I
pai do pai, pai do pai, pai, filho, filho do filho, etc., há portanto uma
seqtiência de mulheres, irmã do pai do pai do pai, irmã do pai do pai,
irmã do pai, irmã do filho, etc., de outra linhagem, e o connubium faz-se
entre as linhagens consideradas como uma totalidade. Em tal sistema a
confusão das gerações é imediatamente dada. De um lado, os "genros", de
outro, os "sogros", De um lado, as "noras", de outro, as "esposas", Por
conseguinte, o que se trata de explicar não é a razão pela qual as gera.
ções são confundidas pela terminologia, mas a razão pela qual, em certa
medida, desigual segundo os sistemas, se distinguem. O sistema, consi.
derado enquanto tal, limita-se a colocar todas as mulheres da linhagem
dos sogros na mesma perspectiva. O fato de um homem da linhagem
dos genros pretender uma qualquer das mulheres da linhagem dos sogros
(classe das avós, madrastas, primas, ou sobrinhas da mulher> ou uma
mulher determinada indica um sistema mais ou menos racional. Se pre-
tende uma única mulher ou várias, isso indica um sistema mais ou menos
racional, sendo preciso fazer apelo aqui, não apenas à estrutura geral
do parentesco, mas a toda a organização social do grupo considerado.
Na medida em que o indivíduo pretende ser completamente representativo
de sua linguagem, isto é, em um regime feudal, utilizará de preferência,
para uso pessoal, a reivindicação global que existe, de fato, em favor desta
linhagem. Foi isso que Granet, incomparável analista do espírito feudal,
compreendeu admiravelmente ao interpretar os casamentos "oblíquos"
como manifestação do espírito de exagero dos sentimentos ou das atitu-
des ... ; Mas,' mesmo em uma sociedade mais primitiva e mais razoável
(ao mesmo ·tempo, sem dúvida, mais racional), onde uma estrutura global
de parentescô formalmente análoga não admite, ao que parece, o casa-
mento com a filha do irmão da mulher (mas somente com a filha do
irmão da mãe). isto é, entre os Gilyak, a primeira recebe, contudo, o
mesmo nome que a noiva. 3~
Ora, estas linhagens patrilineares, inteiramente inspiradas pelo es-
pírito feudal, empenhadas encarniçadamente em lutas de prestigio nas
quais o açambarcamento das mulheres devia desempenhar um papel não
desprezível, e que Granet evocou tão magnificamente nas Danses et Le-
gendes, deixam entrever suas rivalidades desde a fase mais arcaica da
história chinesa, isto é, desde os Shang. Tentamos em outro lugar lembrar
a estrutura social dos Shang partindo de certas características de sua
arte, 3T e é precisamente nesse tipo de sociedade que teríamos podido
concluir. O fato de, entre os Shang, o irmão, ao que parece, ser herdeiro
do irmão, corresponde a um regime no qual a solidariedade da linhagem
não deixava ainda nenhum lugar à família agnática, introduzida pelos
Chou_
Somos, portanto, levados à hipótese da coexistência na China arcaica
de dois sistemas de parentesco, um, de prática camponesa, fundado sobre
uma divisão real ou funcional em metades exogãmicas. na troca das irmãs
- M. Granet, Catégories, p. 70-74 e 130-133.
- Cf. capo XVIII.
- Le Dédoublement de la représentation dans les arts de l'Asie et de l'Amérique.
Renaissance, 1945.
414