Claude Lévi-Strauss - As estruturas elementares do parentesco (1982, Editora Vozes) - libgen.lc

(Flamarion) #1

patrilaterais de B. Noutras palavras, um primo bilateral não resulta da
soma de dois primos unilaterais, mas é um único indivíduo.
Se eSSES membros de um sistema de troca restrita inauguram a pre·
ferência por um certo tipo de primos, não tornam, com isso, o outro
tipo disponível, mas obrigam progressivamente todos os outros membros
do grupo a se conformarem com a sua escolha. A tendência de um sistema
de troca restrita para a assimetria não pode por conseguinte acarretar
nunca uma fissão, mas apenas a conversão, que se manifesta na generali-
zação do casamento preferencial com uma ou outra prima unilateral,
para o grupo considerado em conjunto. Esta análise, um tanto abstrusa,
conduz a uma importante conclusão, a saber, não é possível conceber a
fissão da troca restrita comO sendo produzida pela influência de fatores
mecânicos, e capaz de reduzir um grupo inclinado ao casamento bilateral
a dois grupos que praticam respectivamente as duas formas de casamento
unilateral. A fissão nunca é real. Só pOde ser ideológica. Se existe, não
seria no grupo, mas no espírito dos membros do grupo, e para um grupo
determinado deve atuar em um único sentido. A hipótese da fissão imo
pllca portanto: I'! que certos grupos de troca restrita tenham passado
ao casamento patrilateral e alguns outros ao casamento matrilateral; 2"
que esta passagem tenha se produzido em função de uma oposição lógica,
consciente ou inconscientemente concebida pelo espírito indígena, entre
os dois tipos de primas unilaterais. Nossa primeira hipótese reduz·se pois
a uma explicação, no tempo e no espaço, das relações teóricas nas quais·
se funda '!' !,egunda.


Esta posição do problema encontra confirmação nos fatos. Se as duas
modalidadeS unilaterais de casamento entre primos cruzados fossem re·
sultado automático da fissão da forma bilateral deveríamos esperar en·
contrá·las ambas com a mesma freqüência aproximadamente. Ora, não é
isso de modo algum o que acontece. Todos os especialistas da índia
acentuaram, ao contrário, que o casamento matrilateral era distintamente
mais freqüente que o casamento patrilateral. De que ordem é esta dife·
rença?
Tomemos, por exemplo, a tabulação das regras do casamento entre pri·
mos cruzados na índia, tal como foi compilada por Frazer.' Em um total
de dezesseis grupos, quatorze inclinam·se claramente para o casamento
com a prima matrilateral. São os Gowari, Agharia, Andhe, Bahna, Kaikari,
Karia, Kohli, Chandknahe, Kurmi, Mahare, Maratha, Chero, Iraqi, Kunjra.
Um grupo manifesta predileção pela filha do irmão do pai, os Gonde, ao
passo que outro grupo, os Golla, pratica as duas formas, acentuando,
entretanto, o casamento com a prima patrilateral.
No apêndice ao seu célebre artigo The Marriage 01 eousins in India, •
Rivers assinala o casamento com a filha do irmão da mãe como geral no
país Telugu, onde é conhecido pelo nome de menarikam, e em Malabar,
Cochin, Travancore, onde os próprios Brâmane o adotaram. Vários grupos
Brâmane dos países de lingua Telugu e Canari fizeram a mesma coisa.
Na presidência de Madrasta, a mesma forma de casamento existe entre
os Kinga Vellalla, os Kunnavan, os Kondhe e os Kallan, que praticam


  1. Frazer. op. cito

  2. Ibtd., p. 626ss.


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