Exame - Portugal - Edição 437 (2020-09)

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46. EXAME. SETEMBRO 2020

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á não bastava a transfor-
mação que o setor automó-
vel estava a atravessar, 2020
ainda trouxe uma queda
agressiva nas vendas, devido
à pandemia da Covid-19. Em risco estão
milhões de postos de trabalho e os próxi-
mos anos poderão ditar uma nova ordem
na indústria.
As vendas de veículos poderão registar
este ano uma quebra na ordem dos 20%
(ver gráfico na página seguinte). Segun-
do Calum MacRae, analista da consultora
GlobalData (que vê uma descida de 17,2% e
menos 14 milhões de unidades vendidas),
“esta é uma queda maior do que a que ve-

rificámos durante os dois piores anos da

crise financeira”. E, apesar de ter começa-

do a mostrar sinais de melhorias em junho,

existe ainda um grande receio que uma se-

gunda vaga da pandemia possa deitar abai-

xo a recuperação entretanto conseguida.

A Volkswagen, o maior fabricante

mundial de automóveis, prevê que a re-

toma da economia se dê, em forma de V,

em 2022. A questão, diz o responsável pela

área comercial da marca, Christian Dah-

lheim, é saber “qual será a profundidade

desse V”. Além disso, admite o mesmo

responsável, o problema não será igual em

todas as regiões. Na China, por exemplo,

aquele que é o maior mercado do Grupo

VW, a queda foi grande, “mas esperamos

que comece a voltar ao normal. Aliás, essa

recuperação já começou”, constata. Quan-

to aos outros dois grandes mercados, Eu-

ropa e Estados Unidos da América, Chris-

tian Dahlheim acredita que “o cenário é

muito igual, embora seja mais difícil pre-

ver o que se vai passar nos EUA”.

Neste mercado norte-americano, a

venda de carros novos caiu 23% no pri-

meiro semestre, baixando para 6,48 mi-

lhões de unidades, enquanto na Europa,

o número de carros matriculados nos pri-

meiros seis meses do ano baixou 39,5%

para 5,1 milhões no final de junho últi-

mo, comparando com 8,4 milhões em

AUTOMÓVEL

Em piso escorregadio

Apesar de estar a atravessar uma das maiores crises de sempre, o setor automóvel

conseguiu, durante a pandemia, pôr em curso um dos maiores negócios de sempre desta
indústria e transformar um (ainda) pequeno construtor na empresa mais valiosa em bolsa

Texto Paulo M. Santos