Exame - Portugal - Edição 437 (2020-09)

(Antfer) #1

Micro



  1. EXAME. SETEMBRO 2020


Diz ser difícil rejuvenescer o consumidor
de Porto. Já encontrou solução?
O problema é que esta indústria ainda
não conseguiu mudar a forma de consu-
mo. Consome-se para acompanhar uma
sobremesa, doce ou queijo. Estamos a
restringir muitíssimo os momentos de
consumo. O champanhe, por exemplo,
conseguiu impor-se como aperitivo, para
acompanhar uma refeição e seguir pela
noite. Por isso, o Porto tem de abrir o le-
que, senão, infelizmente, todos os dias nos
morrem consumidores.


Já outros tentaram e, pelos vistos, não
foram bem-sucedidos. O que falha?
Por exemplo, o gin tónico está na moda.
Pois bem, fazer um porto tónico é tão rá-
pido como fazer um gin tónico. A única
diferença é que, em vez de 40 graus de
álcool, vai ter 19, com um pouquito mais
de açúcar, logo, mais fácil de beber. Isto
pode conquistar os mais jovens.


Tem saída na vossa ementa?
Já está na lista das nossas esplanadas e
cada vez vejo mais sítios onde o fazem.
As minhas filhas, que têm 22 e 24 anos,
passaram a beber porto tónico em vez de
gin. Temos de continuar a tentar, porque
senão vamos mal.


Há cinco grandes empresas, a Sogevinus
será a quinta maior. Estas empresas cos-
tumam trabalhar em conjunto ou andam
de costas voltadas?
A Associação de Empresas de Vinho do
Porto (AEVP) reúne as grandes empresas
na direção e, na verdade, a colaboração é
boa. No fundo, todos estamos preocupa-
dos em conseguir novos consumidores.
Todos fazemos Porto e DOC e todos que-
remos desenvolver o produto. Nestes dois
anos e pico que cá ando, houve bastante
colaboração. Já ouvi que não seria assim
no passado, mas hoje vejo bastante cola-
boração e bom ambiente.


Mas os viticultores sentem-se cada vez
mais esmagados face aos monopólios que
se vão criando.
O problema é que aqui os viticultores são
todos de minifúndio, muito dependentes
do benefício e do clima. Este ano, infeliz-
mente, vai ser mau. Há que investir mais


“JUAN CARLOS ESCOTET


APAIXONOUSE PELO


DOURO, PELOS VINHOS


E PELA CIDADE”


O dono do Abanca, milionário venezuelano que detém
o Grupo Banesco e que também preside à administração
da Sogevinus, é quem mais empurra os investimentos no setor

O facto de a Sogevinus
ter um banco como
o Abanca por detrás
ajuda?
Não deveria dizer isto,
mas vou dizê-lo: tem a
sua parte boa e má. A
parte má é que, muitas
vezes, olham para os
negócios como se olha
para os negócios num
banco. E aqui o payback
do negócio, o retorno do
investimento, é muito
mais lento. O que tem de
bom? O acesso ao finan-
ciamento é relativamen-
te mais fácil.

Mas a banca, hoje,
está muito concentra-
da a desfazer-se do
imobiliário, que não
faz parte do seu core
business. E, neste caso,
é ao contrário, tem feito
bastantes investimentos
imobiliários!
Bom, se for ver as
participadas do Abanca,
percebe que o core busi-
ness é a banca e seguros.
Mas veio cá o senhor
Escotet [Juan Carlos
Escotet, dono e chairman
do Abanca e também
chairman da Sogevinus],
viu isto, foi ao Douro, viu
os vinhedos e apaixo-
nou-se. Foi por ele que
o Abanca investiu três

milhões de euros na re-
forma das Caves Cálem,
que no ano passado
tiveram mais de 450 mil
turistas, o que nos deve
colocar entre as cinco
mais visitadas do mundo.
Ele gosta muito disto, por
isso não só investiu como
adquiriu coisas novas.

Foi o que aconteceu com
a Quinta da Boavista?
Não estávamos à procura
de nada. A oportuni-
dade surgiu através do
Abanca Portugal, que nos
disse que os proprie-
tários procuravam um
comprador. Analisámos
a operação, as carac-
terísticas da quinta, e
chegámos a um acordo,
uma vez que o conselho
de administração da So-
gevinus achou bem. Fui
o primeiro surpreendido
por terem dito “adiante”
neste contexto. Podiam
ter dito: “Já temos muita
coisa.” Surpreendente-
mente, disseram “vamos
adiante” e foi o acionista
que empurrou para que
se comprasse.

Ele costuma andar por
cá, em férias ou em
passeio?
Sim, ele vem cá bastan-
tes dias por ano. Temos

conselho de administra-
ção quase todos os me-
ses, e ele está presente e
também tem amigos cá.
Ele está muito empe-
nhado, apaixonou-se por
tudo o que é o mundo
dos Portos, dos vinhedos,
dos DOC e pela própria
cidade.

O que me dizem na
região é que este é um
grupo que está em con-
traciclo: enquanto outros
estão a resguardar-se e
até a recuar, este conti-
nua a investir...
Isso mostra duas coisas.
Uma: que quando se
dizia que o banco ia fazer
um negócio para vender
rapidamente, não era
verdade – senão não
estaríamos a investir
tanto. Duas: que vemos
aqui muito potencial. O
banco pegou nisto em
2014 e iniciou um ciclo de
crescimento. Agora, so-
mos quase os primeiros
em Portugal, em valor,
e, nos Portos, estamos a
igualar os amigos da So-
grape. Mas continuamos
a crescer, sobretudo na
exportação, o que nos dá
muito prazer. Aí estamos
num ciclo expansivo,
quando os outros não
estão.
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