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preenderia, então, um número desigual de homens e de mulheres, três
homens e uma mulher, no caso do casamento entre primos descendentes
de irmãos, e três mulheres e um homem, no caso do casamento entre
primos descendentes de irmãs. Por conseguinte, conforme estabelecemos
no capítulo IX, a estrutura de reciprocidade não poderia constituir-se. Mas
do fato de todo sistema de casamento entre primos cruzados permitir
a constituição de uma estrutura de reciprocidade não se segue que esses
sistemas sejam rigorosamente equivalentes e intercambjáveis. Sem dúvida,
são assim~ no caso da troca direta das filhas ou da troca direta das
irmãs, que: dá em resultado serem bilaterais todos os primos cruzados.
Mas deixam de sê-lo quando nos colocamos na hipótese do casamento
com uma ou outra prima unilateral.
Construamos os dois quartetos correspondentes ao casamento com a
filha do irmão da mãe e ao casamento com a filha da irmã do pai (fig. 84),
-+-
I I I I
=0 A= =0 11=
L J L J
A O O A
- Filha do irmão da mãe
I
Filha da irmã do pai
/I
Do ponto de vista puramente formal, o primeiro apresenta uma "estru-
tura melhor" que o segundo, no sentido dessa estrutura constituir o mais
completo desenvolvimento concebível do princípio de cruzamento, sobre o
qual repousa a própria noção de primo cruzado. Tudo se passa como se
uma virtude especial - cuja natureza foi aliás determinada por nós -
se ligasse, no casamento dos primos cruzados, ao que chamamos os pares
assimétricos, isto é, formados por um irmão e uma irmã, em posição aos
pares simétricos, formados respectivamente por dois irmãos ou duas irmãs.
O pensamento indígena conhece bem isso, porque freqüentemente dá um
nome espeqial ao conjunto único forrnado pelo irmão e pela irmã: "os
admiráveis" ["les tout-beaux". N. do T.] dizem os Wintu,' que lembram
imediatamente os neparii da Nova Caledônia, ou "conjunto sagrado", i os
tuaganes de Manua,' ou os veiwekanis de Fidji. "
Se ge,neralizarmos esta noção de par assimétrico, podemos dizer que
'. o quarteto construido sobre o casamento com a filha do irmão da mãe
é formado de quatro desses pares. Um irmão e uma irmã, um marido
e uma mulher, um pai e uma filha, uma mãe e um filho. Isto é, que, de
qualquer maneira que analisarmos a estrutura, os homens e as mulheres
apresentam-se regularmente alternados, como devem apresentar-se aqueles
- Filha do irmão da mãe
- D. Demetracopoulou Lee, The Plane of Kinship Terms in Wintu Speech. American
Anthropologist, vol. 42, 1940, p. 605. - M. Leenhardt, Notes d'Ethenologie ... , op. cit., p. 65.
- M. Mead, Social Organization of Manua. Bulletin 76, Bernice P. Bishop Museum,
1930, p. 41-42. - A. M. Hocart. Lau Island, Fiji, op. cit., p. 33-34.
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