Exame - Portugal - Edição 437 (2020-09)

(Antfer) #1

  1. EXAME. SETEMBRO 2020


“Era expectável que a oferta de imóveis
para arrendamento fosse aumentar devi-
do à conversão de muitos imóveis de alo-
jamento local para arrendamento de longa
duração e que isso tenha já influência nesta
estabilização dos preços”, refere Rui Torgal,
diretor-geral da Era Portugal. No segundo
trimestre, o preço médio das rendas pra-
ticadas no País desceu, em cadeia, 2,8%,
segundo a Confidencial Imobiliário. Foi a
maior quebra em dez anos. Em Lisboa, as
descidas foram de 6,9%, mas no Porto hou-
ve uma estabilização. Ainda assim, com a
tendência no País a ser já de descida nas
rendas, Pedro Coelho considera ser expec-
tável que “os preços de transação venham
a diminuir”.
Mesmo com sinais de maior stock, há
partes do mercado em que poderá ser difí-
cil haver casas que cheguem para as enco-
mendas. Ricardo Sousa observa que a “falta
de oferta para o segmento médio e médio
baixo se mantém”. Essa foi uma tendência
que marcou o mercado nos últimos anos
e que “continua a acentuar-se”. O CEO da
Century 21 Portugal realça que mesmo que
exista um aumento do malparado e das ca-
sas entregues aos bancos, essa nova oferta
demorará a chegar: “Desde o incumpri-
mento até que esses imóveis entrem no-
vamente no mercado para comercialização
podem passar dois a três anos. Esse impac-
to não se deverá verificar em 2021 e 2022”.


O PONTO DE PARTIDA E A ESPERANÇA
NO REGRESSO DOS ESTRANGEIROS
Na última crise, os preços do imobiliário
chegaram a descer quase 15% por cento.
Agora, apesar do grau destrutivo do choque
provocado pela pandemia ser incompara-
velmente maior, a expectativa é de que a
situação que atravessamos seja temporária.
Além disso, se na última debacle do mer-
cado imobiliário se assistiu a uma ressaca
do excesso de crédito, desta vez a situação
de partida aparenta ser mais sólida no se-
tor financeiro.
Nos últimos tempos, o Banco de Portu-
gal tem recomendado que a banca cumpra
limites na concessão de crédito, o que pode
ajudar a amparar o impacto desta crise no
mercado. E, se olharmos para os balanços
do setor bancário, nota-se uma diminui-
ção significativa da exposição ao mercado
imobiliário na última década. No final de


2010, o crédito hipotecário totalizava mais
de 113 mil milhões de euros. A meio deste
ano não chegava a 93,5 mil milhões de eu-
ros. “Há um menor nível de endividamento
das famílias e dos investidores e há mui-
to capital próprio, o que significa que há
mais capacidade para se esperar” antes de
se vender, considera Ricardo Guimarães.
Em 2010, chegou-se a ter cerca de 70% do
valor das transações no mercado imobiliá-
rio residencial feito com recurso a crédito.
Em comparação, nos últimos trimestres,
os empréstimos totalizaram pouco mais
de 40% do valor das operações, segundo
o Banco de Portugal.
Além do menor peso do financiamento
da banca, também o crédito concedido tem
tido critérios mais apertados e foi destina-
do a clientes de menor risco. Desde que as
medidas macroprudenciais do supervisor
entraram em vigor, em julho de 2018, e o
final do ano passado, a percentagem de
novo crédito à habitação concedido a mu-

Crise temporária?
A expectativa de que o choque económico provocado
pela pandemia seja passageiro tem impedido uma
quebra significativa na confiança do mercado

LUÍS BARRA
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