guinte, recuperando uma mulher para um de seus filhos, e, de outro lado,
porque um arranjo deste gênero evita a obrigação de pagar o preço muito
elevado da noiva, exigido quando se toma mulher em uma família não
aliada". Estes casamentos chamam·se gudapal, ou casamento "do leite da
tribo".' É curioso, nestas condições, que o casamento mais freqüente seja,
não com a filha do irmão da mãe, mas com a filha da irmã do pai,
"embora o sistema tenha sido estendido ao primeiro tipo de casamento,
que se reduz simplesmente a tomar uma mulher da mesma família du-
rante duas gerações consecutivas".' Uma fórmula, na aparência de acordo
com a troca generalizada, funciona portanto em sentido contrário ao que
é exigido pela teoria. São contradições aparentes desta natureza que fazem
da índia, conforme se verá na continuação, um caso privilegiado para o
estudo da solução das dificuldades do mesmo tipo, porém menos pro-
nunciadas, que assinalamos no fim do capítulo anterior.
O sistema encontrado nas fronteiras ocidentais parece ser mais sim-
ples. Se um homem dispõe de uma irmã, tia, sobrinha ou prima para
trocar, evita pagar o preço de seu próprio casamento. Estaríamos, por-
tanto, em presença de um sistema de troca restrita. Mas, como se vê
freqüentemente uma longa cadeia de trocas entrarem em ação, onde jf A
dá a B, que dá a C, que dá a D, que dá a A",' é na verdade um sistema
de troca generalizada que deve constituir-se.
Mas, conforme foi indicado no que se refere aos Gond, e como aliás
se depreende da análise de seu sistema de parentesco," parcialmente orien-
tado para a troca restrita e parcialmente para a troca generalizada, en-
contramos na realidade, como entre os Naga e os TUngu, uma mistura
intima das' duas fórmulas. Tal como nesses sistemas, a índia oferece
também ao· Pesquisador uma espécie de hierarquia de grupamentos, uns
endógamos, outros exógamos. Lembramo-nos que entre Os Angami Naga,
por exemplo, a função exogâmica desloca-se progressivamente do kelhu
para o thino e do thino para a putsa. ,.. Os Mandchu apresentam uma
configuração análoga, com o sistema do hala, do gargan e do mokun. Os
kelhu, assim os hala, eram outrora organizações exógamas, o thino ainda
é, mas mitigada. Parece que o gargan Mandchu não é mais, e que o pró-
prio mokun só consegue conservar a função durante o período efêmero
de cinco gerações." Estas estruturas manifestam uma notável simetria
com o sistema indiano das castas endógamas (das quais se sabe que
foram outrora exógamas), dos gotra, que recentemente - mas rigorosa-
mente - tornaram-se exógamos, e dos grupos sapinda que, como os
- Ibid., p. 247.
- Loc. cito Unicamente o casamento com a filha da irmã do pai está cate-
goricamente decumentado por C. Hayavadana Rao (The Gonds of the Eastern Ghauts.
Anthropos, voI. 5, 1910, p. 791-797). - Maj. A. J. O'Brien, Some Matrimonial Problems of the Western Border of
India. Folklore, vol. 22, 1911, p. 433. - Grigson, op. cit., p. 308-309. - O interesse excepcional dos gondes consiste
em que parecem ter conservado vestígios de uma cultura arcaica. Têm em comum
com os nagas não somente alguns traços do sistema de parentesco mas também
a Casa dos Homens (Hodson, The Primitive Culture 0/ India, op. cit., p. 57-58).
Participam deste último traço juntamente com os oraons, os maleres (id.), os kondhes
e os kurumbas (id., cf. E. Thurston, Castes and Tribes 0/ Southern India, 7 vols.
Madras 1909, na parte referente a estes dois últimos nomes). Segundo Hutton (Caste
in India, p. 22) os maria gondes apresentariam afinidades mongolóides. Ver tam·
bém <id., p. 24-27) o paralelO entre as culturas do Assam e de' Orissa. - Cf. capo XVII.
- Cf. capo XXIII.
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