A Bola - 20200907

(PepeLegal) #1

OLA 17


da-feira
bro de 2020
A Bola ao CENTRO

Futebol


unidade


da


so de dever cumprido testemunhado por A BOLA e A BOLA TV, na Pedreira, em Braga PEDRO BENAVENTE/ASF

— Se olhar para o que foi en-
quanto guarda-redes, foi mais tra-
balho do que talento?
— Sem dúvida. Não tenho dúvi-
das disso. Eu trabalhei com colegas
que tinham mais talento do que eu.
E apercebia-me disso. Eu a deter-
minada altura percebi que tinha de
combater isso. Eu era bom na en-
trega, no sacrifício e no trabalho,
então tinha de ser diferente. Se eles
faziam três, eu tinha de fazer seis.
Eu tinha de melhorar de alguma
forma e tinha de ser pelo trabalho.
Eu cedo percebi isso pela vida que
tínhamos. Nós nada mais tínha-
mos. Ou me entregava ao futebol ou
tinha de ir trabalhar para outras
áreas devido à nossa vida familiar.
Desde cedo tive de ter essa vonta-
de. Não havia outra forma. Feliz-
mente, agarrei-me ao trabalho.
Houve muita gente que me ajudou
e que se sacrificou para me dar essa
oportunidade. Lembro-me do se-
nhor Rocha, na fase em que iniciei
a minha carreira. Quando o meu
pai faleceu foi o senhor que tomou
conta de mim. Que me levou a trei-

nar a Guimarães e que quando saí
me trouxe para Braga. Nunca desis-
tiu de mim e deu-me o que foi pre-
ciso. Sem essa pessoa nunca tinha
tido sequer a oportunidade.

— Perdeu o seu pai muito novo

num acidente de viação, numa noi-
te de passagem de ano. Esse aci-
dente deu-lhe uma força extra que
marcou a sua vida enquanto joga-
dor?
— Foi uma fase complicada da
nossa vida. Não foi fácil para nós. O
meu pai era o sustento da nossa fa-
mília. Nós trabalhávamos todos
numa quinta e tivemos de sair de lá
de um dia para o outro, sem nada.
Passámos por algumas dificulda-
des e foi na altura que fiz a transi-
ção para o Vitória de Guimarães. A
minha mãe ficou sozinha e os meus
irmãos foram para o Luxemburgo.
Foi uma fase complicada. Se tivés-
semos tido o suporte do meu pai as
coisas podiam ter sido iguais ou di-
ferentes. Mas sem dúvida que essa
foi uma fase que me marcou e à mi-
nha família.

— Agarrou-se a uma história de
vida que quis escrever depois da-
quele acidente?
— Eu agarrei-me a uma opor-
tunidade que eu tinha na minha
vida de ser alguém. Em Trás-os-

-Montes é difícil ter oportunida-
des. Quase não há referências no
futebol, tirando o Chaves que é o
clube mais expressivo daquela
zona. Há lá miúdos com talento,
mas quando percebem que não há
oportunidades, e face às dificulda-
des por que têm de passar, desis-
tem. Eu tinha de caminhar quiló-
metros pelo monte, ou pela linha
do comboio, para ir para o treino.
Voltava às nove da noite. Tinha de
atravessar os olivais... Muita gen-
te não se revia nisso e questiona-
va-se se valeria a pena tudo aqui-
lo. Optava por se dedicar ao
trabalho com as famílias nas quin-
tas ou nas aldeias. Acabam por de-
sistir por não verem futuro. Eu tive
a felicidade de, naquela altura, ter
uma pessoa que acreditou em mim
e me levou à experiência ao Vitó-
ria de Guimarães, ao Sporting, ao
FC Porto e ao SC Braga. Isso acon-
teceu graças a uma pessoa que se
sacrificou e se dedicou a mim. De
outra forma seria difícil e para mim
foi claro naquela altura. Mesmo
sendo muito novo, eu percebi que
ou aproveitava, e me dedicava, ou
teria outro futuro, diferente com
toda a certeza.

— Eduardo está orgulhoso da
carreira enquanto guarda-redes e
de muitas defesas feitas. Desafiado
a apontar a defesa que marca a vida
de jogador, tem muitas dificulda-
des em escolher (apenas) uma?
—Há muitas. Quando vou de
Braga para o Beira-Mar, com o mis-
ter Carvalhal, foi uma etapa im-
portante. Depois saí e fui para Se-
túbal e foi outra etapa importante.
É difícil escolher uma fase da vida
em que damos o salto. Em que
aquela defesa faz a diferença. Es-
tive cinco anos na equipa B do SC
Braga antes de chegar ao escalão
principal. E tive de sair para jogar
noutro clube e só depois voltar...
Nunca desisti e percebi que na vida
o trabalho dá sempre a volta. Te-
mos é de perceber que não pode-
mos desistir.

Ídolo? Preud’homme. Via


os jogos dele e tentava


imitá-lo, até a maneira


como ele batia as bolas


Quando o meu pai


faleceu foi o senhor


Rocha que me levou


a treinar a vários clubes


PEDRO BENAVENTE/ASF PEDRO BENAVENTE/ASF

HOJE


21.15 h


O balanço de uma carreira «digna»,
conforme destaca Eduardo, para ver hoje no
seu canal de desporto. Ao guarda-redes
português não lhe faltam histórias...

Entrevista a Eduardo
a não perder no seu canal

Nome completo
— Eduardo dos Reis Carvalho
Data de nascimento
— 19 de setembro de 1982 (37 anos)
Naturalidade
— Mirandela
Clubes
jSC Braga B (2001 a 2006)
jSC Braga (2006 a 2010)
jBeira-Mar (2007, cedido)
jV. Setúbal (2007/08, cedido)
jGénova (2010 a 2014)
jBenfica (2011/12, cedido)
jBasaksehir (2012/13, cedido)
jSC Braga (2013/14, cedido)
jDínamo Zagreb (2014 a 2016)
jChelsea (2016 a 2019)
jVitesse (2018/19, cedido)
jSC Braga (2019/20)
Títulos
j2 Taças da Liga (V. Setúbal,
2007/2008; Benfica, 2011/2012)
j1 Taça Intertoto (SC Braga, 2008)
j2 Ligas croatas (2014/
e 2015/2016)
j2 Taças da Croácia (2014/
e 2015/2016), no Dínamo Zagreb

j EDUARDO


BI


jCampeão da Europa em 2016

36
INTERNACIONALIZAÇÕES

seleção nacional


PEDRO BENAVENTE/ASF
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