Exame - Portugal - Edição 437 (2020-09)

(Antfer) #1
SETEMBRO 2020. EXAME. 21

“A atual conjuntura


abrandou fortemente


o crescimento que


o mercado imobiliário


nacional vinha


a registar ao longo


dos últimos anos”


Andreia Almeida
Diretora de research da Cushman & Wakefield


que mais se irão ressentir com a inversão
no mercado, segundo a maior parte dos es-
pecialistas ouvidos pela EXAME.
Além do confinamento da procura, o
Banco de Portugal encontrou indícios de
que haverá mais oferta a entrar, mesmo
sem contar ainda com o previsível aumen-
to do incumprimento após o fim das mora-
tórias. O supervisor salienta que a desace-
leração nas transações “foi acompanhada
por um maior crescimento dos fogos licen-
ciados em relação aos construídos, o que
se poderá traduzir no aumento da oferta
de alojamentos novos para habitação, colo-
cando pressão descendente sobre os preços
do imobiliário residencial”.
A chegada de mais stock ao merca-
do é também um dos fatores que fazem
João Pisco antever pressão nos preços,

não só pelo possível crescimento de ca-
sas no mercado após o fim das moratórias
mas também com “o aumento natural da
oferta de casas novas, tendo em conta os
projetos de construção que têm sido le-
vados a cabo nos últimos anos”. O ana-
lista do Bankinter prevê que, desta forma,
se possa pôr fim “ao gap que persistia no
mercado imobiliário nos últimos anos en-
tre procura e oferta”. Mas descarta “uma
queda acentuada dos preços das casas a
nível nacional” porque, defende, estamos
perante um choque económico abrupto
mas transitório e “este carácter temporá-
rio é determinante para que os preços das
casas se mantenham estáveis”.
Entretanto, a dinâmica de subida de
oferta e queda de preços já se começou a
verificar no mercado de arrendamento.

sez de oferta de qualidade”. Ape-
sar de uma eventual quebra na
procura, a oferta futura também
poderá ser mais baixa devido ao
“adiamento ou mesmo cance-
lamento de alguns dos projetos
previstos”.
Nas perspetivas para o mercado
de escritórios, muito dependerá
de como será o mundo do traba-
lho no pós-pandemia. “Importa
saber se o teletrabalho implicará
uma redução da necessidade
de ocupação de espaços de
escritórios, ou se, pelo contrário,
pelo facto de ter de haver um
maior distanciamento social,
essa exigência não obrigará a um
aumento”, refere Pedro Coelho,
administrador da Square Asset
Management, que gere o maior
fundo imobiliário do País, o CA
Património Crescente.

LOGÍSTICA ATRATIVA,
COMÉRCIO SOFRE
A crise deixou marcas pro-
fundas no mercado imobiliá-
rio relacionado com o turismo
e o comércio. No entanto, a
pandemia destacou uma área
como cada vez mais essen-
cial. “O grande vencedor

setorial foi a logística, evidencian-
do a importância que tem para o
funcionamento regular da socie-
dade, sendo embora um setor por
vezes esquecido, por ser pouco
‘visível’, com imóveis não muito
bonitos situados em localizações
menos ‘prime’”, afirma Pedro
Coelho. Já a Cushman & Wake-
field nota que “com o aumento
do comércio online, a procura
de espaços adaptados a este
modelo de negócio aumentou,
particularmente [por] espaços
logísticos nas áreas metropoli-
tanas de Lisboa e do Porto”. Em
sentido contrário, o segmento de
imóveis para negócios de retalho
(excluindo supermercados) passa
por uma fase negativa. A procura
nesta área, que inclui lojas de
rua e restaurantes, caiu 64% no
primeiro semestre. No entanto,
acordos com alguns proprietários
e a legislação para as moratórias
das rendas permitiram uma esta-
bilização desses valores.
No futuro, as apostas aparentam
recair cada vez mais na logística.
Até porque, antecipa Pedro Coe-
lho, “os setores ligados ao turis-
mo são aqueles que irão demorar
mais tempo a recuperar”.

ANTÓNIO XAVIER
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