Exame - Portugal - Edição 437 (2020-09)

(Antfer) #1

Macro



  1. EXAME. SETEMBRO 2020


pria, o potencial que ainda não aparece
nos números. E dá como exemplo as pe-
quenas produções que podiam beneficiar,
por exemplo, de coisas tão simples como
uma simples mudança na imagem do ró-
tulo. “As pessoas nem sabem, às vezes, o
impacto que isso tem”, diz, enquanto se
levanta para ilustrar o que acaba de dizer.
Estamos na garrafeira Estado d’Alma,
perto dos escritórios (ainda despidos) da
APENO, em Lisboa, e na prateleira dos vi-
nhos australianos Maria João aponta para
as garrafas da marca “19 Crimes”. A história
de um País contada num rótulo, sublinha,
enquanto lemos a explicação: “Os vinhos
‘19 crimes’ não são apenas sobre a terra
onde as uvas nascem; são sobre a história
das pessoas infames que fundaram essa
terra.” Aquilo que vemos, por exemplo, na
garrafa do Chardonnay é a fotografia real de
uma criminosa condenada e enviada para a
Austrália na época em que aquele país era
uma colónia inglesa. A originalidade é uma
característica graças à qual os vinhos se des-
tacam em qualquer prateleira cheia de ró-
tulos. “Temos designers fantásticos prontos
para responder aos desafios. Temos arqui-
tetos que podem ajudar a renovar salas de
provas, adegas, espaços que recebam visi-
tantes”, conta, entusiasmada, Maria João.


VALORIZAR VINHOS E DESTINO
Para Maria João, é urgente valorizar o que
de melhor se faz no País, e os vinhos são
um dos produtos mais reconhecidos mas
que, para a especialista, menos se fazem
valer. “Vou dizer uma coisa que é um pou-
co polémica, mas é a minha opinião, e não
vou deixar de a dar: acho que os nossos
vinhos são demasiado baratos. Não estou
a dizer que o sejam para o público portu-
guês, porque os nossos salários são o que
são. Mas penso que devia haver uma lei
para que os nossos produtores pudessem
exportar os vinhos e colocá-los, no estran-
geiro, a um preço mais elevado do que cá
dentro. Porque lá fora as pessoas descon-
fiam quando um vinho é barato. E o produ-
tor português devia valorizar-se e pensar
grande”, defende. “Há algo que me inco-
moda imenso, há vários anos, que é o fac-
to de o nosso País ser visto como o paren-
te pobre da Europa, como o País do vinho
barato. Nós produzimos coisas com imensa
qualidade! Só quem não conhece os nossos


vinhos é que pode dizer uma barbaridade
dessas. Ao nível do médio, por exemplo, o
que eu provo em concursos internacionais
não fica nada, nada atrás de outros”, garan-
te. E exemplifica: “Não vou falar de mar-
cas, mas estou a lembrar-me de um vinho
de 3,99 euros que eu, Maria João, consu-
mo algumas vezes porque não me apetece
pensar – e, ao contrário do que as pessoas
pensam, nem todos os dias consumimos
topos de gama”, diz, com uma gargalhada.
“Por esse vinho eu daria, facilmente, uns 8
euros. E eu não sou rica, mas sou de classe
média e acho que faz todo o sentido.”
Questionada sobre o que poderá es-
tar a travar a valorização do produto, so-
bretudo no estrangeiro, a presidente da

0,8%
Contribuição
Atualmente, o setor do vinho
representa quase 1% do PIB nacional.
A APENO quer saber quanto pode
representar o enoturismo

8,7%
Turismo nacional
Em 2019, o turismo contribuiu com
quase 9% para o PIB nacional,
sendo a maior atividade económica
exportadora do País

410


MILHÕES
Receitas
As contas da organização apontam
para um volume de negócios na ordem
dos 400 milhões de euros

100


MIL
Postos de trabalho
A APENO estima que haja 100 mil
pessoas a trabalhar no setor
do enoturismo, mas precisa-se
de contas mais concretas
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