18 A BOLA
Segunda-feira
7 de setembro de 2020
A Bola ao CENTRO
Futebol
PEDRO BENAVENTE/ASF
A
CABOU a carreira na úl-
tima jornada da Liga
portuguesa. Percebeu
por que razão ficou no
banco de suplentes?
— Claramente. Nem fazia senti-
do. Estava preparado para jogar,
como sempre estive ao longo da
época, mas, naquele momento, não
era justo. Terminámos da melhor
maneira possível. Face a tudo o que
foi a época, termos chegado ao fim
daquela forma, foi magnifico. Ficá-
mos em terceiro lugar, foi um ano
histórico para nós e não podia ter
terminado da melhor maneira.
— Em que momento decidiu que
o seu lugar já não era na baliza,
mas sim cá fora?
— A conversa foi inesperada e
surgiu do presidente [do SC Braga,
António Salvador]. Dada a situação
do clube, contava comigo para in-
tegrar a equipa técnica. Não foi fá-
cil para mim decidir acabar a car-
reira e começar como treinador de
guarda-redes, mas temos de per-
ceber as diferentes fases da vida.
Foram dias difíceis, até tomar uma
decisão, mas senti orgulho por o
clube olhar para mim como al-
guém que podia dar mais a esta
casa no futuro. Depois de falar com
o presidente, entendemos que o
melhor era cessar funções de um
lado e iniciar do outro. Era impor-
tante continuar a ajudar o clube a
crescer. Custou-me, mas senti que
era a altura. Senti que ainda con-
seguia continuar a jogar, mas é
importante termos a capacidade
de aceitar uma nova etapa. Estou
motivado e confiante que as coi-
sas vão correr bem. Sinto que es-
tou preparado e que tomei a deci-
são certa, na altura certa.
— Chorou no final?
— Não sei se chorei, mas não é
fácil dizer: acabou! Vamo-nos pre-
parando, mas quando chega o dia
não é fácil. Foram muitas emo-
ções. Hoje, tenho a certeza de que
tomei a decisão certa.
— Como está a ser a experiência
como treinador de guarda-redes?
— No treino era chato e quase in-
suportável, mas fora do treino era
muito brincalhão. Agora passo nos
corredores e eles brincam comigo,
eu quero responder, mas não pos-
so. Agora tem de mandar o mister
[gargalhada]. Tenho de estar mais
calmo. Como jogador eu era muito
explosivo e chateava-me com os
jFrente ao FC Porto, na derra-
deira jornada da Liga 2019/20,
Eduardo fez o último jogo
POR ONDE ANDOU A VOAR EDUARDO
«A sorte dá
muito trabalho»
— Estreia na Liga, no Beira-Mar, com
Carlos Carvalhal, em 2006/2007:
— Havia uma ansiedade em mim de
quando é que chegava a minha hora. Eu
estava na equipa B do SC Braga, treinava
com o Carvalhal, mas não jogava. Quando
ele foi para Aveiro surgiu a possibilidade
de jogar e para mim tornou-se bastante
claro que tinha de aproveitar. Estou
muito grato ao Beira-Mar por na altura
me ter dado essa oportunidade.
— Em 2007/2008 conquista a primeira
Taça da Liga, no Vitória de Setúbal:
— Fizemos uma época espetacular no
Vitória de Setúbal, que culminou com a
conquista da Taça da Liga. Foi brilhante para
todos nós. O Carvalhal era o treinador. Tinha
jogado seis meses no Beira-Mar e com a
época que fizemos em Setúbal fomos
todos valorizados. Há dias que marcam a
vida da gente, como diz o fado, e esse dia
marcou a minha carreira. Fez com que
olhassem para mim e acreditassem que
podia ir para outros voos. No ano seguinte
voltei ao SC Braga.
— Regressa a Braga para finalmente
jogar na equipa principal:
— A sorte dá muito trabalho. Não cai do
nada. Temos de estar lá para acontecer e
isso dá muito trabalho. A sorte procura-se.
Quem está na bancada não tem a sorte de
fazer um grande jogo. Temos de trabalhar
para estar dentro da equipa, para depois ter
a sorte de fazer um grande jogo. Consegui o
meu lugar no SC Braga e conquistar um
segundo lugar na Liga.
— Depois do Mundial na África do Sul,
primeira experiência no estrangeiro, no
Génova:
— Foi uma competição e uma maneira de
jogar diferentes. Podia ter ficado lá mais
uma época, mas são as decisões que
tomamos. Hoje é fácil dizer isso. Mas
naquela altura, em 2011, tinha várias
propostas para sair. Optei por ir para o
Benfica. Na altura achei que era a decisão
que devia tomar.
— Não correu bem no Benfica e apareceu
Carlos Carvalhal e um desafio na Turquia
chamado Basaksehir.
— Fomos para uma experiência diferente
num clube diferente do que é agora. Fez-
-me crescer. Como todos eles. Depois
voltei ao SC Braga e entretanto fui para o
Dínamo de Zagreb.
— Dínamo de Zagreb para ser campeão e
conquistar duas Taças:
— Vivi coisas fabulosas na Croácia. Fomos
campeões sem perder qualquer jogo.
Joguei duas Ligas dos Campeões.
Ganhámos um jogo na Liga dos Campeões
ao Arsenal. Foram anos bonitos na minha
vida. Foi um sítio onde gostei de estar, é um
clube ao qual estou muito grato. O trabalho
lá levou-me ao Chelsea. O Dínamo fez tudo
para que eu ficasse e ofereceu-me um
contrato melhor do que o que iria ter no
Chelsea. Mas não podia recusar ir para o
Chelsea.
— Não jogou, mas no Chelsea conquistou
uma Premier League e uma Taça:
— Sabia que não ia jogar e sabia para o que
ia. Mas não podia dizer não a um clube da
Liga inglesa. Sempre ambicionei jogar em
Inglaterra. O Chelsea ficou grato ao meu
trabalho e mesmo sem espaço para jogar,
por limite na inscrição, renovaram-me o
contrato e emprestaram-me ao Vitesse.
Dei tudo. Foi incrível.
— Depois da Holanda, o regresso a Braga:
— Sacrifiquei muito a parte familiar ao longo
da minha carreira. Para mim era claro que
tinha de regressar a Portugal. Deixar a
minha carreira lá fora para dedicar-me à
minha família e estar perto da minha filha. É
duro estar lá fora sem ninguém. Foram
muitos anos. Sei o que isso me custou e
percebi que tinha de regressar. Tive
propostas de outros clubes, mas quando
surgiu a possibilidade do SC Braga ficou
claro que iria encerrar a carreira onde
comecei. É no SC Braga que me sinto bem.
«Sou muito impulsivo,
agora tenho de ser
mais ponderado»
Concluído o trajeto enquanto jogador, já iniciou funções de treinador de guarda-redes do SC Braga na equipa técnica do «amigo» Carvalhal
Faltou-me
ser campeão e ter ido
a uma final da Taça
de Portugal. Mesmo
PEDRO BENAVENTE/ASF
À conversa com A BOLA e A BOLA TV, no estádio do SC Braga