O Dia (2020-09-21)

(Antfer) #1

RIO DE JANEIRO


Equipamento quebrado interrompe


radioterapia no Hospital do Fundão


Unidade admite


problema e diz que


reparo está em


andamento


Denise Durand, de 63 anos: tratamento interrompido na etapa final

A pandemia da covid-19 de-
sestabilizou ainda mais o
já frágil sistema de saúde
do Rio, que continua a so-
frer com novos problemas.
Desta vez, a preocupação é
em relação aos pacientes
que lutam contra o câncer
no Hospital Universitário
Clementino Fraga Filho, na
Ilha do Fundão: familiares
denunciam que o equipa-
mento de radioterapia da
unidade está quebrado.
Uma das pacientes que
não conseguem dar conti-
nuidade no tratamento é
Denise Durand, de 63 anos.
Ela foi diagnosticada com
câncer de mama e já passou
por quimioterapia e cirurgia.
Agora, perto da cura, não
consegue realizar a radiote-
rapia, que seria a etapa final
de seu tratamento.
“Estavam programadas
mais 25 sessões e outras cin-
co de reforço. Ela fez a cirur-
gia em julho e era para ter
sido chamada até sexta pas-
sada. Quando ligamos para
o Hospital do Fundão, infor-
maram que a máquina esta-


va quebrada e sem previsão
de começar o tratamento”,
explica Aline Durand, filha
de Denise.
O receio de Aline é que a
demora provoque avanço da
doença. “O tratamento não
pode ser muito espaçado
senão as células canceríge-
nas se desenvolvem em ou-

tro lugar. Essa situação está
condenando a vida de várias
pessoas”, lamenta.
Médica oncologista, Sabi-
na Aleixo confirma os riscos
do adiamento no tratamen-
to. “Estudos sugerem que a
demora na realização de ra-
dioterapia pode ocasionar
alteração no controle local

da doença e reduzir taxas
de cura”.

EXPLICAÇÕES
Em nota, a assessoria de im-
prensa do hospital admitiu
que o aparelho de radiote-
rapia está quebrado. E disse
que já tomou as providências
para o reparo.
“O acelerador linear do
Hospital do Fundão apresen-
tou problemas no servidor
ao longo da semana passada,
e isto inviabiliza a realização
do tratamento, pois impede
a transferência de imagens.
O processo de reinstalação
do sistema está em anda-
mento pelos técnicos da em-
presa fabricante do equipa-
mento, e amanhã (hoje) será
apresentado um laudo que
vai possibilitar o ajuste pre-

ciso”, diz a nota enviada ao
jornal O DIA.
A assessoria de imprensa
do Hospital do Fundão tam-
bém informou que o aten-
dimento deve ser retomado
na próxima semana e que a
Regulação da Secretaria Es-
tadual de Saúde está ciente
da situação.

JULIANA PIMENTA
[email protected]


Tempo ruim segue até quarta. Marinha


alerta para ressaca entre hoje e amanhã


Chuva e frio afastam

cariocas das praias

ESTEFAN RADOVICZ

Mirante do Leblon ficou vazio com a chuva na tarde de ontem

O tempo ruim no fim de
semana ajudou a evitar
as cenas de aglomeração
nas areias das praias, ve-
rificadas nas semanas
anteriores em desacordo
com as normas de segu-
rança contra a dissemi-
nação da covid-19. Com
a chegada de uma frente
fria na tarde de sábado,
os cariocas fugiram dos
pontos turísticos da ci-
dade. Pela manhã, pou-
cas pessoas foram vistas
passeando nas praias de
Ipanema e do Arpoador,
e no Mirante do Leblon.
Ontem, a temperatura fi-
cou entre 18°C e 26°C.

NOS PRÓXIMOS DIAS
Segundo o AlertaRio,
o tempo hoje continua

chuvoso e com temperatu-
ra mais fria, que deve ficar
entre a máxima de 22°C e a
mínima de 17°C.
A temperatura se mantém
baixa também amanhã, com
máxima de 22°C e mínima
de 16°C. As chuvas tendem a
diminuir, mas devem ocor-
rer ao longo do dia. O sol
volta a aparecer na quarta-
feira, ainda encoberto pelas
nuvens, com chuva fraca e
isolada durante a madruga-
da e a manhã. A temperatura
sobe um pouco, com máxima
de 26°C e mínima de 17°C.
A Marinha do Brasil ain-
da emitiu um aviso de ressa-
ca no mar para esta semana.
Ondas de até três metros de
altura podem atingir a orla
do Rio das 9h de hoje até as
9h de amanhã.

