Banco Central do Brasil
O Globo/Nacional - Economia
quarta-feira, 16 de setembro de 2020
Banco Central - Perfil 1 - Paulo Guedes
A turbulência causada pelas declarações não enterrou
de vez o Renda Brasil, dizem fontes próximas às
negociações.
Na avaliação de um auxiliar de Guedes, o presidente
não desistiu de imprimir sua marca na área social e
deve insistir no programa. A reação teria sido apenas
uma forma de mitigar a repercussão negativa em torno
dos cortes de benefícios.
Segundo outra fonte, Bolsonaro não abandonará
completamente o debate, porque dependerá da
manutenção de algum tipo de ação mais ampla que o
Bolsa Família em 2021 para manter a popularidade em
alta na fase pré-eleitoral.
Criado por causa da crise do coronavírus, o auxílio
emergencial beneficia mais de 65 milhões de pessoas.
Desse total, 19,2 milhões têm cadastro no Bolsa
Família. Ou seja, com o fim do auxílio, 45 milhões de
brasileiros deixariam de receber repasses do governo,
hoje em R$ 300, a partir de janeiro.
Diante da insustentabilidade de prorrogar essa ajuda
federal no ano que vem, o Renda Brasil seria opção
intermediária, com 50 milhões de beneficiários e valor
médio de R$ 300 por família. Mas isso custaria mais de
R$ 50 bilhões por ano, dinheiro que o governo não pode
gastar sem comprometer o teto de gastos, que limita o
avanço das despesas públicas, ou cortar em outras
áreas, o que causa resistência.
O auxílio emergencial também foi importante para evitar
retração ainda maior da atividade econômica. Só até
maio, a massa de salários encolheu em R$ 35 bilhões -
perda mais que compensada pela injeção de R$ 45
bilhões na economia só naquele mês. Segundo a MB
Associados, a retirada do benefício sem a substituição
por outro programa pode tirar 2,4% do PIB no ano que
vem. Isso porque o benefício ajudou a manter parte do
consumo das famílias, um dos motores da economia
brasileira.
COMPROMISSO COM O TETO A solução para o
impasse continuará a ser discutida não só na equipe
econômica, mas por parlamentares, dizem fontes
próximas a Bolsonaro. Segundo o deputado Felipe
Rigoni (PSB-ES), integrante da Frente Parlamentar em
Defesa da Renda Básica, o tema deve avançar no
Legislativo.
- Vai ter que ter alguma coisa. O Bolsa Família, mesmo
antes da pandemia, é defasado demais. Tem muita
gente de fora e o valor já estava defasado - afirma o
parlamentar. - A gente, no parlamento, tem que avançar
a discussão por nós mesmos. Só é mais difícil, sem o
governo trabalhando junto.
A crise, porém, serviu para sinalizar apoio ao teto de
gastos, na avaliação de Guedes e observadores.
- O presidente reafirmou o conceito de responsabilidade
fiscal. Ele abre mão de ter um programa se, primeiro,
tiver que ser irresponsável fiscalmente, e dois, não vai
tirar do pobre para dar aos mais pobres. Afirmação
inequívoca, cristalina - disse Guedes.
Para o economista Arnaldo Lima, diretor de Estratégias
Públicas da MAG, a declaração de Bolsonaro é um sinal
positivo ao mercado.
- O teto não permite aumentar o valor do benefício do
Bolsa Família ou a criação do Renda Brasil. O auxílio
emergencial já trouxe a popularidade desejada, apesar
de poder ser momentânea. O dilema surgirá quando
acabar o auxílio, leia-se dezembro.
"Até 2022, no meu governo, está proibido falar a palavra
Renda Brasil. Vamos continuar com Bolsa Família e
ponto final"
Jair Bolsonaro, presidente da República
"O cartão vermelho não foi para mim, esclarecendo todo
mundo. Conversei com o presidente hoje cedo"
Paulo Guedes, ministro da Economia
Dólar sobe 0,24%, a R$5,28