Clipping Banco Central (2020-09-15)

(Antfer) #1

1920: um rei na capital federal


Banco Central do Brasil

Correio Braziliense/Nacional - Opinião
terça-feira, 15 de setembro de 2020
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Autor: PATRICK HERMANN Embaixador da Bélgica no
Brasil


Há 100 anos, em 19 de setembro de 1920, a capital do
Brasil recebeu um soberano estrangeiro pela primeira
vez: tratava-se do rei dos belgas, Alberto I. A visita de
Estado a convite do presidente Epitácio Pessoa
permanece praticamente única na história diplomática
mundial. O rei tornou-se Cidadão Honorário e Marechal
do Brasil e recebeu a Grã-Cruz da Ordem do Cruzeiro
do Sul. Ele inaugurou a Avenida Niemeyer, no Rio, um
viaduto, muitas ruas e escolas receberam seu nome e o
da esposa, a rainha Elisabeth.


Durante paradas, revistas militares e desfiles nas ruas,
dezenas de milhares de soldados, marinheiros e
policiais saudaram o Rei-Soldado, herói da Grande
Guerra na Europa. Incentivados pelos feriados
decretados para a ocasião, milhões de brasileiros foram
às ruas para ver o casal real passar, muitos também
correram para a praia de Copacabana para vê-los
nadando com maiôs -- atividade até então incongruente
para um burguês e para um rei.


A oferta de tal luxo ao líder de um pequeno país
europeu é menos surpreendente do que parece se
soubermos que, antes da guerra, a Bélgica era o
terceiro maior investidor no Brasil (e o é ainda hoje,
segundo o critério de controlador final do Banco
Central do Brasil). Como resultado da visita, a Belgo-
Mineira foi criada no ano seguinte e lançou a siderurgia
moderna do Brasil.

Mas, além da economia, no Rio, em Belo Horizonte e
em São Paulo, muitas das maiores mentes artísticas,
criativas e inovadoras do país estiveram envolvidas no
evento, com jóqueis, iatistas, aviadores, chefs,
ginastas... e 1.500 jogadores de futebol reunidos para
uma partida de exibição no estádio do Flu.

A galeria de retratos das celebridades da época
envolvidas durante o mês que durou a visita inclui Heitor
Villa-Lobos, Donga e os Oito Batutas, os aviadores
Alberto Santos-Dumont e Edu Chaves, Raul
Pederneiras, o jovem Carlos Drummond de Andrade,
dezenas de virologistas e biólogos dos institutos
Oswaldo Cruz/FioCruz e Butantã e o Jardim Botânico do
Rio, que o rei e a rainha visitaram longamente.

Recebido no Parlamento e no STF, o rei se encontrou
com os grandes políticos da época -- entre eles, meia
dúzia de ex-presidentes e futuros presidentes. Grande
amigo de Pessoa, que conhecera na Conferência de
Versalhes, e do seu grande rival, o senador Ruy
Barbosa (que jantou com ele no último dia da visita), o
rei pôde agradecer a este e a outros que -- como seu
colega Irineu Machado -- trabalharam na defesa da
Bélgica desde a invasão em 1914.

O rei e a rainha passaram inúmeros dias na capital
federal e lá encontraram diversas vezes o governador
Carlos Sampaio, mas eles não vieram ao Centro-Oeste
porque o DF ainda era a Guanabara. No entanto, os
passos do geodesista belga Louis Ferdinand Cruls, que
havia marcado a futura capital um quarto de século
antes, interessaram ao monarca, que conheceu outros
"pioneiros", incluindo o engenheiro e explorador militar,
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