executaria um movimento giratório. Sem dúvida, é possível que não re-
torne exatamente ao ponto de partida. Mas é possível considerar estatis-
ticamente provável que, se vários ciclistas efetuam no mesmo sentido um
número suficie.ntemente elevado de percursos, passarão inevitavelmente
pelo ponto de partida de um deles, e isto um grande número de vezes.
Para q4t um sistema matrilateral seja totalmente destituído de circu-
laridade seria preciso que o número das "local lines" fosse infinito.
Quanto menos numerosas forem maiores serão as probabilidades de se
manifestar uma circularidade aproximada. Com efeito, a circularidade dos
sistemas assimétricos não depende de uma disposição pré·ordenada dos
"local groups", mas do fato de, qualquer que seja o modo como esta-
beleçam relações entre si, o espaço genealógico no qual se movem ser
"curvo".
Por conseguinte, é possivel estar de acordo sobre a distinção entre
as "local !ines" e as "descent lines". Não deixa entretanto de ser ver-
dade que a interpretação definitiva do sistema Murngin choca·se com
nossa ignorância primeiramente do número das "local lines" em um mo-
mento qualquer, e em segundo lugar do comprimento das redes de ali·
ança que as unem. São curtas? São longas? Fecham·se ou não? Se to-
das estas eventualidades se realizam, isso se dá com que freqüência e
em que proporção?
Somente possuindo a resposta a estas questões é que se poderia en-
trever a solução de um problema que Murdock e Lawrence de um lado,
Berndt e Leach do outro, julgaram com demasiada pressa poder resol·
ver, mas em sentidos opostos, uns afirmando a equivalência das "descent
lines" e das /lloeal lines", os outros rejeitando-a totalmente.
A verdade parece ser que, embora teoricamente distintas, umas no
plano conceitual, outras no plano demográfico, devem, na prática, pOder
ser até certo ponto ajustadas. Conforme acentuava na primeira edição
deste livro, não sabemos exatamente como os Murngin procedem para
chegar a este fim. A estrutura do sistema é tal que existem "local lines",
e que estas podem organizar-se em ciclos de aliança. Deve-se, portanto,
encontrar empiricamente ciclos de diversos comprimentos, mas que não
podem nunca ser ímpares (por motivo da divisão em metades patrili·
neares). Quando estes ciclos = 7 + I, 7 + 3, 7 + 5, etc., a nomencla·
tura que lhes é aplicável é a que foi observada por Warner e por Elkin.
Está claro que a observação controvertida de Webb, mas contudo per-
feitamente plausível, refere·se a um caso particular, aquele em que o
ciclo das "local lines" = 7 - L
O paradOXO Murngin, afinal de contas, reduz-se a isto - de que em
páginas anteriores propúnhamos já uma interpretação - que um siso
tema conceitual ("descent lines") de ordem ímpar é utilizado para des-
crever um sistema real ("local lines") de ordem par. O ajuste faz-se ou
mediante reduplicação (Elkin, Radcliffe·Brown), ou por eliminação (Webb)
de certas séries conceituais. Mas não há nenhuma razão teórica para
dar exclusividade a um ou a outro procedimento. Porque seria um abuso
igual afirmar, conforme fazem implicitamente os observadores, mas con-
tradizendo-se uns aos outros, ou que as "local lines" nunca se "cicIam",
ou que se "ciciam" sempre com a mesma periodicidade. Sem ter estado
entre os Murngin, é possível afirmar que a verdade se encontra no meio
do caminho entre estes dois postulados. Nenhum observador parece sus-
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