Claude Lévi-Strauss - As estruturas elementares do parentesco (1982, Editora Vozes) - libgen.lc

(Flamarion) #1

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a irmã de minha mãe e a mulher do irmão de meu pai. Glfford observa:
"O fato do termo anisü refletir o casamento com a filha do irmão da
mulher é uma indicação da antiguidade do costume".·
Outras extensões sugerem a mesma conclusão. São wOkli, para irmão
e irmã da mulher, e para filho e filha do irmão da mulher. O recíproco
de wOkli, kawu, para o marido da irmã e para o marido da irmã do pai.
O mesmo costume reflete-se, com efeito, na extensão de doze termos:
anisü, aiísi, kaka, kawu, kole, tupuba, tatci, tete, tune, tcale, üpsa, wokli.
Toda a terminologia dos primos cruzados, que compreende seis termos
(ou seja, dois para o filho e a filha do irmão da mãe e quatro para o
filho e a filha da irmã do pai, sendo estes termos especializados em
função do sexo de quem fal,,), "parece ser inteiramente fundada neste
tipo de casamento". t
O fato do tipo preferido de casamento ser o que é feito entre aiísi
e anisü implica que, pelo menos em alguns casos, um homem pOde casar-se
com a filha do irmão de sua mãe, tendo sido recolhidos por Gifford
vários exempl(jS deste tipo de casamento.' Mas, em caso algum um ho-
mem pode casar-se com sua prima lupuba, isto é, com a filha da irmã
do pai. Seja qual for a popularidade do primeiro tipo de casamento,
segundo Gifford, não se expressaria por nenhuma extensão terminológica.
No máximo, encontra-se a proibição da conversa entre um homem e a
mulher· do irmão de sua mãe, o que sugere sua assimilação à sogra, sem-
pre afetada por um tabu na Califórnia. Mas, se fizermos a oposição entre
as doze asSimilações terminOlógicas explicáveis pelo casamento com a
filha do irmão da mulher e a completa ausência de particularidades da
nomenclatura referentes ao casamento com a prima cruzada matrilateral,
devemos concluir que l'a prime"ira forma de casamento é a mais antiga
das duas".· Qual é então "a chave do mistério do casamento Miwok
com uma prima cruzada unilateral?" É que um homem renuncia even-
tualmente, em favor de seu filho, à filha do irmão de sua mulher, que
é, ao mesmo tempo, a prima matrilateral desse mesmo filho. O casa-
mento com a prima cruzada seria, portanto, apenas, uma forma recente
e secundária, originária de outra forma de casamento preferencial, fun·
dada sobre a dependência com relação à mesma linhagem patrilinear, e
por essa razão não teria tido ainda tempo de se refletir na terminologia. '
Gifford conclui: "Se o casamento Miwok com a prima cruzada matrila·
teral tivesse outra origem diferente da que acabamos de propor, seria
dificil compreender a razão pela qual se restringiria a um único par de
primos cruzados. Esta própria restrição reforça a teoria segundo a qual
esse casamento seria originário da transmissão de um privilégiO em linha
paterna". Esta interpretação foi mantida por Kroeber. "Os homens Mi·
wok casam·se com as filhas do irmão da mãe, mas Gifford mostrou
de maneira muito convincente que a primitiva forma de casamento é a de
um homem com a filha do irmão de sua mulher, dado o fato de doze
termos de parentesco Miwok comprovarem este tipo de casamento e
nenhum com a prima cruzada".· Este autor, além disso, esforçou-se por


  1. Idem, p. 186. 4. Idem, p. 187.

  2. Idem, p. 189. 6. Idem, p. 191.

  3. Idem, p. 193.

  4. A. L. Kroeber, California Kinship Systems, Universily 01 California Publications
    in American Archaeology and Elhll01ogV. voI. 12. 1917. p. 357.


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