Claude Lévi-Strauss - As estruturas elementares do parentesco (1982, Editora Vozes) - libgen.lc

(Flamarion) #1

I


Lathong propriamente ditos, governados pelo segundo irmão, e o dos
Lathong Lasés, governados pelo sétimo. Além disso, os Nkhum são redu·
zidos a um único grupo, pelo fato do quarto irmão ser atribuido a um
novo grupo, os Sasen, onde facilmente se reconheceria os Sassan que
George H. considera como descendentes de um dos cinco grupos princi-
pais, provavelmente os Lathong ou os Nkhum. Mas, acrescenta Wehrli, é
certo que os Sassan são fortemente misturados com os Maripe. Quanto
aos Lathong-Iasés, formam provavelmente um dos numerosos ramos que
são assinalados para esse grupo. '"
Estas concordâncias. assim como as diferenças, sugerem que o tema
mitológico primitivo foi objeto de numerosas manipulações, segundo os
grupos e as regiões, para harmonizá·lo com o aspecto geral da distribuição
das famílias, no território onde cada versão foi recolhida. Nada parece
pois mais incerto do que a utilização de uma ou outra dessas verSÕes
para reconstruir um sistema ao mesmo tempo geral e primitivo. Colo·
eando-se no ponto de vista de Granet, que é procurar os eventuais pro-
tótipos de um sistema arcaico, a versão dos nove irmãos seria incompa-
ravelmente a mais sedutora. Porque é dificil não aproximar o tríplice
casamento de que se originaram, na versão de Gilhodes, do tríplice casa·
mento do senhor feudal chinês, onde figuram ao todo nove mulheres.
Esta aproximação ganha ainda maior força quando se pensa que os
Katchin excedem largamente a fronteira do Yunnan precisamente na
região onde, entre as tribos não·chinesas, este tipo de casamento subsis·
tia ainda no século XVII." Enfim, as ocorrências repetidas do número
nove na versão de Gilhodes, sobre as quais já chamamos a atenção. re-
forçam a opinião que o total dos nove irmãos representa a forma mais
antiga.
Mas é preciso sobretudo compreender que a fórmula dos casamentos
entre os grupos principais constitui apenas um caso partiCUlar de uma
fórmula mais geral, que parece funcionar em todos os níveis da realidade
social. Já citamos os textos que estabelecem a regra da distribuição em
mayu-ni e dama ni, não somente para as cinco .. tribos", como as chama
a maioria dos autores, mas para as unidades menores, subgrupos e famí-
lias, entre as quais se subdividem. Assim é que Gilhodes dá o exemplo
de um ciclo ternário entre Chyamma, Kawlu e Latsin, Co, que são, segundo
ele, familias da aldeia de Matau, sobre as quais não indica que pertençam
a um círculo mais geral. Mas os nomes são provavelmente o equivalente
de sing chinês, isto é, nomes de clãs. Temos, aliás, sobre este ponto
indicações mais precisas. Entre a gente do povo que, diz Wehrli seguindo
informadores tão respeitáveis quanto George e Parker, só tem nomes
de clãs, os portadores do mesmo nome clânico não podem contrair ma-
trimônio. E acrescenta: "Em certas tribos os clãs são unidos mediante
regras especiais de aliança (connubium). E entre os szi·lepai, George enu·
mera os seguintes clãs: malang, laban, thaw shi, hpau hpau, yan mislu,
sin hang, que podem casar·se com mulheres do clã chumlut. Este recebe
suas mulheres de vários outros clãs: num taw, tum maw, jang maw,


  1. 1891, citado por Wehrli, p. 15.
    50. Wehrli, p. 15-16. [Leach fez uma síntese de todas as versões do mito da origem,
    à qual convém recorrer (Leach. 1954, p. 268-278)].

  2. Ver adiante, capo XXI.

  3. Gilhodes, op. cit., p. 207.


298

Free download pdf