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leria a dizer que a sociedade inteira se difundiu, o que resultaria somente
em deslocar o problema.
Mas, sobretudo, no caso que nos ocupa, a interpretação dlfusionista
só pode ser artificial. Não leva em conta dois fatos essenciais. A troca
generalizada em forma simples (casamento com a filha do Irmão da mãe)
existe, ainda hoje, em numerosas regiões da China como uma instituição
viva, demasiado importante para que se possa falar dela como sendo um
vestígio. Inversamente, mesmo nas formas mais simples de troca gene-
ralizada, os sistemas Katchin, KUki, Gilyak, encontramos certas particula·
ridades cuja recorrência pareceu·nos demasiado regular para se explica-
rem como anomalias ou vestígios. Nessas particularidades (pa)lel do tio
matemo da noiva, e às vezes da tia paterna do noivo), compreendidas
por todos os autores, de Sternberg a Mills, como sobrevivência de filiação
matrilinear, percebemos o sinal da presença no próprio âmbito da troca
generalizada de noções embrionárias mas persistentes, ligadas a uma rea-
lidade de outra ordem.
A interpretação histórico-geográfica seria pois demasiado simplista.
Sem dúvida, de todos os sistemas considerados o chinês é o mais evo-
luído, mas tal acontece porque a sociedade chinesa é ela própria a mais
evoluída de quantas ocupam a porção oriental da Ásia. Contudo, o sistema
chinês conservou, em forma muito pura, a fórmula da troca generalizada,
que, propriamente falando, nunca ultrapassou. Da mesma maneira, não
se pode dizer que os sistemas Kuki, Katchin ou Gilyak não tenham sido
ainda atingidos pela onda da troca restrita, porque trazem em seu In-
terior o germe da troca. restrita, e este deve desenvolver-se espontanea-
mente, fora' de qualquer influência exterior. Os três tipos de sistemas de
parentesco que encontramos: o tipo Katchin-Gilyak, com troca generali-
zada, o tipo Mandchu-Naga, com mistura de troca generalizada e troca
restrita, o tipo chinês do Ehr Ya, com troca restrita, parecem portanto
três modalidades de uma mesma estrutura mais do que três etapas de
uma mesma migração cultural. Na forma que consideramos mais simples
encontramos presentes todos os caracteres cujo desenvolvimento só se
produzirá ulteriormente.
Levanta-se então uma questão de considerável interesse teórico .. Até
agora consideramos a troca restrita generalizada como tipos especificos,
representativos de formas de casamento e de sistemas de parentesco
heterogêneos. A análise dos sistemas Murngin e a terrível complicação
encontrada por uma cultura que tentou, precisamente, fazer coincidir
as fórmulas da troca restrita com as da troca generalizada, só podiam
nos confirmar nesta maneira de ver.
Ora, presentemente, fazemos uma verificação diferente. Tornou-se vi-
sível que a troca restrita podia suceder à troca generalizada, ou pelO
menos coexistir com ela, como resultado de um desenvolvimento autô-
nomo. Ainda mais, falamos de "fórmula simples" da troca generalizada.
E os sistemas KUki, Katchin, Gilyak são, com efeito, deste ponto de vista,
sistemas simples. Mas estes sistemas simples não chegam entretanto nunca
a nos apresentar uma fórmula absolutamente pura. Neles mistura-se sem-
pre alguma coisa estranha. Qual é este elemento extrínseco? Sabemos
que, quando se desenvolve, atua como fator de troca restrita ou, em todo
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