moniais, onde o número dos tipos de casamento não tem medida comum
com os que acabam de ser citados. A primeira vista estes parecem ter
mais relação com a situação que é possível esperar encontrar em certos
setores das sociedades contemporâneas, caracterizadas por forte coeficien·
te de endogamia. Se as pesquisas nesse sentido confirmarem a aproxi·
mação, do ponto de vista exclusivamente numérico, os sistemas Crow-
Omaha formariam, conforme supusemos, uma ponte entre as estruturas
de parentesco elementares e as estruturas complexas.
Por sua extensão os recursos combinatórios dos sistemas Crow-Omaha
lembram também os jogos complicados como os de cartas, o de damas
e o xadrez, nos quais o número das possíveis combinações, teoricamente
finito, é tão elevado que, para todos os fins úteis e colocando-se na es-
cala humana, tudo se passa como se fosse ilimitado. Em princípio, estes
jogos são indiferentes à história, porque as mesmas configurações sin-
crônicas (nas distribuições) ou diacrônicas (no desenrolar das partidas),
pOderiam reaparecer, mesmo que fosse depois de milhares ou milhões
de milênios, desde que os jogadores imaginários se dedicassem a eles
p'or um tempo suficientemente longo. Entretanto, tais jogos permanecem
praticamente imersos no devenir, conforme se vê pelo fato de se escre-
verem obras sobre a história da estratégia do xadrez. Embora virtual-
mente presente a todo instante, o conjunto das possíveis combinações
é demasiado grande para poder atualizar-se, a não ser graças a um tem-
po prolongado e somente por fragmentos. Da mesma maneira, os siste-
mas Crow-Omaha servem de ilustração do compromisso entre a periodi-
cidade das estruturas elementares e seu próprio determinismo, que depen-
de da probabilidade. Os recursos combinatórios são tão vastos que as
escolhas individuais conservam sempre, inerente à estrutura, uma certa
margem. O uso consciente ou inconsciente que dela é feito poderia mes-
mo desviar a estrutura, se revelasse, conforme sugerem algumas indica-
ções, que esta margem de liberdade varia de acordo com a composição
dos vetores que definem o lugar de cada indivíduo no sistema. Seria
preciso dizer então que, com os sistemas Crow-Omaha, a história penetra
nas estruturas elementares, embora tudo se passe como se a missão de-
les fosse anular seus efeitos.
Infelizmente, não se sabe como proceder para medir esta margem
de liberdade e os limiares entre os quais é capaz de oscilar. Em razão
do número muito elevado das combinações, deveríamos recorrer a si-
mulações em máquinas. Mas para isso seria necessário determinar um
estado inicial, a fim de começar as operações. Ora, arriscamo-nos a cair
prisioneiros de um círculo, porque, no sistema Crow-Omaha, o estado dos
casamentos possíveis ou proibidos é a todo instante função dos casa-
mentos realizados durante as gerações precedentes. Para determinar um
estado inicial que tivesse a certeza de não violar nenhuma regra do sis-
tema, não haveria outra saída senão o regresso ao infinito. A menos que
se fizesse a convenção de que, apesar da aparência aleatória, o sistema
Crow-Omaha produz retornos periódicos, de modo que, partindo de um
estado inicial qualquer, após algumas gerações uma estrutura de deter-
minado tipo deveria necessariamente predominar.
Porém, mesmo na hipótese dos dados empíricos permitirem verificar
a posteriori que as coisas se passam dessa maneira, o problema não
estaria resolvido. Com efeito, é preciso levar em conta uma dificuldade
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