, com uma
contração trimestral de 6,9 por cento. “Já
se nota uma quebra relevante no nível
das rendas, pelo que será uma questão
de tempo até assistirmos a uma redução
de preços de venda das casas”, conside-
ra Filipe Garcia, economista da IMF.
Um dos principais fatores a contribuírem
para as descidas é a reconversão para o
mercado de arrendamento de alojamen-
tos locais que ficaram vazios por causa
da pandemia. Aliás, basta abrir um portal
de imobiliário para identificar muita oferta
de casas anteriormente colocadas para
exploração turística: situadas em zonas
históricas, remodeladas e com áreas
pequenas. “Este aumento da oferta já

está a provocar a descida das rendas de
habitação nestas cidades. Sabemos que
esta reconversão será mais ou menos
temporária, consoante a rapidez da
retoma da atividade do turismo”, afirma
Joaquim Montezuma, professor no ISEG
e sócio-gerente da consultora ImoEco-
nometrics.
A descida de preços também pode ser
explicada pelos descontos cada vez
maiores e mais frequentes. A Confiden-
cial Imobiliário revelou que, no segundo
trimestre, “25,7% das casas em oferta
para arrendamento no País (Portugal
Continental) foram alvo de uma revisão
na renda pedida. A revisão foi de -13,3%”.
Este é um sinal de que, além de haver
maior oferta, também a procura pode ter
baixado. “Esta revisão é normalmente
utilizada pelos proprietários para melho-
rarem as possibilidades de arrendar o
seu imóvel. Haver não só mais proprietá-
rios dispostos a reverem o valor da renda
pedida, como aumentar a magnitude da
revisão, é uma consequência natural da
estagnação da procura trazida pela pan-
demia, a qual já começou a pressionar as
rendas contratadas em baixa”, explica Ri-

cardo Guimarães, diretor da Confidencial
Imobiliário.
Apesar da correção nos preços do arren-
damento, essa opção poderá continuar a
ser atrativa para proprietários ou inves-
tidores que queiram assegurar rendi-
mento. “As rendas habitacionais sempre
foram proporcionalmente elevadas face
aos pagamentos de empréstimos à
habitação (e daí os portugueses serem
muito propensos à aquisição de casa
própria) pelo que, mesmo que ocorresse
nos próximos meses uma descida dos
preços de arrendamento, continuaria a
ser apetecível para um investidor poder
comprar para arrendar”, defende Beatriz
Rubio, CEO da Remax Portugal. O BCE
deverá manter os juros em mínimos du-
rante um prazo alargado de tempo, o que
retira atratividade a outras alternativas
de poupança, como depósitos ou dívida
pública. “O investimento para arren-
damento, além de ser uma poupança,
continua a ser um investimento com uma
boa probabilidade de criar mais-valias a
prazo”, conclui Rui Torgal, diretor-geral
da Era Portugal.

PREÇOS NO ARRENDAMENTO COMEÇAM A MOSTRAR
BRECHAS. MAS INVESTIMENTO ESTÁ PARA FICAR

O valor das rendas teve o maior recuo dos últimos dez anos. Lisboa é a zona com maiores
correções. Mas o mercado continua atrativo para quem queira rentabilizar poupanças

JOSÉ CARIA
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