de ordem numérica. Quase todas as sociedades dotadas de um sistema
Crow-Omaha foram pouco numerosas. Os exemplos norte-americanos, me-
lhor estudados, correspondem a população de menos de 5.000 individuos.
Por conseguinte, em cada geração os tipos de casamento efetivamente
celebrados não podiam representar senão uma proporção irrisória dos
tipos possiveis. O resultado é que num sistema Crow-Omaha os tipos de
casamentos não se realizam somente de maneira aleatória, levando em
conta apenas as linhagens proibidas. Entra em ação um acaso à segunda
potência, que escolhe, entre todos os tipos de casamentos virtualmente
possíveis, o pequeno número daqueles que se tornarão atuais e que de-
finirão, para as gerações que deles nasceram, um outro conjunto de es-
colhas possíveis, condenadas a ficarem virtuais por sua vez em larga
maioria. Afinal de contas, uma nomenclatura muito rigida e regras ne-
gativas que operam mecanicamente combinam-se com dois tipos de acaso,
um distributivo e outro seletivo, para criar uma rede de alianças cujas
propriedades ignoramos. Esta rede de alianças provavelmente não é di-
ferente daquela que é gerada pelas nomenclaturas do tipo chamado "Ha-
vaiano", que contudo dá prioridade aos níveis de geração sobre as li-
nhagens, e que definem os impedimentos ao casamento levando em
consideração mais os graus individuais de parentesco do que estabele-
cendo proibições para classes interinas. A diferença em relação aos sis-
temas Crow-Omaha provém de que os "sistemas havaianos" justapõem
três técnicas heterogêneas, caracterizadas pelo emprego de uma nomen-
clatura restrita, cuja fluidez é corrigida por uma determinação mais exa-
ta dos graus proibidos, e por uma distribuição aleatória das alianças
garantida por impedimentos que se estendem até o quarto grau cola-
teral, e às vezes mesmo além, ao passo que os sistemas Crow-Omaha,
que recorrem às mesmas técnicas. sabem dar-lhes uma expressão mais
sistemática, integrando-as em um corpo de regras solidárias, que deveriam
permitir melhor fazer a teoria desses jogos. Até que nasça essa teoria
com a ajuda dos matemáticos, sem os quais nada é possível, os estu-
dos do parentesco marcarão passo, apesar das engenhosas tentativas sur-
gidas nos últimos dez anos, às quais porém, repelidas para a análise
empírica ou para o formalismo, ignoram igualmente que a nomenclatura
do parentesco e as regras do casamento são os aspectos complementares
de um sistema de trocas, por meio do qual se estabelece a reciprocidade,
que é mantida entre as unidades constitutivas do grupo.
Paris, 23 de fevereiro de 1966
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