Claude Lévi-Strauss - As estruturas elementares do parentesco (1982, Editora Vozes) - libgen.lc

(Flamarion) #1
reduzidas a duas secções (biola e vee), cada uma composta de dois ngupu
que são uluapie relativamente um ao outro, Sellgman reconhece, no final
de uma análise rigorosa, que "as condições atualmente existentes... são
quase exatamente as requeridas pela hipótese fundada sobre a história
indigena". :1
Assim, a estrutura social dos Mekeo foi modificada por influência
de dois fatores, a saber, de um lado movimentos migratórios que intro-
duziram elementos alógenos, e de outro lado uma tendência interna. "Há,
e provavelmente sempre houve, um movimento centrifugo que, na au-
sência de todo poder central solidamente estabelecido, favoreceu a for-
mação de grande número de panguas por fissão dos grupos primitivos" _ ..
A organização antiga dos Biofa e dos Vee, cada um dividido em duas
metades exogâmlcas obrigadas a serviços recíprocos, complicou-se e di-
versificou-se. Continua nO entanto a se exprimir na relação dos ufuapie,
cuja presença se explica menos comO sobrevivência histórica do que co-
mo principio regulador que, de modo sem dúvida Imperfeito, conseguiu
contudo subsistir.
Esta independência respectiva do principio de reciprocidade e das
instituições temporárias pelas quais este principiO se exprime em tal ou
qual sociedade e num ou noutro momento de sua história sobressai
também claramente no caso dos Naga do Assam. Seus representantes
setentrionais e orientais, os Konyak, subdividem-se em dois grupos lin-
güísticos, Thendu e Thenkoh, diferenciados também por partiCUlaridades
do vestuário. Os dois grupos são endógamos, quer vivam na mesma al-
deia l' 'ou em aldeias diferentes." Mas cada aldeia possui uma Casa dos
Homens ou morung. Algumas têm duas, e outras mais. Cada morung cor-
responde a um khel ou subdivisão da aldeia e agrupa vários clãs hierar-
quizados, entre os quais o casamento é proibido. O morung funciona
pois, ao menos em certos casos, como uma unidade exogâmica. Entre-
tanto, a exogamia de clã existe sem prejuizo da exogamia de morung, e
em certas aldeias, por exemplO a de Wakching, os morung são grupados
dois a dois para formar dois pares exógamos: Oukheang e Thepong de
um lado, e Balang e Bala de outro. O casamento faz-se por troca de
presentes entre o noivo e seus sogros, "trocas que se repetem até a
morte do genro e que, em certos casos, prolongam-se ainda além" ... Este
sistema de prestações de serviços entre morung regulamenta toda a vida
econômica e cerimonial das aldeias que o praticam. Assim, o morung
é o centro da vida da aldeia, "o pilar de sua organização social e po-
lítica. O sistema de morung determina as relações de cada homem e de
cada mulher com os outros membros da comunidade e fornece um qua-
dro à rede das obrigações recíprocas entre os indivíduos e os grupos.
Reforça o sentimento de unidade do grupo... encoraja ao mesmo tempo
o espirito de emulação... e estimula também a vida da aldeia inteira"."
Ora, este sistema fundamental de direitos e deveres reCíprocos está
constantemente à mercê de conflitos e discórdias que impõem comple-


  1. Ibid., p. 352.

  2. Ibid., p. 367.

  3. J. H. Hutton, The Angami Naya, Londres 1921, p. 11455.

  4. Christoph von FUrer-Haimendorf, The Morung System of the Konyak Nagas,
    Assam, Journat 01 the Royal Anthropological Institute, vaI. 68, 1938.

  5. Ibid., p. 362.

  6. Ibid., p. 376.


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