Claude Lévi-Strauss - As estruturas elementares do parentesco (1982, Editora Vozes) - libgen.lc

(Flamarion) #1

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primeiro milênio antes da era cristã até os tempos atuais, esta regra
foi vigorosamente sancionada pela lei"." Por outro lado, Creel, citado
por Hsu, '" sugere que se desconhecemos tudo a respeito da organização
da família antes dos Shang, por outro lado parece que Chang e Chou
representam culturas inteiramente diferentes." A família agnática (chung
ta) não existe entre os Shang, pois o irmão sucedia ao irmão, os membros
da geração do pai eram todos "pais", e os da geração do avô eram todos
"avós" (chu). A familia agnática aparece assim subitamente com os Chou.
Talvez seja preciso estabelecer uma relação entre estas indicações e a
observação de Creel," segundo a qual o grupamento por cinco, tão fre-
qüente no período Chou tardio, falta completamente na literatura mais
antiga.
Tudo isto levanta problemas. Conforme vimos, o sistema chinês evo·
luiu, segundo Granet, a partir da estrita regulamentação c\ânica, que dava
lugar a uma liberdade progreSSivamente estabelecida pela passagem à
família agnática. Os fatos históricos sugerem realmente uma passagem
(não progressiva, mas brusca) à família agnática, mas também a substi·
tuição da liberdade relativa por uma rigorosa regulamentação. Não se
vê jamais claramente, na obra de Granet, a que períodO se aplica a se-
qüência sistema de quatro classes - sistema de oito classes - época
moderna. Se esta seqüência é contínua não corresponde aos fatos. Por
outro lado, a regra das cinco gerações deve aparecer em conexão com o
sistema de oito classes, e por conseguinte este deveria ser contemporâneo
dos períodos Hsia e Shang, ou mesmo anterior, o que lançaria o sistema
de quatro Classes em um passado fabuloso, do qual os próprios Hsia
ainda fazem parte." Seria preciso, portanto, admitir, primeiramente uma
seqüência de quatro classes - oito classes - liberdade relativa (com o
limite das cinco gerações) - retorno à exogamia de clã rigorosa (por in·
fluência da reforma de Confúcio) - e evolução direta para o regime mo·
demo de liberdade, o que constitui um quadro infinitamente mais complexo
que o postulado por Granet. Seria preciso, em seguida, aceitar a hipótese
que o sistema do Ehr Ya e do I Li comprovam uma evolução que teria se
produzido vários milênios antes destas obras terem sido escritas, e que
estágios diferentes desta evolução - separadOS por intervalos de tempo
muito consideráveis - tenha perdurado nessas obras, em forma de ves·
tígios e se apresentem nelas no mesmo plano. É verdade que Fêng con·
sidera que "é muito duvidoso que os Hsia e os Yin tenham praticado
a exogamia em qualquer forma". 31 Mas esta ressalva s6 faz aumentar a
obscuridade do quadro.

Para coroar esta situação desencorajadora é preciso introduzir a ques·
tão da ordem tchao mau, que, segundo Granet, teria conservado até a


  1. Fêng, p. 175.

  2. Hsu, op. cit., p. 360.

  3. Cf. H. G. Creel, Studies in Early Chinese Culture, Irst Series. American Councll
    01 Learned Societies. Studies in Chinese and Related CiviU-zations, n. 3, Baltimore



  4. Creel, op. cit., p. 97, n. 2. O rei Shang oferece o sacrlficio a "seus múltiplos
    pais". o que sugere a identificação de todos os homens da linhagem com a geração
    do pai (Creel, The Birth of China, Nova Iorque 1937, p. 128>-

  5. Creel, op. cito

  6. Fêng, op. cit., p. 175, n. 14.


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