O estado de caos na saúde pública


Salários atrasados e condições precárias fazem parte da rotina nas unidades. Agentes protestam hoje


LUCIANO BELFORD

F


uncionários da saúde
fazem, na manhã de
hoje, uma manifesta-
ção em frente à Alerj
para cobrar do governo do
estado melhorias para a cate-
goria. Seis meses após o início
da pandemia da covid-19, os
sindicatos laborais alegam
que cerca de oito mil profis-
sionais de diversas unidades
estaduais estão com salários
atrasados. Muitos foram de-
mitidos e não receberam se-
quer a rescisão do contrato. E
quem ainda está na frente de
combate à doença sofre com
condições de trabalho precá-
rias e sobrecarga de serviço.
Segundo o Sindicato dos
Enfermeiros (SindEnfRJ), oito
unidades de saúde do estado
estão com os pagamentos em
atraso, além do Samu e dos
hospitais de campanha.
“Os servidores estão des-
valorizados, com os piores sa-
lários já vistos. Tivemos que
entrar na Justiça contra a Fun-
dação Estadual de Saúde para
que fosse pago o piso salarial.
Muitos trabalhadores não têm
carteira assinada, direito de
férias, direito de licença ma-
ternidade e décimo terceiro”,
afirma Líbia Bellusci, vice-pre-
sidente do SindEnfRJ.
Para Líbia, a pandemia da
covid-19 só agravou a situa-
ção dos profissionais de saú-
de: “O governo viu mais de
40 trabalhadores morrerem,
sem condições básicas de
serviço, sem insumos, com
equipe reduzida, com esgo-
tamento profissional e sem
equipamento de proteção
individual. Esses, quando
chegavam, eram em quanti-


dade insuficiente. O Sindica-
to dos Enfermeiros precisou
de uma liminar para afastar
os trabalhadores do grupo
de risco. Mas o estado recor-
reu, e tivemos mais mortes”.
Ela chama atenção para a
situação dos que atuaram nos
hospitais de campanha. “Eram
péssimas as acomodações e
condições de trabalho. Antes
de os hospitais fecharem, vie-
ram os atrasos salariais e de-
missões em massa. Os traba-
lhadores foram jogados fora
como lixo, pois não serviam
mais para o estado. Mas eles
têm famílias para alimentar,
aluguel para pagar, entre ou-
tros compromissos”, diz Líbia.
Um enfermeiro que traba-
lhou no Hospital de Campa-
nha do Maracanã conta que
os problemas começaram
com o atraso nas passagens e
falta de medicamentos. Com
a saída da Iabas, em junho, a
Fundação Saúde assumiu a
administração, e teve início
o imbróglio para o pagamen-
to dos salários.
“Eles começaram a não
pagar o valor total, algumas
pessoas não recebiam o di-
nheiro da passagem e mes-
mo assim eram descontadas
se faltassem. Não havia me-
dicações, principalmente se-
dativos, antibióticos e remé-
dios para relaxamento mus-
cular, usados na intubação.
Em junho, as coisas piora-
ram, as escalas mudaram e o
nosso pagamento atrasou. E
começou o jogo de empurra
entre Iabas e Fundação Saú-
de sobre a responsabilidade
dos atrasados. Ficamos sem
receber em julho e sem res-
cisão”, diz Anderson Pereira.

ALINE CAVALCANTE
[email protected]


Colaborou a estagiária Julia Noia

SEM PAGAMENTO

N (^) Segundo o Sindicato dos
Enfermeiros (SindEnfRJ),
as unidades de saúde do
estado que estão com os
pagamentos dos profissio-
nais em atraso são: hospi-
tais de campanha (julho e
rescisão), Samu (agosto,
setembro e rescisão), Hos-
pital Estadual Anchieta (
dias), Hospital de Trauma-
tologia e Ortopedia — HTO
(junho e julho), Hospital Es-
tadual Adão Pereira Nunes
— Saracuruna (julho, 15 dias
de agosto, rescisão e direi-
tos das gestantes e licen-
ciados), Hospital da Mulher
(agosto), Hospital da Mãe
(julho e seis dias de agosto),
Hospital Carlos Chagas (ju-
lho e agosto), UPA São Pe-
dro (junho, julho e agosto)
e Hospital Estadual Alberto
Torres (julho e agosto). Anderson Pereira, enfermeiro que atuou no Hospital do Maracanã (no
alto), é um dos profissionais que estão com pagamentos atrasados
CARLOS CHAGAS
N (^) Há mais de dois anos no
Hospital Estadual Carlos
Chagas, em Marechal Her-
mes, um enfermeiro relata
que não houve pagamento
de salário nos meses de ju-
lho e agosto, e que há fal-
ta de medicamentos, gaze
e ataduras no CTI, onde o
ar-condicionado precisa ser
desligado em alguns mo-
mentos para não pingar em
cima dos pacientes. Segun-
do ele, não há equipamen-
tos de proteção individual
(EPIs), e os funcionários es-
tão passando dificuldades:
“Alguns colegas não estão
mais em condição de ir tra-
balhar porque estão sem
dinheiro. Há gente até com
ordem de despejo”.
RESPOSTA DO ESTADO
N (^) A Secretaria de Estado de
Saúde (SES) contesta a in-
formação de que haja falta
de medicamentos, insu-
mos e EPIs no Hospital Es-
tadual Carlos Chagas, além
de negar problemas com o
ar-condicionado.
Com relação aos paga-
mentos, a SES afirma que os
repasses referentes a julho e
agosto ocorreram na sema-
na passada às organizações
sociais (OS).
Já a OS Lagos Rio garan-
tiu que os salários dos fun-
cionários do Hospital Esta-
dual Alberto Torres serão
pagos hoje.
Medicamentos
e insumos em
falta no CTI
ARQUIVO PESSOAL
Assessoria do
hospital diz que
tratamentos serão
retomados na
próxima semana
O DIA I SEGUNDA-FEIRA, 21. 9. 2020 3

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